domingo, 26 de setembro de 2010

Estudantes, Ativismo e Política


Já publicamos neste blog uma carta feita pelos ‘Estudantes por uma política de drogas sensata” (SSDP - Students for Sensible Drug Policy). É formidável pensar nos estudantes, especialmente aqueles do ensino médio, se organizando para alteraram a atual ineficiência da política de drogas orientada pela War on Drugs. Não apenas ineficiência, mas formulada a partir do desrespeito por direitos humanos básicos, o que nos leva apenas rumo ao totalitarismo. Ignora-se continuamente, na Guerra as drogas, direitos democráticos. Entre estes direitos humanos básicos, é mister lembrarmos da quinta liberdade, o direito de alteração do seu próprio sistema nervoso.
Pela consideração a democracia, mais uma vez vamos lembrar de estudantes célebres e inspirados, que procuram re-construir criativamente nossos atuais padrões de indiferença em relação ao sofrimento, a nossa apatia em relação a dominação, corrupção, crueldade que nos são expostas diariamente.
Com a declaração abaixo, apesar de não estarmos falando especificamente sobre substâncias psicoativas, ou política de drogas, nossa temática é extremamente entrelaçada a esta última. Trata-se de um manifesto de 1962, a famosa Declaração de Port Huron, assinada pelos Estudantes por uma Sociedade Democrática (Studants for a Democratic Society – SDS). Mais uma vez lembramos da importância dos estudantes na realização de políticas democráticas. Não é possível que os gremios estudantis, as organizações de estudantes, permaneçam no atual marasmo político e falta de criatividade.

Eis a declaração:

Nós somos pessoas desta geração, criados em conforto modesto, agora instalados nas universidades, olhando desconfortavelmente para o mundo que herdamos.
Quando éramos crianças os Estados Unidos (representavam) (...) liberdade e igualdade para cada indivíduo, governo de, pelo e para o povo – esses valores americanos nós considerávamos bons, princípios segundo os quais poderíamos viver como homens (...).
À medida que crescemos, porém, nosso conforto foi invadido por acontecimentos perturbadores demais para serem ignorados. Primeiramente, o fato disseminado e cruel da degradação humana, simbolizado pela luta do Sul contra a intolerância racial, levou a maioria de nós do silêncio para o ativismo. Depois, a Guerra Fria, simbolizada pela presença da Bomba, trouxe a consciência de que nós, e nossos amigos, e milhões de outros “abstratos” podemos morrer a qualquer momento (...).
Nós consideramos os homens infinitamente preciosos e dotados de capacidades não realizadas de razão, liberdade e amor. Ao afirmarmos esses princípios, estamos conscientes de sermos contrários às concepções dominantes do homem no século XX: de que ele é algo para ser manipulado, e que ele é inerentemente incapaz de conduzir seus próprios negócios. Nós nos opomos a despersonalização que reduz os seres humanos ao status de coisas.
Os homens tem um potencial não realizado para o aperfeiçoamento pessoal, para conduzir a si mesmos, para a compreensão pessoal e a criatividade. (...) O objetivo do homem e da sociedade deve ser a independência humana: uma preocupação não com a imagem ou com a popularidade, mas com encontrar um sentido na vida que seja pessoalmente autêntico, uma qualidade de mente não movida compulsivamente por uma sensação de impotência, não uma que irrefletidamente adote valores de status, não uma que reprima todas as ameaças a seus hábitos, mas uma que permita acesso pleno e espontâneo a experiências presentes e passadas, uma que facilmente junte os pedaços fragmentados da história pessoal, uma que enfrente abertamente problemas perturbadores e não-resolvidos; uma com uma consciência indutiva das possibilidades, uma curiosidade ativa, uma capacidade e um desejo de aprender.
(...) Solidão, estranhamento, isolamento descrevem a enorme distância que há hoje entre os homens. Essas tendências dominantes não podem ser superadas por uma melhor administração pessoal nem por aparelhos melhorados, mas apenas quando o amor do homem supere a adoração idólatra das coisas, pelo homem.
(...) Iremos substituir o poder baseado na posse, no privilégio ou na situação econômica pelo poder e pela singularidade baseados no amor, na reflexão, na razão e na criatividade.

