domingo, 21 de agosto de 2011
 
Cumprindo a função de informar e trazer sempre novidades do mundo canábico,  desta vez, o blog Maconha da Lata conversou com o jornalista Neco Tabosa, que  também é diretor de curta-metragens e ativista antiproibicionista.
 
Tabosa contou um pouco, em um bate-pao bastante descontraído, como é ser  ativista no Brasil e expôs suas ideias sobre o nosso tema principal: a  MACONHA!
1- Qual a sua opinião sobre a atual lei antidroga do  Brasil?
 
A lei brasileira é boa, moderna e extremamente avançada. Veja o cenário da  Califórnia por exemplo: lá, uma emenda estadual apenas recomenda o afrouxamento  da pena a quem facilitar o plantio e venda de Cannabis medicinal e os cidadãos  já promoveram aquela revolução comportamental que gera um aumento incrível de  renda com impostos e taxas. O PHD em THC, Sergio Vidal, costuma dizer que se a  Califórnia tivesse uma lei como a brasileira, eles estariam exportando maconha  medicinal pra todo o mundo.
 
Aqui a lei é bem clara: é possível plantar maconha legal para fins religiosos  e de pesquisa. Basta ter a autorização da Anvisa. Só que essa autorização nunca  foi dada a nenhuma organização, isto porque surgem os entraves legais: é preciso  ser uma empresa cadastrada com CNPJ, com funcionários comprovadamente  especializados em botânica, biologia e tal e tal…
 
Já ouviu um ditado que diz “No Brasil tem lei que pega e lei que não pega”?  Pronto, é por aí. Em Salvador por exemplo, dirigir com o cinto de segurança  afivelado é uma lei que não pegou; experimente pegar um taxi no Pelourinho.  Plantar maconha legalizada é uma lei que ainda não pegou no Brasil, mas vai  rolar, não tenho duvidas. A demanda é muito alta.
 
2- O que significa ser um ativista da Maconha no Brasil? Quais as  dificuldades e recompensas?
 
Desconfio que ativismo de qualquer espécie é sempre trabalho pra caralho e  nenhuma remuneração. Como trabalho com jornalismo, já sou meio acostumado com  essa prática. Então vou tocando os projetos de blog, livros, camisetas e eventos  à medida que posso. E fico feliz com os resultados. Isso paga a dedicação.
 
A recompensa vem dos resultados que vem aparecendo lentamente (como a mudança  da lei da doação de sangue, feita pelo Ministério da Saúde em junho desse ano,  quando passou a enxergar o usuário de maconha como parcela da sociedade a ser  respeitada, e baixou a exigência de abstinência de 12 meses para 12 horas.)Além  disso, vira e mexe o ativismo faz você ganhar algum presente 

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3- Você realmente acredita que com a descriminalização da Maconha, o  tráfico vá sofrer um grande golpe financeiro?
 
Acho que ninguém tem essa resposta exata. Essas redes criminosas trabalham  com o transporte e venda de maconha, porém, também com a compra de Deputados  antes das votações de emendas constitucionais, com licitações para servir  merenda escolar podre; com superfaturamento de material na construção de  estádios pra Copa; Além de serem pessoas extremamente inteligentes, que sabem  aproveitar cada oportunidade de implementação de novos negócios.
 
4- Qual sua opinião sobre a cobertura do assunto Maconha dentro das  mídias brasileiras, principalmente o que chamamos de grandes mídias, como os  grandes veículos de comunicação?
 
Bem lembrado. Ia esquecendo de citar sistemas de comunicação como parte dos  negócios ilícitos de grandes grupos empresariais no país. Em outros lugares  existe regulamentação do Estado para o exercício da difusão de notícias e de  coisas parecidas com notícias. Há limitações na atuação no setor de tevê se a  empresa tiver um jornal for de circulação nacional, por exemplo:. Aqui quanto  maior, melhor porque cada empresa imprime o que quiser, disfarçando apoio  político como editorial, sendo obrigada, no máximo, a se justificar na justiça  depois do estrago feito. Infringem leis, elegem culpados, julgam e executam na  primeira página. Esses caras realmente pensam em tudo. Acaba virando um sistema  judiciário paralelo, contudo só pros interesses deles.
 
