O Conselho Federal de Psicologia (CFP) tem agido de forma muito correta ao abordar o tema “drogas”. O CFP se colocou no centro das discussões atuais sobre as políticas de tratamento a usuários de substâncias psicoativas, especialmente do, assim chamado, “crack”. É opinião manifesta, por muitos grupos conservadores, a defesa da internação compulsória de usuários de crack. A defesa aberta destes grupos, com significativa influencia política, atenta não só contra a democracia e o direito de ir e vir, mas certamente fere os alicerces da Reforma Psiquiátrica brasileira, conquistada com muito suor por ativistas, usuários e seus familiares que combateram veementemente os malefícios e violações dos direitos humanos perpetrados pelas longas e compulsórias internações manicomiais. Através de longa série de debates, tornou-se cada vez mais regulamentada a internação no Brasil, e procurou-se abolir as injustificadas longas internações. Desta forma, criaram-se programas e ações visando a tratamentos em liberdades dos usuários dos serviços de saúde mental, sendo grandes exemplos os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e as Residências Terapêuticas (RT´s), inclusive um dispositivo para tratamento para o uso indevido de substâncias psicoativas, o CAPS ad – além das equipes de redução de danos.
Entendeu-se que esta classe de internações era daninha para os usuários que acabavam ficando “mofando” nos hospícios, sendo destratados por um mecanismo de “limpeza” da cidade e de suas diferenças internas, ou seja, o que incomodava, era descartado num canto distante da visão para que as ruas “limpas”, “higienizadas” e cheirosas pudessem dar votos a canalhas políticos e promover o “turismo”. O mecanismo de exclusão funcionava também como forma de controle de atitudes desviantes, política ou moralmente, sendo assim, muitos militantes de esquerda foram trancafiados nas masmorras “terapêuticas”.
Os sistemas fechados, instituições totais, de tratamentos são incapazes de simular a realidade cotidiana e criam lógicas de estar e viver distintas das necessidades da vida na cidade, sendo assim, não promovem a reabilitação psicossocial, mas, ao contrário, comumente fortalecem a distância e a associabilidade, como foi bem tratado por Gofmann em seu ilustre livro: ‘Manicômios, Prisões e Conventos”
É preciso dar um basta a intolerância e combater os estigmas, fortalecendo maneiras de tratamento baseadas nos direitos humanos, na redução de danos, e na liberdade, potencializando sempre a autonomia dos sujeitos para escolhas claras e conscientes, ao invés de impor modos de conduta duvidosos. Hoje, não há mais dúvidas de que o usuário de substâncias psicoativas tornadas ilícitas é a pedra de escândalo, exposto as mais diversas formas de atropelamento dos direitos democráticos, pois é “menos-gente”.
Tendo este entendimento, é com alegria que vemos a abertura do site “Psicologia – Drogas – Cidadania” do Conselho Federal de Psicologia (http://drogasecidadania.cfp.org.br/) e acreditamos que um dia este mesmo Conselho possa dar ainda um passo ainda adiante, assim como nosso common sense, em direção a clareza da intensificação dos potenciais positivos na psicoterapia que podem ser catalizados pelo uso de psicoativos.
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