Continua a polêmica em torno da cannabis

Uma longa discussão em São Paulo foi estabelecida entre pelos menos três polos: 1) Dos cientístas que procuram a regulamentação de uma Agencia brasileira para o estudo da maconha medicinal; 2) Do proibicionista Ronaldo Laranjeira e seus devotos e 3) De ativistas antiproibicionistas e cientístias sociais e naturais pró legalização ou que visassem desfazer a mistificação Laranjeiriana.

As discussões foram registradas no site do coletivo Desentorpecendo A Razão (DAR) e a polêmica continua com um atual artigo saído no NEIP (Núcleo de Estudos Interdisciplinar sobre Psicoativos). Não vou me alongar, a polêmica vale a pena ser lida e comentada. Segue abaixo o último post no site do DAR.

Artigo sobre conflito acerca da maconha medicinal obriga Neip e prestar esclarecimento

Com preocupações estritamente farmacológicas, evitando tomar partido no conflito acerca da criação da agência brasileira de pesquisa e regulamentação de maconha medicinal, Rafael Guimarães dos Santos, doutorando em farmacologia e membro do Neip(Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos), publica artigo que foge da questão central e despolitiza o debate entre proibicionistas e antiproibicionistas.  Neip presta esclarecimentos em nota pública, colocando que Rafael não reflete a opinião do Núcleo.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Estréia de Cortina de Fumaça no Festival do Rio


Estréia semana que vem o Cortina da Fumaça no Festival do Rio 2010. Agradeço o envio da imagem a Manu, novamente ajudando a manter as informações atualizadas.

Vamos as exibições:

Sexta-feira dia 24/09 - Sessão de Gala - as 00:00h no Odeon - Cinelandia
Sábado dia 25/09 - Sessões 17:50 e 22:10h na Estação Vivo Gávea 3 - Shoping da Gávea
Quarta-feira dia 29/09 - Sessão 14:00 - Ponto Cine - Guadalupe
Sábado 02/10 - Sessão 21:00 - Nosso Cinema - Centro da Cidade

Abraços Enteogenicos.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Nossos passos

O blog vinha num bom rítimo no início desse mês, mas, infelizmente fui pego por mais uma amidalite das brabas e o espaço está meio parado.

Em breve, espero que possamos aumentar as discussões. Hoje às 10:00 em ponto tem no Hempadão o "Portas da Percepção" que, também pela doença, não consegui deixar mais estilizado o texto, mas, certamente é informativo.

Abraços pessoal.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Drogas e eleições 2010 terá transmissão ao vivo pelo Growroom

ESTÁ CONFIRMADA A TRANSMISSÃO AO VIVO DO EVENTO NO SITE DO GROWROOM



domingo, 12 de setembro de 2010

Moody Blues - Legend of a Mind



A sensacional banda Moody Blues canta uma música sobre Tim Leary. Abaixo o video da música e a letra.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Estados Não-Ordinários de Consciência - Stanislav Grof

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Estréia no Hempadão

Salve!

Hoje, 9 de setembro, as 22:00, estreou a coluna "Portas da Percepção" no blog Hempadão, já velho conhecido aqui do Enteogenico. Eu estarei escrevendo semanalmente no Hempadão sobre enteógenos e cultura enteogênica. Confiram lá que o primeiro post já saiu: AQUI

O Enteogenico será mantido e estamos procurando novas pessoas para escreverem neste espaço sobre enteógenos, psiquedélicos, redução de danos, política de drogas, visando renovar os ares do enteogenico e evoluir o blog.


quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Psilocibina no tratamento da ansiedade


Cada vez mais estudos científicos tem se dedicado ao estudo dos enteógenos na procura de remédios para sintomas ou síndromes psiquiátricas. Tais estudos são importantes, na medida em que, considerando as características dos enteógenos, eles provavelmente podem ser muito relevantes para a construção de remédios sintéticos que no futuro possam ser mais eficazes e com menos efeitos colaterais para diminuir o sofrimento humano. Por outro lado, sabemos que nenhuma chamada “patologia psíquica” é originada unicamente de condições biológicas, por isso os estudos da ciência clássica também encontram limitações e barreiras para o estudo dos enteógenos. O que tem acontecido em muitos lugares é interessante, pois parece uma mistura entre ciência clássica e ciência nova, estudos com rigor experimental, mas que ao mesmo tempo reconhecem o papel das experiências de pico na transformação do sujeito como um todo.

