quarta-feira, 26 de outubro de 2011

República Tcheca entre no mapa da Maconha Medicinal

Fonte: Hempadão


Imagine uma caravana que atravessa os cinco continentes derrubando a proibição das drogas. Velhos conceitos proibicionistas são despejados no ralo após uma vitória acachapante do racionalismo e da ciência. Um sonho, né? Pois essa onda verde está chegando na Republica Tcheca, que já tolera o cultivo de até cinco pés de cannabis para uso pessoal.

Por lá está sendo preparado um projeto de lei para regulamentar a produção e comercialização da maconha para uso medicinal. O modelo proposto pelos tchecos é similar ao adotado na Califórnia, com credenciamento dos pacientes e dos agricultores interessados em oferecer a erva aos dispensários. De negativo é preciso destacar que a proposta ainda impede que o usuário-paciente cultive sua própria cannabis além do limite de cinco pés. E se tudo correr bem o trâmite legislativo deve ser concluído até meados de 2012.

Uma prova que o coro da legalização está cada vez mais forte é que até os mais proibicionistas começam a rever seus antigos e esquizofrênicos conceitos. Pela manhã o Clipadão divulgou uma notícia com o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, falando em acabar coma guerra as drogas que tanto sofrimento trouxe ao seu povo.

Como "bom" político, Santos deixou claro que não será o primeiro a levantar essa bandeira e prefere esperar a mobilização de outros países para embarcar nessa onda.“Alguém precisa dar o primeiro passo, e este não serei eu. Trata-se de um problema de segurança nacional. O tráfico de drogas é o que financia a violência e os grupos irregulares no nosso país. Eu seria crucificado se decidisse tomar o primeiro passo”, justifica.

Infelizmente o Brasil carece de líderes do executivo com coragem de defender o fim da guerra às drogas como estratégia para reduzir a violência. No parlamento temos poucas figuras que infelizmente são uma força minoritária perto da tropa conservadora. Mas nada como um banho de conhecimento para mudar a opinião pública, e consequentemente o discurso político. O futuro está do nosso lado!

domingo, 23 de outubro de 2011

Projeto ResPire e Redução de Danos



O Projeto ResPire, realizado pela ONG É de Lei, participou de sua terceira intervenção em raves no estado de São Paulo.


A ação de redução de danos para os participantes da festa de música eletronica ocorreu nos dias 15 e 16 na festa Mystic Tribe. Antes o Projeto ResPire havia participado da festa Respect e da Voodoostock, ambas no estado de SP.


O Projeto ganhou o prêmio de Poster Inovação dado pela ABRAMD, e pode ser conferido abaixo:




O Projeto prevê a participação em mais festas, ainda sem data. Assim que for possível divulgaremos!
Para mais informações:


http://www.facebook.com/projetorespire

sábado, 22 de outubro de 2011

Uma Visão Xamã - Parte I

Fonte: Hempadão
por Chaos Baby


Caminhando num parque com um amigo, conversávamos alegremente a respeito dos xamãs que usam enteógenos, como a Ayahuasca, com grande frequência e eu não pude deixar de observar que muitos de nós, talvez por uma questão de estarmos desacostumados com fortes experiências espirituais, não temos realmente um grande preparo para fortes doses de enteógenos, ou para um contínuo trabalho transformacional, ou melhor, um uso contínuo dos mesmos, como suportam os grandes xamãs ou as pessoas de fato mais preparadas para experimentar diversos tipos de realidades perceptivas. E tocar nesse assunto no final de semana me fez lembrar de que quando Castañeda pediu para Dom Juan para lhe apresentar o Peyote, o mesmo simplesmente lhe respondeu:


“Não. Porque você não conhece seu íntimo. O importante é você saber exatamente por que quer envolver-se.” – Erva do Diabo – Carlos Castañeda.



Não estou, com isso, pretendendo desencorajar o desenvolvimento espiritual das pessoas por meio dos enteógenos, mas mostrar que é necessário um preparo adequado e ter em mente a responsabilidade perante o poder divino das plantas. Pretendo não soar por demais negativa, aliás, vemos muito frequentemente que não apenas uma experiência espiritual pode ser sentida, como também em estado alterado de consciência podemos ter um foco sobre estados de espírito, como se ele tivesse simplesmente ampliado, então podemos nesses estados de percepção entrar simplesmente em estados de alegria intensa, ou medo, ou prazer, ou sofrimento, ou liberação, contemplação, enfim, tudo o que já conhecemos em termos emocionais e estados mentais em nosso cotidiano pode ser experimentado de uma forma mais intensa e ampla durante uma viagem. Porém, podemos ir além e é interessante nos lembrarmos de que as portas para outros mundos e outras realidades também são abertas e podemos perceber algo extraordinário, completamente fora do que estamos acostumados.


