terça-feira, 29 de junho de 2010

'MACONHA É UMA DAS SUBSTÂNCIAS MAIS SEGURAS', DIZ ESPECIALISTA

Daniele Piomelli, neurocientista e farmacologista, defende o uso medicinal da planta e diz que pesquisas precisam ir fundo no assunto

“Uma vez eu disse a um jornal norte-americano que a maconha era uma das substâncias mais seguras que existem. Essa frase gerou o maior barulho e eu perdi minha paz por algum tempo. Mas mantenho a afirmação: a maconha é uma das substâncias mais seguras que existem”. Foi com essa convicção que o neurocientista e farmacologista Daniele Piomelli, considerado um dos maiores especialistas do mundo no assunto, defendeu o uso medicinal da polêmica erva.

Piomelli, da Universidade da Califórnia em Irvine, não é nenhum defensor da legalização da maconha. “Isso é uma decisão que cabe à sociedade tomar. Nós, cientistas, só fornecemos os fatos”, diz ele. Tampouco ignora os malefícios da droga. “Fumar maconha, como fumar qualquer cigarro, aumenta o risco de câncer de pulmão, de câncer de boca, entre vários outros. Isso não faz bem e uma pessoa sensata evitaria”, afirma. “Há outro problema: o vício. Alguém que fuma maconha por um certo tempo e em certas quantidades acaba desenvolvendo uma compulsão pela droga. Acaba tendo aquela vontade avassaladora de fumar de novo”, diz ele.

No entanto, o cientista acredita que a droga tem potencial para tratar pacientes de doenças graves, como câncer e Aids. “Seria imoral, antiético e desumano não fornecer esse alívio para pessoas que estão sofrendo, por motivos que vão além da medicina e que a ciência não fundamenta”, afirma. “Como você vai dizer para alguém com câncer terminal que ele não pode fumar maconha para aliviar sua dor?”
Piomelli espera que as pesquisas científicas na área avancem, sem serem atravancadas por questões políticas e sociais. “Chegou a hora de irmos além da maconha”, diz ele. “Quando tivermos um remédio melhor, eficiente, sem efeitos indesejados, que faça todo o bem que a maconha faz sem trazer todo o mal que ela causa, ninguém vai nem mais lembrar que maconha existe.”
Para conhecer mais sobre os usos terapêuticos da erva e sobre os efeitos da maconha no organismo, leia abaixo a íntegra da entrevista que o cientista deu ao G1.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Dia de combate às drogas: chamada para o combate contra o preconceito e a hipocrisia


No dia de combate as drogas, no combate a substâncias que não tem perninhas para sair por ai destruindo absolutamente nada, é fundamental re-pensarmos os caminhos que estamos tomando no tema "drogas". Especialmente se este combate hipócrita (visto a situação legal de álcool e tabaco) apenas resulta em mais danos do que as próprias substâncias na sua relação com seus usuários. Ainda mais, sabemos bem, e isso é tema para longas conversas, que os direitos democráticos fundamentais são rompidos quando estabelecemos o infeliz "crime sem vítimas", modo autoritário e irracional do Estado criminalizar milhões de, assim chamados, desviantes.

A ONG Psicotrópicus, com apoio do Growroom e do Viva Rio convidam para re-pensarmos, pois, neste dia de "combate as drogas" que rumos temos tomado sobre esta temática.


domingo, 20 de junho de 2010

Lançamento do livro "Drogas e Cultura: novas perspectivas" no Rio de Janeiro


Copiado de Bia Labate

O livro é excelente, realmente recomendo. Infelizmente estarei trabalhando no dia do lançamento no Rio de Janeiro. Quem estiver lá e puder nos informar o que passou, todos os interessados na temática substâncias psicoativas ficam agradecidos.

Documentário da BBC sobre Carlos Castaneda

Que Castaneda deveria estar nas livrarias nas estantes de "Ficção" ou "Literatura" e não de "Antropologia" é algo que a maioria das pessoas já sabe. Que existem, apesar disso, muitas idéias importantes no seu trabalho, também parece uma grande verdade. Além do mais, discordando de muita gente, seus livros são bastante agradáveis - embora segui-los como um manual me pareça extremamente exagerado!