Abaixo vai um estudo que saiu na CNN Health.com 

Ingrediente “Cogumelos Mágicos” pode reduzir ansiedade do fim da vida


Tradução: Fernando Beserra

Pacientes com câncer terminal lutando com a ansiedade podem ter alívio de uma “viagem” guiada com a droga alucinógena psilocibina, sugere um novo estudo.

O estudo incluiu 12 pacientes que tomaram uma pequena dose de psilocibina – o princípio ativo em “cogumelos mágicos” – enquanto sob supervisão de terapeutas treinados. Em uma sessão separada os participantes tomaram uma pílula placebo, que tem pequeno efeito em seus sintomas.
 
Por contraste, um a três meses depois de tomar psilocibina os pacientes reportaram sentir menos ansiedade e seus estados de humor haviam melhorado. Na marca de seis meses o escore médio do grupo em uma escala comum usada para mensurar depressão declinou 30%, de acordo com o estudo, que foi publicado nos Arquivos Gerais de Psiquiatria.



terça-feira, 7 de setembro de 2010

Inscrições Abertas para o I FENACUCA – Festival Nacional da Cultura Canábica!

Diretamente do Hempadão

Vamos mais uma vez fazer barulho e fumaça de informação e cultura através da internet? Criatividade satívica na ponta do lápis porque a arte transborda em cada percepção atenuada pela erva. A cultura da cannabis e sua vastidão é o nosso objeto desde sempre. Agora vamos produzir junto com vocês, leitores e colaboradores do blog, um coletivo artístico de representação cultural. Estão todos convidados para participar do FENACUCA – o I Festival Nacional da Cultura Canábica!
 

Porque Festival? Porque esse nome remete a momentos em que a arte é utilizada como propósito de revolução. Os vencedores evidentemente terão mérito e prêmio, mas o maior valor de um Festival é a participação e marca de cada ativista cultural, com seu traço e sua representação. As inscrições estão abertas desde já! Participe ou ajude-nos a divulgar e produzir o Festival. 

domingo, 5 de setembro de 2010

PSICONÁUTICA CATÓLICA

Mais um excelente texto do Jonathan Ott. E, também, mais uma tradução duvidosa, mas, no final das contas, ajuda. Quem quiser ler o original basta entrar no Onirógenos. Este texto foi escrito para a revista Cañamo. Lembrando aos leitores que ainda procuramos pessoas interessadas em escrever no Enteogenico, caso alguem tenha vontade entre em contato em: fernando.beserra@hotmail.com. Vamos ao Ott, sempre afiado e introduzindo novos termos.

Jonathan Ott - do site Onirogenia

PSICONÁUTICA CATÓLICA

Tradução: Fernando Beserra

Apresentamos, com este artigo, uma nova seção que vai tratar, no sentido mais amplo, sobre a alteração da consciência por meio de substâncias psicoativas. O autor destas reflexões Jonathan Ott é bem conhecido entre os nossos leitores, como psiconauta, investigador e, naturalmente, autor de "ottiano” e magno Pharmacotheon.

Bem vindo ao psicocosmos, querido leitor. Sou psiconauta pertinaz, um curioso pertinente do olho incorpóreo católico, um prosista do périplo. Peregrino, pendente da perícia psicopática. Também neólogo inveterado, mas isso é outra história, aliás, aqui não se trata de neologismos meus.

Psiconautas (Psychonaut) se intitula um capítulo da obra magna, naturalmente psiconáutica Annäerunge: Drogen und Rausch (Acercamientos: Drogas y ebriedad, ainda por sair em castelhano: Ernest Klett Verlag, Stuttgart, 1970, p. 430) de Ernest Juger, na penúltima página (501) na qual aparece também psicocosmos (Psychokosmos), sendo este o universo circunavegado pelo psiconauta, com ou sem um leme, para não dizer um rumo.