Carlos Castañeda escreveu bastante a respeito do mundo espiritual e as mudanças que são realizadas no homem a partir de uma abertura espiritual e mental com o auxílio dos enteógenos. Ele explicou uma divisão que existe entre o mundo da percepção comum e um novo mundo totalmente desconhecido que pode ser percebido e reconhecido, ainda que pouco ou nada compreendido, por meio das experiências psicodélicas, entre outras práticas e treinamentos de fundo espiritual. Eles podem ser percebidos devido a uma mudança de alinhamento do que chama “ponto de aglutinação” ou para um melhor entendimento foco de atenção/percepção ou foco de consciência. Castañeda afirma que recebeu seus ensinamentos de um índio yaqui que acabou o iniciando no caminho do xamanismo, ao qual em seus livros é conhecido como Dom Juan Matus. Dentro desse ensinamento podemos encontrar uma explicação a respeito das diferentes percepções, pois o autor afirma que, como aprendeu com seu mestre Dom Juan, o mundo não é apenas composto com as coisas e objetos que nos saltam a vista, mas que é um mundo constituído por campos de energia. A esses campos de energia o autor dá o nome de “Emanações da Águia”, que é de fato a única realidade transcendental. Ou seja, de uma forma bem mais simples, nas palavras de Shakespeare: “Existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”.


Voltando a Castañeda, essas emanações estão agrupadas em aglomerados ou bandas que constituem mundos diferentes entre si. Ideia que nós também podemos encontrar dentro da mecânica quântica em teorias a respeito do Multiverso. O cientista Michio Kaku defende a teoria das cordas, assim diz que tudo é vibração. Ele mesmo fala a respeito desses multiversos como universos paralelos e simultâneos. Porém, o que nos importa aqui é que o mesmo cientista também nos lembra que: “A ciência hoje descreve cenários já antecipados pela mística: outros planos, outras dimensões”.


Certo, vamos parar por aqui com a ciência e voltamos para o Xamanismo. Víctor Sánchez explica esses ensinamentos do Xamanismo Tolteca e as diferentes realidades muito bem em seu livro “Os Ensinamentos de Dom Juan”, onde podemos encontrar uma explicação simples e magnífica para o que eu estou pretendendo mostrar dentro desse artigo:


“Dom Juan fala da existência de 48 grandes bandas de emanações, das quais são acessíveis ao homem durante sua percepção ordinária. Uma é a banda onde se encontra agrupada a vida orgânica e a outra é uma banda que contem estruturas sem consciência, presumivelmente os vegetais, gases, líquidos, etc. Dentro da banda de emanações dos seres orgânicos, existe uma faixa em particular que se refere à banda do homem e que determina os limites estreitos da percepção do conhecido. Na medida em que cada pessoa não alinha todas as emanações da banda do homem, existem pequenas variações nas possibilidades de percepção de pessoa para pessoa, as que são geralmente interpretadas como casos de sensibilidade especial, percepção extra-sensorial, fenômenos psíquicos, genialidade, etc., ou como casos de: insuficiência, retardo mental, estupidez, insensibilidade, etc.”

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Thelema






Ninguém cala, ninguém re-cala, ninguém dispara um tiro verbal como a contestação que vem do coração. Órgão mutilado pela apatia pós-moderna, atravessado pelo rancor da objetividade científica, e crucificado ao ver as matanças cometidas pela guerra as drogas. A liberdade, repleta de luz e pelos mais diversos ângulos, transparece em meio ao caos de mãos sujas de sangue. Travestem-se de bons moços, com discursos coerentes e racionais, travestem-se de cordeiros, os sinistros lobos da travessa. A aurora não se fará antes das pessoas olharam para este, tão interno órgão, e tão vibrante: coração. Cora, a ação que o ignora. Fora, políticos inúteis. Avante, na dinamicidade do alto-faltante que grita ao retumbar discursos por uma nova ordem. Seqüela esta apatia cega, esquece daquela antiga era, e transformar-te ao ver o som, radiado pelo toque da melodia musical. Deus desceu dos céus e disse que as plantas não tem culpa nenhuma. Por fim, liberdade do coração, sem apatia ou repressão, já que a luz já tocou as palavras, para dá-las a ti, nesta tarde que resvala o centro da mandala.



Liberdade Religiosa! Liberdade do teu corpo! Liberdade da alma!








terça-feira, 18 de outubro de 2011

Cine Planta exibe "Grass", nesta quinta, no Rio de Janeiro


Pra quem é do Rio, excelente iniciativa de desontorpecimento da razão:
O bloco Planta na Mente promove nesta quinta-feira (20 de outubro), no Jardim do Centro de Letras e Artes (CLA) da UNIRIO (em caso de chuva o evento acontecerá na sala 211 do prédio do CCH- Centro de Ciências Humanas), a primeira edição do CinePlanta, grande cineclube mensal sobre a cultura canábica, levantando debates sobre a maconha, sua proibição e suas implicações sociais. A programação inclui a exibição de um filme relacionado à cultura canábica, seguida de uma grande roda de debate envolvendo convidados especiais. A entrada é gratuita.

Nesta primeira sessão, será exibido o consagrado documentário canadense “Grass”, que traça a história da política norte-americana de combate à cannabis. Após o filme, será realizado debate com a presença de Renato Cinco (sociólogo e parte da organização da Marcha da Maconha), André Barros (advogado da Marcha da Maconha), Oralando Zaccone (delegado da Polícia Civil), Nina Tedesco (cineasta) e João Menezes (neurocientista).