No Plantas Enteogenas colocaram o link para o documentário completo da BBC sobre Castaneda. Segue o LINK

Segue abaixo o primeiro video.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Blog "Sobre drogas" fechas as portas por tempo indeterminado

É com tristeza que escutamos a notícia que o blog "Sobre Drogas" do O Globo está terminando, já que não há dúvida que este era referência nos diálogos sobre política de drogas chegando a promover um excelente evento-debate, que encontra-se na integra no youtube ou no próprio Sobre drogas.

Esperamos que o blog possa retornar em breve, considerando que era, na maioria dos seus escritores, uma luz antiproibicionista em meio a um jornal poderoso e tantas vezes conservador.

A notícia colocada no blog por Paulo Mussoi segue abaixo:

domingo, 13 de junho de 2010

Espitirualidade enteogênica como um direito humano


Espitirualidade enteogênica como um direito humano

O ensaio que se segue é um trecho editado do livro A Evolução Enteogênica: Psicodélicos, Consciência e o Despertar do Espírito Humano, de Martin W. Ball.

Traduzido por Mirador e postado originalmente em plantasenteogenas.org

O verdadeiro coração de qualquer religião ou tradição espiritual é a experiência espiritual direta. É a partir da experiência imediata do sagrado que as tradições surgem, crescem e assumem uma vida própria como instituições e sistemas de crença. No entanto, sem a experiência inicial - inspiração que dá origem à tradição, há muito pouco para se estabelecer as bases de uma tradição.

Não é difícil ver que esta proposição básica é verdadeira. Nas "grandes" tradições do mundo, ou seja, as mais populares e bem estabelecidas tradições, encontramos pessoas que estiveram profundamente imersas na experiência espiritual direta. Na tradição judaica, encontramos figuras majestosas como Moisés, que conversou com Deus sobre a montanha, recebendo mensagens e instruções diretamente do além. Mais tarde, na tradição cristã, temos a figura de Jesus, percebendo e experimentando a sua própria divindade. Adiante, encontramos Mohammed na tradição islâmica, com seu voo extático ao céu para comungar com Deus.

No Oriente, aparecem muitos outros exemplos. No budismo, temos a figura mística do Buda, iluminado por meio da meditação sob a figueira. Na tradição taoista, encontramos o sábio Lao Tzu e sua obra, o Tao Te Ching. As tradições hindu e Jainista também possuem inúmeros e significativos santos e místicos, todos inspirados por suas experiências pessoais de iluminação.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Frase do dia

Desde tempos primordiais xamãs e advinhos, magos e mistagogos tem conhecimento da relação estreita entre ebriedade e êxtase. Portanto, a droga sempre desempenhou um papel em suas consagrações iniciações e mistérios.

Ernst Junger

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Redução de danos: um processo em evolução

Fonte: Comunidade Segura

Por: Christiane Sampaio

As estratégias de redução de danos, segundo o Manual de Redução de Danos


– Ministério da Saúde (2001), constituem um conjunto de medidas no
campo da saúde pública voltadas para minimizar as conseqüências
adversas ao uso de drogas. O princípio fundamental que as orienta é o
respeito à liberdade de escolha, à medida que os estudos e pesquisas
realizados apontam que alguns usuários não conseguem e não querem parar
de usar drogas, mas esses precisam ter os riscos minimizados para a
infecção pelo HIV e hepatites.

A redução de danos no Brasil surgiu em meados da década de 1990, como estratégia de enfrentamento a epidemia de Aids, que então ocorria no país. Para dar combate aos malefícios que cresciam rapidamente, o Ministério da Saúde, em parceria com organizações governamentais, ONGs e universidades, implementou os Programas de Redução de Danos (PRD) a partir de 1995, após uma tentativa pioneira, porém frustrada, na cidade de Santos (SP), em 1989.

Entrevista com Jonathan Ott


Fonte: Onirógenos
Tradução: Fernando Beserra

Embora hoje dedicado à investigação sobre autonomia energética e alimentação em seu rancho mexicano, desde os anos 70, Ott tem realizado um enorme trabalho de documentação científica e divulgação sobre drogas em todo o mundo. Informa, ou em suas próprias palavras, entretém "porque às vezes é mais importante do que tentar entreter do que informar o tempo todo. Se não for divertido, ninguém presta atenção...." A conversa promete.