A agenda da conversa no boteco é acertada por esses veículos, a tal opinião  pública,que é usada como justificativa para a bizarrice do modelo Rupert Murdoch  de eleger culpados e fazer investigações paralelas. Nesse sentido, a Veja e o  News of the World são bem parecidos.
 
Com o assunto maconha é a mesma coisa. Preconceito, apuração mal feita,  distorção do que foi dito! Se não for um dos sócios do esquema falando, nem um  assunto sobre o qual eles possam lucrar em cima, é tudo mais ou menos feito com  má vontade.
 
Uma vez ou outra um colega mais bem intencionado consegue furar o bloqueio e  lançar um pouco de luz sobre o debate em um desses jornais, mas na grande  maioria temos que contar com a informação segmentada, garimpada, humilhada,  feita em livrinhos marginais ou em blogs como aqui no Maconha da Lata 

 Alguma  coisa sobre “a revolução não ser televisionada”, “tá ligado”?
 
Muito normal nos anos 70 nos Estados Unidos (quando Gil Scot Heron lançou a  música “The Revolution will not be Televised” ) e ainda normal no Brasil em  2011.
 
 
5- Para você, o debate sobre a descriminalização da Maconha ainda  esbarra muito nos preconceitos de um país que tem suas raízes ligadas fortemente  ao catolicismo?
 
Acho que não. A limitação do pensamento é extremamente eficiente quando feita  pela religião, mas acho que fatores como baixo índice de educação, falta de  acesso às informações e espaços onde possamos praticar o debate e a crítica, são  bem piores nesse sentido.
 
Área de reunião em quase todos os bairros do Brasil é salão de beleza, bar,  lan house; ou em volta da televisão na hora da novela. Vai sair o que dessa  hipnose?
 
6- Você concorda ou discorda que o momento atual, o que chamamos de  era da informação e novas tecnologias, acaba por favorecer o tipo de discussão  como a descriminalização da Maconha?
 
Concordo totalmente. Sem acesso ao flickr – pra ver como foi a Marcha da  Maconha no Rio em 2007 – ou sem poder ler em sites sobre as marchas no Canadá e  nos Estados Unidos, eu não tiraria o pé de casa pra ir à Marcha da Maconha. Esse  sistema foi fundamental para conhecer outras pessoas que estavam formando grupos  de organização do evento em suas cidades em 2008.
 
Hoje em dia, pra cada matéria na Trip, existem uns 20.000 posts. As mentiras  de qualquer jornal podem ser debatidas no fórum do Growromm, pelo Twitter.
 
Nada disso seria assim tão rápido e transparente sem essas ferramentas.
 
7- Porque você acha que a Maconha ainda sim é proibida no  Brasil?
 
Dizem que Einstein lançou essa um dia: “A humanidade precisa evoluir para a  Pré-historia”. São 50 anos de proibição da Cannabis em escala global. Antes  disso, foram séculos e séculos de boas relações da humanidade com essa  planta.
 
Se espalhar várias mentiras sobre o assunto levou 50 anos para começar a ser  contestado, com essa força atual, quanto tempo levaremos pra saber as verdades?  Veremos…
 
8- Qual sua opinião sobre o cultivo caseiro de Marijuana em pequenas  quantidades?
 
A mais perfeita tradução do lema “a revolução começa em sua casa”. Né não?  Mas tem que saber fazer…
 
9- Você acredita que no futuro de fato podemos tem um sistema de  combate ás drogas estilo o holandês ou o português, por exemplo?
 
Não acredito numa coisa que se chame política de combate às drogas. Ás vezes  leio num jornal: “Crentes contras as drogas” ou “Governo contra as drogas”. Quem  quiser que caia. Não existe erradicação possível das drogas. Existe sim uma  educação possível para o consumo de substâncias. Psicoativas ou não.
 
De qualquer maneira, o sistema empregado para tratar organizadamente o  assunto no Brasil, será único. Pelas condições geográficas e pelo nível de  educação da população.
 
10- Deixe uma mensagem para os leitores do blog Maconha da Lata e  também dicas para quem quiser se juntar à causa e se tornar um  ativista
 
Leia muito. Aja. Pense. E desconfie de quem lança frases de estímulo como  “Leia muito… Aja… ou Pense”. 

 É  isso!