Fundado em outubro de 2010 como bloco carnavalesco, o Planta na Mente é um coletivo que defende a legalização da maconha para todos os seus usos. Após estrear no Carnaval 2011 com dois desfiles na Lapa para mais de mil pessoas, o bloco participou das três Marchas da Maconha realizadas no Estado do Rio de Janeiro, além de promover eventos pela discussão e conscientização sobre a proibição da maconha e seus efeitos na sociedade. O CinePlanta é mais uma dessas iniciativas e pretende exibir mensalmente, em locais diversos, filmes de curta e longa-metragem sobre a cultura canábica, com debates subsequentes sobre as questões levantadas em cada sessão.


SERVIÇO:
CINEPLANTA apresenta: “Grass”
Data: quinta-feira, 20 de outubro
Horário: 19h
Local: Jardim da UNIRIO – Praia Vermelha (Av. Pasteur, 458 – Urca)
Entrada: Gratuita

Debatedores convidados:
Renato Cinco (sociólogo)
André Barros (advogado)
Nina Tedesco (cineasta)
João Menezes (neuro-cientista)
Orlando Zaccone (delegado da Polícia Civil)

Telefones pra contato:
Adriano Caldas – 7119-3637
Antonio Henrique Campello – 8055-7516

DADOS DO FILME:
Grass
Canadá
1999 • cor • 80 min
Direção: Ron Mann
Roteiro: Solomon Vesta
Elenco original Woody Harrelson (narrador), Harry J. Anslinger, Harry J. Anslinger, Cab Calloway, Jimmy Carter, Chevy Chase, Nancy Davis, Dwight D. Eisenhower, Gerald Ford, Jerry Garcia, Allen Ginsberg, John F. Kennedy, Gene Krupa, Fiorello LaGuardia, Timothy Leary, John Lennon, Gertrude Michael, Robert Mitchum, Richard Nixon, Yoko Ono, Ronald Reagan, John Sinclair
Género: Documentário
Idioma: original inglês

Documentário canadense que relata a política de combate à maconha nos Estados Unidos da América e sua imposição a outras áres do mundo. Aborda os gastos orçamentários do Estado, os movimentos sociais envolvidos, as personalidades políticas que se inseriram neste “combate”.

O documentário possui extenso material retirado de outros filmes, como uma apresentação do baterista Gene Krupa, o relato de John Lennon sobre o uso de entorpecentes, discursos de Ronald Reagan e Dwight D. Eisenhower e demais artistas, intelectuais e pensadores.

O documentário não realiza apologia ao uso do entorpecente, mas discute, em termos gerais, quanto um Estado pode interferir na liberdade de escolha e na liberdade de cada cidadão.


Curta o Planta na Mente e acompanhe nossa luta artística e política contra o preconceito


domingo, 16 de outubro de 2011

Nas Paredes da Pedra Encantada: psicodelia brasileira na tela grande!

Fonte: Psicodélico

Por Leonardo Lichote



Inscrições rupestres misteriosas, mitos indígenas, boas doses de psicodelia, uma busca para reconstruir as obscuras origens de uma lenda da música brasileira. O roteiro tem elementos que parecem moldados para a ficção, algo como um Indiana Jones lisérgico. Mas Nas Paredes da Pedra Encantada, filme de Cristiano Bastos e Leonardo Bonfim, é um documentário - um "road doc", como define Cristiano, que investiga a história do disco Paêbirú, de Zé Ramalho e Lula Côrtes, lançado em 1975.



"Há vários motivos para se falar de Paêbirú", defende Cristiano. É o disco mais caro do Brasil, sua última cotação está entre R$ 4 mil e R$ 5 mil, o dobro do Louco por Você, o primeiro de Roberto Carlos (existe uma edição pirata, em vinil, de Paêbirú, lançada na Europa, mas que não vem com o livro que acompanhava o original, trazendo estudos sobre a região e informações sobre a lenda do caminho da montanha do sol). "Mais que a raridade, ele é o fundador de uma psicodelia genuinamente brasileira, com elementos da cultura indígena. E sua história tem toda uma mística. Das únicas 1.300 cópias da prensagem original, 1.000 foram perdidas numa enchente no Recife", completa o cineasta.

sábado, 15 de outubro de 2011

Arte Visionária e Enteogenia

por Fernando Beserra
Fonte: Hempadão (outras imagens: Enteogenico)
 
A arte é uma das mais antigas e misteriosas atividades realizadas através da história da humanidade. O próprio pai da psicanálise, Sigmund Freud, chegou a considerar que a arte está relacionada a sublimação, isto é, um mecanismo de defesa através do qual a libido (energia psíquica) de impulsos instintivos se transforma e se destina a metas socialmente desejáveis (realizações superiores). Gostaríamos de sublinhar que mesmo pensadores negativistas e de tendência positivista dão a arte um resplendor quase áureo, religioso.