Quanto a psicopática, este é um anglicismo (Psychoptic), que acabo de introduzir no mundo de língua castelhano se não já o utilizei em “Pharmacophilia ou paraísos naturais” (Phantastica, Barcelona, 1998), um detalhe que me lembro. Devo dizer que foi um neologismo inglês em 1744, mas agora está nos dicionários, pelo menos no Oxford English Dictionary (OED), definido como “o que produz visão da mente ou a alma” e não deve ser confundida com psicoóptica (Psychooptic), cujo significado é mais fisiológico: “o pertinente a percepção mental da visão”.

Psicóptico me parece a palavra idônea para descrever as visões em sentido estrito, a percepção pelo olho desencarnado (ou bem interior ou, segundo alguns, exterior) do psionauta divagando pelo psicocosmos. Devemos ir em socorro a neologia para dar voz a percepção psiconáutica de caráter auditivo, psicauricular (Inglês: psychaural) e, por sua vez, psicolfativo, psicogustativo, psicotatil (psychofalctory, psychogustatory, psychotactile). De fato, como expressou poeticamente o meu falecido mestre R. G. Wasson: “O hongueado [alguem após uso de algum cogumelo psilocíbico] fica suspendido no espaço, como um olho desencarnado, invisível, incorpóreo, vendo sem ser visto. Na realidade, os cinco sentidos incorpóreos, todos sintonizados no mais alto registro da sensibilidade e atenção; todos misturados uns com os outros na maneira mais estranha, até que a pessoa, completamente passiva, devêm um puro receptor infinitamente delicado de sensações. O que é visto e ouvido parece ser a mesma coisa... ocorre a mesma coisa com o sentido do tato, paladar, olfato” (El hongo maravilloso. Teonanáctl. Micolatria n Mesoamérica, FCE, México, 1993, La traducción alterada por mi).

Quanto ao meu estranho emprego de católica em meu título, nada tem haver, naturalmente, com o entendimento comum, ou seja, a fé ou a religião católica. A palavra grega remonta a muito antes dessa instituição famosa, e seu significado literal – dado como o principal tanto no Dicionário da Língua Espanhola (ERA) como o de Moliner, é “universal”, “geral, comum a todos”. É com ironia consciente que traço psiconautica católica, e não universal. Além disso, ela inclui um duplo significado, sendo catolicón, portanto, um remédio universal ou panacéia (na verdade, também são sinônimos em inglês). 


Acordo negociado finaliza a ação da UDV contra o governo norte-americano

Discipulos da UDV diante da Suprema Corte dos Estados Unidos. Foto do site da UDV

A Direção Geral e a Diretoria Geral da União do Vegetal tem a sincera alegria e satisfação de informar que, no dia 18 de agosto, a ação legal movida pela UDV contra o governo dos EUA foi solucionada por meio de um acordo negociado entre os nossos representantes legais e os representantes do Departamento de Justiça e a Agência de Controle de Drogas (DEA).

O acordo, em grande parte baseado na decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos, de fevereiro de 2006, confirma a validade do uso religioso do chá Hoasca pela União do Vegetal em território norte-americano, assegurando a continuidade desse direito sob as leis locais.

O mesmo acordo especifica também a restituição de cerca de 90% dos valores gastos pelo Centro durante os 11 anos de duração do processo legal. Mais um passo que consolida a vitória da direção e irmandade da UDV nos Estados Unidos na busca de assegurar sua liberdade religiosa. Essa vitória é fruto da persistência e confiança na seriedade dos propósitos do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal e merece ser comemorada por todos os que de alguma forma contribuiram com o trabalho da UDV nos Estados Unidos, que foi e é consistentemente apoiado pela Direção Geral e pela Diretoria Geral do Centro em todos os mandatos que se sucederam desde o início de todo este movimento.

Flavio Mesquita
Presidente

Também postado no site da Bia Labate.

sábado, 4 de setembro de 2010

Discussões Terminológicas - Enteodélico (parte I de 2)


Parte da entrevista de Juanjo Piñeiro no seu livro Psiconautas: exploradores de la realidade com o psiconauta Joaquim Tarnas

Tradução: Fernando Beserra

Juanjo Piñeiro e sua esposa Ann


Juanjo Piñeiro: [...] E falando do velho e do novo... Havia-te prometido que antes de terminar falaríamos da palavra enteodélicos. Inventei esta palavra enquanto estava no México. Ao começar a fazer estas entrevistas, havia psiconautas com os quais tinha que usar a palavra enteógenos, com outros a palavra psiquedélicos e por isso me ocorreu enteodélicos, simplesmente fusionando as duas primeiras. Com efeito, logo ao voltar a Barcelona e ao usar a Internet, comprovei que a você e outros amigos psiconautas também isso havia ocorrido e a cada qual por sua conta. Mais tarde, falando contigo compreendíamos que além de uma simples fusão de outros dois termos, também tem seu significado e é adequado, útil e interessante. Ao princípio disseste que queria falar da palavra enteodélico, pois adiante.

