Por: Fernando Beserra
Queridos leitores, confesso minha enorme alegria ao ver outro post na Hempada indo a fundo numa temática enteogênica (Jesus Cristo, um cogumelo!) com o conteúdo e humor característico dos posts do Hempadão. Não vamos entrar no mérito aqui se Jesus era ou não um cogumelo, mas, como Mario Bros, ao comer os benditos cogumelos, vamos tentar aumentar ou ampliar a informação dos leitores sobre estes misteriosos fungos. O Amanita muscaria é um cogumelo muito famoso no ocidente, embora desconhecido – sim, aceitamos o paradoxo da frase - isso porque ele é muito semelhante à velha casa dos smurfs, isso mesmo, aqueles pequenos bichinhos-duendes azuis que habitam a floresta, caçados pelo cruel – e psicodélico – alquimista Gargamel, que, nada mais quer, além de come-los.
O princípio ativo do Amanita muscaria e do Amainta pantherina foi isolado, em 1964, após longos equívocos sobre este princípio ativo (que supunha-se outro), em três laboratórios diferentes de modo quase simultâneo, a saber, no Japão (Takemoto), na Inglaterra (Bowden e Drysdale) e na Suíça (Catalfomo e Eugster). Em 1967 se chegou a um acordo internacional sobre o problema de nomenclatura de modo que foram chamados os compostos de ácido ibotênico (e, sua forma ativa, o muscimol). O Amanita também foi conhecido como “cogumelo mata-moscas” (hongo matamoscas). Um pesquisador, Scott Chilton, ingeriu 93 mg de ácido ibotênico (talvez a maior quantidade já ingerida) fez o seguinte relato:
"A instabilidade foi aumentando... Senti que qualquer movimento repentino poderia desprender a cabeça de meus ombros e começar a rodar. O campo de visão começou a girar lentamente... Só com grande esforço conseguia ler, posto que palavra impressa na página se movia de um lado para o outro sem rumo."
De fato o Amanita muscaria tem causado ampla discussão entre enteogenistas, pois muitos não consideram seu efeito enteogênico, havendo muitos relatos de simples “náusea”. Mas, registros históricos existem vários, e foi um coronel do exército sueco chamado Filip Strahlenberg, que ficou na Sibéria 12 anos como prisioneiro político, comentou em 1730: “Quando celebram uma festa, vertem água sobre alguns destes cogumelos e os fervem. A continuação fazem o licor, que os embriaga”. O próprio coronel fala sobre o consumo da urina, que era característica de populações pobres que não tinham acesso aos cogumelos. Esta via de utilização, que nos parece um tanto bizarra ou inadequada, de acordo com Jonathan Ott, é característica da pequena quantidade de Amanitas muscarias na Sibéria, assim como da pequena quantidade de psicoativos autóctones.
Mais uma curiosidade para os leitores do Hempadão se deve à Alice no País das Maravilhas, livro de Lewis Carroll que foi escrito estritamente baseado num livro publicado dois anos antes de Carroll começar a escrever sua obra monumental. O livro do naturalista britânico Mordecai Cubitt Cooke, de 1860, se chama “The Seven Sisters of Sleep” (As sete irmãs do sono), e trata-se da história “drogas” psicoativas, com um capítulo sobre o culto siberiano do Amanita. Cooke atraiu a atenção do público com informes que sustentavam que a ingestão do Amanita m. provocava macropsia (alteração da senso-percepção que leva a ver os objetos maiores que seu tamanho comum) ou o efeito contrário, a micropsia. Quem se lembra de Alice não terá dúvidas desta influencia já bem documentada.
Os Wasson tiveram influencia decisiva neste estudo através da publicação do livro: “Mushrooms, Rússia and History”, e o etnobotânico chega a separar as culturas entre “micofóbicas” ou “micólatras”, ou seja, aquelas que temeram os cogumelos ou fungos, e aquelas que os idolatraram. Wasson também chegou a sugerir que a “árvore da vida” e a “árvore do conhecimento do bem e do mal” do Genesis eram, na realidade, uma só árvore, o abedul siberiano, e que o fruto desta árvore não era outro que o cogumelo matamoscas que cresce em simbiose com o ‘abedul”.
Mas, como dissemos que não entraríamos no mérito do argumento de Allegro, paramos por aqui. Mas, loucura ou não, o fato é que no Afeganistão se fuma o extrato seco de Amanita e que conhecem pelo nome de “tshashm baskon” (o que abre os olhos) para o tratamento da psicose no vale de Shetul (Mochtar e Geerken), embora um estudo pormenorizado deste tema seja papo para uma nova conversa – com ou sem smurfs e dona Alice!
1 comentários:
é impressionante a relação dos cogumelos com , livros, filmes, desenhos etc... ótimo texto, aprendi mta coisa
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