Se a arte contemporânea muitas vezes se expressa em “actings” ou “performances”, por vezes libertas das opressões econômicas ou sócio-políticas, por outro lado, em alguns momentos temos a impressão que estas performances são espetáculos que procuram se eximir de suas importâncias sócio-políticas e espirituais, isto é, do destino de nossa cultura e humanidade. A representação coletiva do artista hoje se assemelha a ambivalente figura do trickster, um brincalhão, além do bem e do mal, um artista isolado e individualista.
 
 
Mas, um respiro de positividade ainda surge nos obscuros discursos do tipo: “A arte morreu”, que atravessam e ressoam nos sujos muros de nossas mega-cidades entijoladas. A “Arte Visionária” é a “expressão criativa de vislumbres no sagrado inconsciente, perpassando a mais ardente sombra imaginada de almas torturadas no inferno, os míticos arquétipos do demoníaco e heroicas forças da compaixão que parecem guiar e influenciar nossos sentimentos, e iluminar transpessoais reinos paradisíacos”[1]. O visionário está relacionado a origem de cada tradição sagrada e de revelações que originaram mesmo grandes tradições religiosas. Então, entre os diversos modos de acessar esses reinos e através de sua criatividade infinita criar a arte, podemos citar os sonhos, a meditação, momentos de pico (peak moments), momentos de estresse emocional, transes, etc. Como artes visionárias é claro que podemos nos remontar às artes xamânicas, tibetanas, zen-budistas, egípcias, maias, etc., mas também, por que não, à arte de Hieronymous Bosch (cf. Garden of delights) e Pieter Bruegel (Cf. Triunfo da morte). Continuando ao longo da história são célebres artistas visionários Wiliam Blake, a arte alquimista (Jacob Boehme, Robert Fludd), Van Gogh, Salvador Dali, o abstracionismo de Kandinsky, mas também o gênio mórbido de H.R. Giger.
 
 
Um dos vários métodos de alcançar as visões da arte visionária não poderia deixar de ser o uso de enteógenos, ou, como prefere chamá-los – por vezes – Antonio Escohotado: “Substâncias visionárias”. De acordo com Alex Grey: “Substancias como LSD tendem a catalizar o estado visionário, mas também podem abrir o acesso as dimensões infernais e aos mundos celestiais”. Esta procura na arte visionária dos estados invulgares foi chamada de “misticismo experimental”, abrindo acesso a experiência pessoal de forças transcendentes que podem vir a ampliar ou linkar a consciência ao próprio espírito criativo. O próprio Grey faz a advertência a artistas de personalidades “borderline”, que procurem evitar este tipo de substâncias e desestabilizações químicas. Por outro lado, o uso de psiquedélicos democratizou o acesso a reinos transpessoais da psique e pode ser considerado, hoje, um dos meios de abertura de visões menos materialistas e reducionistas da realidade hipercomplexa, sem a perda da visão crítica a dominação do homem pelo homem, ou, de modo ainda mais amplo, a destruição ambiental.

 
 
Para fecharmos o post de hoje, podemos lembrar que com o foco no coração, a arte visionária contemporânea tem procurado romper o fetiche ao obscuro e a tragédia, de cunho tão existencial, e propor visões mais positivas as possibilidades de renovação pessoal, social e espiritual para o nosso “holoverso”. Entrementes, parece necessário, mais do que nunca, abrir a possibilidade de encher nosso tantas vezes decrépito mundo de vida e alma. A frase de Kandinsky expressa bem este sentimento:
 
 
"Tudo que está morto palpita. Não apenas o que pertence a poesia, às estrelas, à lua, aos bosques e às flores, mas também um simples botão branco de calça a cintilar na alma da rua. Tudo possui uma alma secreta, que se cala mais que fala."


[1] - GREY, Alex. The Mission of Art.

Cortina de Fumaça no EMERJ

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Steve Jobs, do LSD ao LCD

Fonte: Coletivo Desentorpecendo a Razão




Continuem famintos. Continuem tolos. “Stay hungry. Stay foolish.” Assim Steve Jobs terminou seu famoso discurso a formandos da Universidade de Stanford, em 2005. A frase foi tirada da contracapa da edição de outubro de 1974 do Whole Earth Catalog. Símbolo da contracultura, era catálogo de produtos voltados para um estilo de vida criativo e autossustentável.


Morto na última quarta-feira, o cofundador da Apple fez, como ninguém, a ponte entre a geração de beatniks que se reunia na livraria City Lights em San Francisco e os nerds que deram origem à era digital nas garagens do Vale do Silício. Em 1968, quando estudantes clamavam pela revolução em câmpus universitários de todo o mundo, Jobs tinha somente 13 anos. Mas ele levou a ideia adiante e detonou uma revolução anos depois, ao criar a Apple com Steve Wozniak.


Antes da Apple, quando trabalhava na Atari, Jobs fez uma viagem à Índia, para conhecer o guru Neem Karoli Baba. Lá, adotou o budismo como filosofia de vida. De volta à Califórnia, participou de sessões de terapia do grito no Centro Zen de Los Altos. Certa vez, disse ao jornalista John Markoff que tomar LSD foi “uma das duas ou três coisas mais importantes que fez na vida”.