Joaquim Tarnas: Sim, queria dizer algo muito importante: enteodélicos é a palavra do futuro. Há gente que está contra psiquedélico ou psicodélico (Ott, Fericgla...), e outros que estão contra enteógenos (Mckenna, Shulgin, Grof, Escohotado...); também há psiconautas aos quais tanto faz, como Giorgio Samorini ou Manoel Torres. O bom de enteodélico é que tem o melhor das palavras, e o problema de nenhuma. Enteodélico é genial porque enteo quer dizer a divindade dentro, e delos é desvelar, mostrar ou revelar.

JP: Poder falar de que problemas e vantagens vê na palavra enteógeno e psiquedélico?

JT: O problema com enteógeno – gerar o divino interiormente – é a conotação essa de que você cria algo, ficando assim a idéia de que tudo pode ser uma “invenção”. Jonathan tem procurado dar uma acepção precisa do termo que atravesse esta conotação, e tem feito o possível a nível lingüístico para não identificá-la com criação ou geração, que parece algo mecânico. Enteógeno é uma palavra boa para referir-se ao mundo chamânico, tão relacionado com entidades e próximo ao que nós chamamos espiritualidade. Em troca, psiquedélicos fica mais neutro para nossa cultura científica. Significa desvelar a mente e vem sendo utilizada mais para o campo da psicoterapia no qual a conotação religiosa deve ser evitada. Também há quem diz que psique, originalmente em grego, tenha um significado mais cósmico ou transcendente que o significa de mente tal e como o entendemos agora.

            O problema é que não há uma maneira de casar ambos os mundos. Como disse, enteógeno inclui uma palavra muito ruim, que é gerar, e psiquedélico carece da referência ao transcendente. Enteodélico parece ser um termo médio que dissolve o problemático de ambos os conceitos. Assim está bem, porque tira a idéia de que outros têm a responsabilidade de sua espiritualidade. Se mudar o ge (gen) de gerar (generar) por delos, por desvelar, pois fica muito melhor, ao falar de descortinar o véu e também evita a referência única ao mental do termo psiquedélico, ampliando a experiência mais ao sagrado ou ao cosmos, se você preferir. Depois haverá quem siga pensando que neste neologismo Téo tem uma conotação demasiado religiosa, e me refiro ao conceito pessoal de Deus que temos no Ocidente.

JP: Eu proporia traduzir Teo do náhuatl mais que do grego. Teo em náhuatl equivale a algo assim como Grande Energia ou Grande Espírito, e me parece mais apropriado esse significado para os psiconautas que conheço, que tomar o significado do Theos grego: Deus ou divindade, palavras muito carregadas, como você diz, pelo seu uso religioso na nossa sociedade – embora haveria que distinguir de uma vez a espiritualidade da religião -. Por certo que não deixa de ser curiosa a coincidência entre o náhuatl e o grego em uma palavra tão importante, em duas línguas aparentemente distantes.

QT: Se haveria de buscar a etimologia grega, porque os gregos eram panteístas, tinham perdido o misticismo pré-socrático, que seguramente era taoísta. Então, se antes os gregos utilizavam uma palavra para definir este Tão, a melhor era theo.