Diagonal: Como começou a difundir sobre este tema?

Ott: Nos anos 70 havia muita demanda por informação. Organizei minha primeira conferência em 1976. Então, infelizmente, nos anos 80 há um parêntesis sobre o assunto, ao entrar Ronald Reagan na Casa Branca. Com sua reeleição deixei o E.U.A. e tornei-me refugiado fármaco-político no México, onde eu tenho vivido desde então. Antes dos anos 80 havida sido bastante liberalizada a situação nos EUA., com 11 estados despenalizando a maconha (marihuana), já que o próprio Carter tinha sido eleito com o apoio de uma plataforma para a despenalização nacional da maconha. Agora, a história está se repetindo o que havia sido aberta na década de 70 sobre a despenalização.

Minha intenção inicial era por informação fidedigna na mão das pessoas. Hoje temos mais e melhor documentação e divulgação popular do que em outros ramos da ciência. Agora há muito boa literatura e o que importa é ter acesso as plantas mesmas. Eu não busco publicidade e ser famoso, trato de fazer difusão. Sou um propagandista que vai contra a propaganda maior. Os enteógenos podem nos despertar para ver esta realidade, ou podem ser puro entretenimento, o que também me parece bom, não tenho nada contra. Para mim é fonte de informação, é uma ferramenta de conhecimento que abre muitas outras portas.

domingo, 6 de junho de 2010

Sobre a nomenclatura para substâncias similares à mescalina e por que isso importa


Fonte: Enteogenos.org

A compilação de citações abaixo é um ótimo histórico de como e por que foi necessária a criação da palavra "enteógeno".

O original em inglês pode ser lido no site do Council on Spiritual Practices.


Sobre a nomenclatura para substâncias similares à mescalina e por que isso importa

compilado por R. Jesse

1957:

Tenho tentado encontrar um nome apropriado para os agentes em questão: um nome que incluirá os conceitos de enriquecer a mente e expandir a visão [de mundo]... Minha escolha -- por ser clara, soar bem e não estar contaminada por outras associações -- é "psicodélico", manifestador da mente. [destaque adicionado]

-- Humphry Osmond, "A Review of the Clinical Effects of Psychotomimetic Agents," Annals N.Y. Acad. Sci., 14 de março de 1957

sexta-feira, 4 de junho de 2010

História Natural e Química do Ololiuhqui



Páginas 118 a 121 (in Pharmacotheon de Jonathan Ott)


Tradução: Fernando Beserra


Depois da conquista do México em 1521 uma série de cronistas espanhóis, dos séculos XVI e XVII, fazendo referência as práticas religiosas dos astecas e de outros grupos indígenas, descreveram o uso ritual de umas sementes enteogênicas chamadas ololiuhqui “coisas redondas”. Se afirmava que as sementes procediam de uma planta chamada coaxihuitl ou coatlxoxouhqui “planta serpente” ou “serpente verde”. A planta aparecia ilustrada no Codex Florentino de Sahagún, e pertenciam de forma inconfundível a família das Convulvulaceae, a família da enredadera e dos dondiegos de dia (Hernández 1651; Hofmann 1980; Sahagún 1950; Sahagún 1982; Schultes e Hofmann 1980; Taylor 1944; Taylor 1949; Wasson 1963). Sahagún descrevia o uso das sementes ololiuhqui em diversos rituais e em fitoterapia como tratamento tropical contra a gota, combinado com fungos (hongos) enteogênicos (veja capítulo 5), diversas espécies de Datura (ver apêndice A) e outras plantas. Para o tratamento da “febre aquática”, que se supõe ser a malária ou outra enfermidade similar, os médicos astecas prescreviam a ingestão de um super-enteógeno que consistia da combinação de sementes ololiuhqui, peyote (ver capítulo 1), fungos (hongos) enteogênicos e espécies de Datura (Sahagún 1950; Sahagún 1982).