O telefilme Piratas do Vale do Silício, de 1999, conta a história da criação da Apple e da Microsoft. Numa cena do início do longa-metragem, o ator Noah Wyle interpreta um jovem Steve Jobs, de cabelos compridos e barba, que, numa viagem de ácido, se imagina um maestro que rege o universo.


Jobs se considerava um artista. E exigia que a equipe de desenvolvimento da Apple produzisse arte. No documentário O triunfo dos nerds, criticou a Microsoft com argumentos que não tinham nada a ver com tecnologia: “O único problema com a Microsoft é que eles não têm gosto. Quero dizer de uma maneira ampla, no sentido de que eles não têm ideias originais e não colocam muita cultura em seus produtos.”


Depois do lançamento do documentário, meio que se desculpou: “Só acho que ele (Bill Gates) e a Microsoft são um pouco limitados. Ele seria um cara mais amplo se tivesse tomado ácido uma vez ou ido a um ashram (eremitério hindu) quando mais jovem.”


Diferentemente de Jobs, Bill Gates não cresceu numa cidade da Califórnia, mas em Seattle, ao norte dos Estados Unidos, e estudou em Harvard, na Costa Leste, onde a diversão eram partidas de pôquer, e não viagens lisérgicas.


Precursor. O Whole Earth Catalog era editado pelo escritor Stewart Brand. Não foi à toa que Steve Jobs escolheu uma referência a Brand para fechar seu discurso em Stanford. Brand criou o aforismo “a informação quer ser livre”. Brand trabalhou numa equipe liderada por Douglas Engelbert, que apresentou, em 1968, tecnologias que se tornariam realidade muitos anos depois, como o mouse, a videoconferência e o hipertexto. Em 1985, foi um dos fundadores do serviço The Well (sigla de Whole Earth ‘Lectronic Link), uma comunidade virtual pioneira.


No mês passado, quando recebeu a reportagem do Estado na sede da revista Wired, em San Francisco, o escritor Chris Anderson falou sobre a influência da contracultura no Vale do Silício. “Stewart Brand é um grande amigo meu”, disse Anderson. “O Whole Earth Catalog representava a noção de individualismo, de movimentos de baixo para cima, de autossuficiência e de que as pessoas podem mudar o mundo de uma maneira que as instituições não podem.”


O slogan “Think different” (pense diferente), que foi usado pela Apple há algum tempo, refletia essa postura. A campanha trazia imagens de ícones do século 20, como Albert Einstein, Bob Dylan, Martin Luther King, John Lennon, Mahatma Gandhi, Amelia Earhart e Pablo Picasso.


O famoso comercial de lançamento do Macintosh em 1984 (abaixo), dirigido por Ridley Scott, também procurava passar essa mensagem contracultural. Nela, uma heroína, que representava o Macintosh, destruía uma tela gigante que mostrava o Grande Irmão. Na cabeça dos telespectadores, a imagem do Grande Irmão acabava sendo associada à IBM, que dominava o mercado de tecnologia na época.


Não deixa de ser irônico a Apple ter usado conceitos de cultura alternativa num comercial para ser exibido durante o Super Bowl, final do campeonato de futebol americano, horário mais caro da televisão dos Estados Unidos.


Outros empreendedores de tecnologia tinham raízes na contracultura. Um exemplo é Mitch Kapor. Antes de criar a Lotus Software, em 1982, Kapor foi disc-jóquei numa rádio de rock progressivo e estudioso de meditação transcendental. O nome de sua empresa veio da posição de meditação usada no budismo e na ioga. Kapor criou o software de planilhas eletrônicas Lotus 1-2-3, primeiro aplicativo de sucesso para o IBM PC.


Mesmo assim, Jobs tinha qualidades únicas. Para ele, a técnica servia à estética. O design buscava garantir a melhor experiência. Vai ser difícil substituí-lo, não somente na Apple.


domingo, 9 de outubro de 2011

Pesquisa testa o uso de derivados do ecstasy para combater o câncer

Fonte: Clipadão

Colaboração entre universidades da Austrália e do Reino Unido quer aumentar efeito da droga contra as células cancerosas

Dois pesquisadores da Universidade de Western Australia, em colaboração com o professor John Gordon, da Universidade de Birmingham, querem aumentar o efeito da metilenodioximetanfetamina (MDMA, mais conhecida como a droga ecstasy) no tratamento de certos tipos de câncer no sangue, como mieloma, leucemia e linfomas.
Em agosto deste ano, Gordon publicou um estudo sobre as propriedades anticancerígenas de uma forma modificada de ecstasy. Agora, o objetivo dos pesquisadores é aumentar o efeito tóxico da droga sobre as células cancerosas e remover sua ação psicotrópica.
Segundo Matthew Piggot, professor da Universidade de Western Australia, a estrutura do MDMA pode ser refeita para construir compostos similares à MDMA, mas com propriedades terapêuticas diversas.
Tentativa e erro — A colaboração entre as equipes das duas universidades começou quando Piggot e Gandy estudavam o uso do ecstasy no tratamento da doença de Alzheimer. Quando ficaram sabendo do estudo de Gordon, entraram em contato com ele para mostrar seus resultados com compostos derivados da MDMA. "Ele ficou bastante interessado em usá-los em suas pesquisas", disse Piggot.
Por enquanto, os testes estão sendo feitos em amostras de células do sangue, na base da "tentativa e erro", segundo Piggot. "Dos seis componentes inicialmente testados, a maioria não apresentava nenhum efeito. Mas um deles mostrou ser dez vezes mais potente e serviu de fundamento para a primeira leva de compostos similares. Atualmente estamos criando compostos 100 vezes mais potentes."
A próxima fase da pesquisa será o teste das substâncias em animais. Em entrevista por email ao site de VEJA, John Gordon, que é coordenador da Faculdade de Medicina da Universidade de Brimingham, disse que "se tudo correr bem, levará de 5 a 10 anos para usar a droga em pacientes."