JP: Em qualquer caso, também enteodélico poderia ser uma palavra de significado aberto, onde cada qual dê a Téo o significado que mais o agrade: Grande Energia, Grande Espírito, Consciência-Força Original, Deus, Divindade, Tão, Shakti, Iswara, etc. Seria uma palavra cujo significado exato seria personalizado. E, desde logo, depois de nossas experiências visionárias com o mote mexicano de Oaxaca e Chiapas, incluiria sem nenhuma dúvida a Cannabis e o THC (tetrahidrocannabinol) entre os enteodélicos.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Hipnose e Caçadores de Mito



Na sequência dos vídeos aparecem dois "mitos" testados pelos myth busters. Um deles nos interessa particularmente, pois avalia a eficácia da hipnose. O experimento vai avaliar se a memória é mais eficaz dentro da hipnose, como já se acreditou tantas vezes. Com este experimento penso que podemos enfocar especialmente um aspecto positivo relativo a estados alterados de consciência, particularmente, neste caso, a hipnose. Recomendo que sejam vistos todos os vídeos, do 1 ao 5, mas apenas o 4 o 5 já são o suficiente para refletirmos sobre este ponto.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Cannabis Medicinal: Não lemos e não-gostamos?

Por Elisaldo Carlini


Em Maio deste ano foi realizado o Simpósio Internacional: “Por uma Agência Brasileira da Cannabis Medicinal?” sob minha presidência, contando com a participação de cientistas do Brasil, Canadá, Estados Unidos, Inglaterra e Holanda, representantes brasileiros de vários órgãos públicos, sociedades científicas e numerosa audiência. Após dois dias de intensas discussões foi aprovado por unanimidade um documento recomendando ao Governo Federal a oficialização da criação da Agência Brasileira da Cannabis Medicinal.
Esperava uma discussão posterior, científica e acalorada, pois sabia de algumas opiniões contrárias à proposta. Entre estas o parecer do Departamento de Dependência Química da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) cujos representantes compareceram apenas para apresentar seu parecer, ausentando-se totalmente, antes e depois, de todo o restante do simpósio.

Esta havendo sim a esperada discussão, veiculada principalmente através da Folha de São Paulo, mas num nível de entristecer. De fato, expressões como – “o dom de iludir”; “Lobby da maconha”; “Maconhabras”; “uma idéia fixa: a legalização das drogas”; “elementos com pretensa respeitabilidade”; “paixão dos lobistas”; “exemplo de indigência intelectual”; “querem maiores facilitações para o consumo”; “travestidos de neurocientistas”; – não se coadunam com a seriedade que deve prevalecer em qualquer discussão científica. Os autores de tais infelizes afirmações certamente não leram a celebre frase de Claude Bernard, o pai da medicina experimental: “em ciência criticar não é sinônimo de denegrir”.

Experiência com Salvia Divinorum


Fumei o extrato 10x, num bong de vidro com isqueiro maçarico.


Antes estava muito nervoso, então, comecei a fazer o seguinte relaxamento: respiração profunda, visualizando o número 10, apertava as mãos e os olhos, largava enquanto mentalizava “relaxa” e ia para o número 9, até chegar no 0. Coloquei música baixa: cd do Black More´s Night, que deu um clima celta ao cenário.


Quando me acalmei bem, fumei. Deixei um bong num local próximo, mas seguro. Fiquei sentando em posição com pernas de chinês na cama e comecei a sentir o corpo diferente, uma sensação de leveza, talvez. Fechei os olhos, vi minhas mãos se multiplicando em milhares e milhares formando as formas mais lindas, lindas mesmo, túneis dançando de mãos e braços, minhas mãos e meus braços, milhares deles. E Deus estava fabricando aquele cenário do alto, a minha direita. Não o vi por inteiro, mas tinha aspecto indiano, como algumas outras coisas em torno. Minhas pálpebras ficavam pulando, como se fossem abrir ou estivessem produzindo algo, difícil explicar.


Eu tinha e não tinha controle da situação, existia uma identidade de eu, mas ao mesmo tempo deixe-me levar pela experiência. Não perdi sequer a memória, embora estivesse relativamente distante, de que eu havia usado a salvia. Ajoelhei-me e agradeci a graça que me foi concedida ainda durante a experiência. Quando senti que estava tudo diminuindo abri os olhos, mas era mais agradável mantê-los fechados por mais algum tempo.


Depois, finalmente, abri os olhos. Estava sozinho em casa, mas mantive o monitor do CPU desligado. Na internet, um amigo estava do outro lado, e manteve-se ligado para qualquer coisa, fornecendo uma proteção muito útil, inclusive para se tivesse alguma ansiedade durante ou pós experiência.


Agradeço novamente a experiência neste momento.


Para mim, uma integração do sagrado, não pelo intelecto, mas pela sensação.