Opinião:
Não há dúvidas de que o cloridrato de cocaína é uma das substâncias psicoativas que causou muitos agravos a saúde pessoal de seus consumidores desde seu isolamento da coca. O uso da cocaína, além de um fácil agente "indutor" de dependência - a qual devemos considerar múltiplos fatores para que ocorra - pode causar muitos agravos a saúde se usada indevidamente. Estamos muito longe, aqui, evidentemente, da enteogenia.
Por outro lado, estamos muito próximos a política de drogas e da política ambiental, ao pensarmos sobre este estudo e ele revela, mais do que tudo, a nossa hipocrisia. Embora governos gastem fortunas no combate a cocaína, ninguém se atreve a enfrentar de frente o problema da poluição, com implicações econômicas muito grandes.
E o que diabos vale mais? Vale mais para os políticos corruptos entrar numa guerra justificada pela mídia retrógrada, defensora das grandes empresas, do que questionar os nossos maiores problemas, como o iminente fracasso de nossas políticas ambientais para gerar uma real mudança na organização de nossos recursos, isto é, para criar um modelo de sociedade realmente sustentável.
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Estudo mostra que ar poluído das grandes cidades é um dos maiores gatilhos para ataques cardíacos
Conclusão é de uma revisão de 36 pesquisas envolvendo cerca de 700 mil pessoas expostas aos riscos
MARIANA VERSOLATO
DE SÃO PAULO
Respirar ar poluído causa mais ataques cardíacos que usar cocaína, segundo revisão de estudos envolvendo 700 mil pessoas, publicada ontem no “Lancet”.
O trabalho, feito pela Hasselt University, na Bélgica, cruzou fatores de risco para infarto e a exposição da população a esses fatores.
É por isso que a poluição ficou em primeiro lugar. Individualmente, aumenta apenas 2,9 vezes o risco de infarto, em comparação com a cocaína (23 vezes).
Mas, como a população toda é exposta à poluição, e apenas uma fração pequena usa a droga (0,04%), a poluição desencadeia muito mais infartos do que a cocaína.
O estudo também coloca em patamares semelhantes os riscos da poluição e de outros fatores mais conhecidos, como esforço físico e consumo de álcool e de café.
Para o médico epidemiologista Luiz Alberto Pereira, do Laboratório de Poluição Atmosférica da USP, é esse o mérito do estudo.
Segundo Pereira, a poluição não é valorizada como fator de risco e ainda há muito ceticismo a seu respeito.
“O estudo pode fazer com que os clínicos finalmente olhem para a poluição como fator de risco relevante para infarto. Não se pode mais menosprezar um risco de 7%, similar ao do álcool.”
Os gatilhos fazem a doença preexistente piorar ou se manifestar. No caso da poluição, a piora da qualidade do ar pode causar um infarto poucas horas depois da exposição em quem tem hipertensão ou problemas cardiovasculares.
Mas mesmo pessoas saudáveis podem sofrer dano e ter o risco de infarto aumentado ao longo do tempo, principalmente se morarem em cidades como São Paulo, diz o pneumologista Ubiratan de Paula Santos, do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Já aqueles que se protegem com medicamentos para pressão alta e se expõem menos aos riscos sofrem menos os efeitos dos gatilhos.
OUTROS FATORES
Ao todo, o trabalho revisou 36 pesquisas. A partir delas, foi feito um ranking de 13 fatores de risco que estimularam infartos uma hora ou dez dias depois do estímulo.
Alguns desses fatores são uso de maconha, emoções positivas e negativas, atividade sexual e refeições pesadas. O fumo passivo não foi incluído no estudo, mas os autores dizem que seus efeitos são similares aos da poluição ao ar livre, e há a evidência de que banir o fumo em lugares públicos reduziu as taxas de infarto em 17%.
O esforço físico, que pode proteger o coração se é feito com regularidade, é o segundo principal fator de risco, para quem é sedentário ou esportista de fim de semana.
Da mesma forma, o álcool, terceiro no ranking dos gatilhos, pode ser um fator de proteção quando consumido em pequenas quantidades.
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