sábado, 8 de outubro de 2011

Admirável 1984 Novo

Fonte: Plantando Consciência



Mais uma sagaz tirinha que dispensa nossas palavras. Encontrada enquanto seguíamos o coelho branco

Operación de la policía portuguesa contra el consumo ritual de ayahuasca

Fonte: RIES
por Luis Santamaría
 
La Policía Judicial de Portugal se ha incautado de cerca de 30 litros de una sustancia alucinógena al llevar a cabo la detención de un hombre en flagrante delito durante una operación policial que transcurrió en las ciudades de Lisboa y Cascais. Según informa la Policía Judicial, la importación y el tráfico de esa sustancia alucinógena, que es la ayahuasca, pueden condenarse con penas de cuatro a doce años de prisión. Lo cuenta el medio portugués TVI4.


En su comunicado, la Policía Judicial explica que durante una acción policial que tuvo lugar en Lisboa y Cascais el pasado 4 de octubre se incautaron de aproximadamente 30 litros de ayahuasca, sustancia que contiene DMT (dimetiltriptamina), y detuvieron a un hombre de 60 años. Además encontraron recipientes con cerca de 26 litros de ayahuasca y siete gramos de cannabis.


El detenido fue puesto en manos del Tribunal, que ha decretado medidas de coacción de término de identidad y residencia, obligación de presentarse semanalmente ante la policía criminal y la prohibición de ausentarse del país y de contactar con la organización religiosa Santo Daime.


Esta organización es una manifestación religiosa nacida en plena región amazónica en las primeras décadas del siglo XX, y consiste en una doctrina espiritual que tiene como base el uso “sacramental” de la ayahuasca con el fin de catalizar procesos interiores y espirituales con el objetivo de lograr el bienestar de la persona.


Según el Jornal de Notícias, la Policía Judicial portuguesa está investigando si la ayahuasca le fue administrada a niños.


Vídeo de la noticia (portugués): en el siguiente enlace.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Fonte: Hempadão

Por: Fernando Beserra
Albert Hoffman é um cientista suíço que não necessita de apresentações. Pai do LSD, além de ter sintetizado a psilocibina, LSA, etc., veio a falecer em 2008, aos 102 anos. Hoffman chegou a falar que o seu “filho problema” (o LSD), era uma medicina da alma, e teve excelentes resultados aplicados à psicanálise, entretanto, a proibição e os usos irresponsáveis abalaram sua criação. Contudo, é mister ressaltar que o Dr. Hoffman acreditava piamente que sua criança problema poderia ainda vir a ser uma “Wonder child”.
Steve Jobs, co-criador da gigante Apple, faleceu recentemente (outubro de 2011) e foi um entusiasta do LSD. Chegou a dizer abertamente que experimentar LSD foi uma das duas ou três coisas mais importantes que fez em sua vida. “Pense diferente”, o slogan da Apple, é um selo da experiência com enteógenos, e Steve chegou a dizer: “Quando eu estou ‘com’ LSD e escutando alguma coisa que é puro ritmo, isso me leva a outro mundo e em outro estado cerebral onde eu parei de pensar e comecei a saber”. Fato é que as experiências de ácido sempre foram muito caras a importantes personalidades do mundo da computação. O próprio Timothy Leary após uma experiência com LSD alterou radicalmente sua perspectiva naturalista e zen em direção as inovações tecnológicas.

Finalmente cartas entre Steve Jobs e Albert Hoffman foram divulgadas no livro: “This is your country on drugs: the secret history of getting high in America”. Nas cartas, Hoffman, com seus 101 anos, ao falar/perguntar sobre as experiências com LSD de Jobs, que influenciaram significativamente sua vida e o desenvolvimento de tecnologias da Apple, de modo muito positivo, solicita ao empresário que atente para pesquisas que atualmente estão sendo realizadas com fundos do MAPS (Multidisciplinary Association for Psychodelic Study), orientadas pelo psiquiatra Peter Gasser. Isto é, Hoffman pede que Jobs ajude a causa, a tornar a “Criança Problema” numa “Criança Maravilhosa”.

Segundo o criador e líder do MAPS, Rick Doblin, Steve entrou em contato, mas não deu suporte à organização, e ainda munia ideias do tipo: “jogue ácido no reservatório de água e ligue todo mundo”, o que causou em Doblin grande decepção.

Pesquisa sobre "perigo" das drogas

O álcool é uma droga mais perigosa do que o crack e a heroína, quando são levados em conta os danos causados aos usuários e a terceiros, disseram cientistas britânicos essa semana.

Apresentando uma nova escala relacionada aos danos para os usuários e para a sociedade, o álcool aparece como a droga mais nociva, quase três vezes mais perniciosa do que a cocaína e o tabaco.
Segundo essa escala, a heroína e o crack são a segunda e a terceira drogas mais nocivas.

David Nutt, presidente do Comitê Científico Independente para Drogas da Grã-Bretanha, que participou do trabalho publicado na revista Lancet, disse que as conclusões mostram que “tratar agressivamente os danos do álcool é uma estratégia válida e necessária de saúde pública”.
Ele afirmou também que a nova escala mostra que as classificações dadas às drogas têm pouca relação com os danos causados.

O álcool e o tabaco, por exemplo, são legais para os adultos na maioria dos países, enquanto drogas como ecstasy, maconha e LSD costumam ser ilegais.

“É intrigante notar que as duas drogas legais avaliadas – álcool e tabaco – aparecem no segmento superior do ranking, indicando que as drogas legais causam pelo menos tanto dano quanto as substâncias ilegais”, disse Nutt em nota.

Há um ano, o pesquisador foi obrigado a deixar a direção do influente Conselho Consultivo sobre o Abuso de Drogas por ter criticado ministros por ignorarem as evidências científicas de que a maconha faz menos mal que o álcool.

A Organização Mundial da Saúde estima que os riscos associados ao álcool – acidentes, doenças do coração e fígado, suicídios e câncer – causem 2,5 milhões de mortes por ano, ou 3,8 por cento do total. Seria o terceiro principal fator de risco para mortes prematuras e incapacitações em nível global.
Na nova escala, os danos para o usuário incluem mortes causadas direta ou indiretamente pelas drogas, além de dependência e perda de relacionamentos. Os danos para os demais incluem criminalidade, dano ambiental, conflitos familiares, danos internacionais, custos econômicos e prejuízos à coesão comunitária.

Numa escala de 0 a 100, o álcool aparece com 72 pontos, seguido pela heroína (55) e o crack (54). Algumas outras drogas avaliadas foram as metanfetaminas (33), cocaína (27), tabaco (26), anfetaminas (23), maconha (20), benzodiazepinoicos (como Valium) (15), ketamina (15), metadona (14), mefedrona (13), ecstasy (9), esteroides anabolizantes (9), LSD (7) e cogumelos alucinógenos (5). Com informações da Reuters.

sábado, 1 de outubro de 2011

‘Cogumelos Mágicos’ podem alterar personalidade por longo tempo



Fonte: O Globo - impresso (RJ)

Coluna: Ciência

Data: 30 de setembro de 2011

Estudo revela mudanças no processamento de idéias abstratas



Basta apenas uma grande dose do alucinógeno psilocibina, ingrediente ativo dos chamados “cogumelos mágicos”, para provocar alterações de personalidade mensuráveis e de longo prazo, revelou estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, nos EUA. Segundo os cientistas, as mudanças aconteceram na área da personalidade conhecida como “abertura”, associada a traços como imaginação, estética, sentimentos e idéias abstratas.



As alterações nessas características foram verificadas em quase 60% dos 51 participantes do estudo e duraram ao menos um ano. Além disso, as mudanças de personalidade provocadas pelo alucinógeno – medidas com questionários de avaliação – foram em magnitude maior do que as alterações observadas em adultos saudáveis como conseqüência do acumulo de experiências ao longo de décadas de vida. Segundo os cientistas, outras pesquisas indicam que depois de 30 anos a personalidade de uma pessoa não costuma mudar significativamente.



- Normalmente, a abertura de uma pessoa tende a diminuir com a idade – afirma Rolland R. Griffiths, professor de Psiquiatria e Ciência Comportamentais da universidade e líder do estudo, publicado no “Journal of Psychopharmacology”.



Os voluntários passaram por duas a cinco sessões com oito horas de duração, espaçadas por pelo menos três semanas. Eles foram informados de que receberiam doses de moderadas a altas de psilocibina em uma dessas sessões, mas nem eles nem os monitores sabiam em qual delas. A cada sessão, os participantes foram encorajados a deitar em um colchão, usar uma venda nos olhos para bloquear estímulos visuais externos, ouvir música e focar sua atenção em experiências interiores.



A personalidade dos voluntários foi avaliada na sua inclusão no estudo, um a dois meses após cada sessão e cerca de 14 meses depois da última delas. Griffiths acredita que as mudanças encontradas são permanentes, já que se mantiveram por mais de um ano na maioria dos participantes.



Griffiths destaca que alguns dos voluntários relataram sentimentos fortes de medo e ansiedade nas sessões com a droga, mas nenhum reclamou de efeitos maléficos de longo prazo. Segundo ele, as alterações de personalidade foram verificadas principalmente nos participantes que relataram o que chamaram de “experiência mística”.



Para Griffiths, o estudo indica que a psilocibina pode ter usos terapêuticos. Atualmente, ele avalia se o alucinógeno pode ajudar pacientes com câncer a enfrentar a depressão e a ansiedade que acompanham o diagnóstico, ou fumantes inveterados a superarem o vício.

Amanita Muscaria

Fonte: Hempadão  - Portas da Percepção
Por: Fernando Beserra

Queridos leitores, confesso minha enorme alegria ao ver outro post na Hempada indo a fundo numa temática enteogênica (Jesus Cristo, um cogumelo!) com o conteúdo e humor característico dos posts do Hempadão. Não vamos entrar no mérito aqui se Jesus era ou não um cogumelo, mas, como Mario Bros, ao comer os benditos cogumelos, vamos tentar aumentar ou ampliar a informação dos leitores sobre estes misteriosos fungos. O Amanita muscaria é um cogumelo muito famoso no ocidente, embora desconhecido – sim, aceitamos o paradoxo da frase - isso porque ele é muito semelhante à velha casa dos smurfs, isso mesmo, aqueles pequenos bichinhos-duendes azuis que habitam a floresta, caçados pelo cruel – e psicodélico – alquimista Gargamel, que, nada mais quer, além de come-los.
O princípio ativo do Amanita muscaria e do Amainta pantherina foi isolado, em 1964, após longos equívocos sobre este princípio ativo (que supunha-se outro), em três laboratórios diferentes de modo quase simultâneo, a saber, no Japão (Takemoto), na Inglaterra (Bowden e Drysdale) e na Suíça (Catalfomo e Eugster). Em 1967 se chegou a um acordo internacional sobre o problema de nomenclatura de modo que foram chamados os compostos de ácido ibotênico (e, sua forma ativa, o muscimol). O Amanita também foi conhecido como “cogumelo mata-moscas” (hongo matamoscas). Um pesquisador, Scott Chilton, ingeriu 93 mg de ácido ibotênico (talvez a maior quantidade já ingerida) fez o seguinte relato:
"A instabilidade foi aumentando... Senti que qualquer movimento repentino poderia desprender a cabeça de meus ombros e começar a rodar. O campo de visão começou a girar lentamente... Só com grande esforço conseguia ler, posto que palavra impressa na página se movia de um lado para o outro sem rumo."
De fato o Amanita muscaria tem causado ampla discussão entre enteogenistas, pois muitos não consideram seu efeito enteogênico, havendo muitos relatos de simples “náusea”. Mas, registros históricos existem vários, e foi um coronel do exército sueco chamado Filip Strahlenberg, que ficou na Sibéria 12 anos como prisioneiro político, comentou em 1730: “Quando celebram uma festa, vertem água sobre alguns destes cogumelos e os fervem. A continuação fazem o licor, que os embriaga”. O próprio coronel fala sobre o consumo da urina, que era característica de populações pobres que não tinham acesso aos cogumelos. Esta via de utilização, que nos parece um tanto bizarra ou inadequada, de acordo com Jonathan Ott, é característica da pequena quantidade de Amanitas muscarias na Sibéria, assim como da pequena quantidade de psicoativos autóctones.
Mais uma curiosidade para os leitores do Hempadão se deve à Alice no País das Maravilhas, livro de Lewis Carroll que foi escrito estritamente baseado num livro publicado dois anos antes de Carroll começar a escrever sua obra monumental. O livro do naturalista britânico Mordecai Cubitt Cooke, de 1860, se chama “The Seven Sisters of Sleep” (As sete irmãs do sono), e trata-se da história “drogas” psicoativas, com um capítulo sobre o culto siberiano do Amanita. Cooke atraiu a atenção do público com informes que sustentavam que a ingestão do Amanita m. provocava macropsia (alteração da senso-percepção que leva a ver os objetos maiores que seu tamanho comum) ou o efeito contrário, a micropsia. Quem se lembra de Alice não terá dúvidas desta influencia já bem documentada.
Os Wasson tiveram influencia decisiva neste estudo através da publicação do livro: “Mushrooms, Rússia and History”, e o etnobotânico chega a separar as culturas entre “micofóbicas” ou “micólatras”, ou seja, aquelas que temeram os cogumelos ou fungos, e aquelas que os idolatraram. Wasson também chegou a sugerir que a “árvore da vida” e a “árvore do conhecimento do bem e do mal” do Genesis eram, na realidade, uma só árvore, o abedul siberiano, e que o fruto desta árvore não era outro que o cogumelo matamoscas que cresce em simbiose com o ‘abedul”.
Mas, como dissemos que não entraríamos no mérito do argumento de Allegro, paramos por aqui. Mas, loucura ou não, o fato é que no Afeganistão se fuma o extrato seco de Amanita e que conhecem pelo nome de “tshashm baskon” (o que abre os olhos) para o tratamento da psicose no vale de Shetul (Mochtar e Geerken), embora um estudo pormenorizado deste tema seja papo para uma nova conversa – com ou sem smurfs e dona Alice!