sexta-feira, 30 de abril de 2010

Dissolução do eu na totalidade.

Gostaria de agradecer ao convite do Fernando pra que eu pudesse contribuir com o Blog. Espero poder contribuir da melhor maneira possível.. escrevi um texto hoje sobre um assunto que já vinha pensando em escrever há algum tempo.. a agora venho aqui compartilhar..

um abraço,

Lupa



Dissolução do eu na totalidade.

Uma grande dificuldade de falar sobre experiências enteogências é a limitação da linguagem pra exprimi-las. Ao assumir o desafio de escrever sobre elas, devo estar consciente de que nem de longe conseguirei alcança-la com minhas palavras. Além disso, sei também de que a linguagem que utilizarei será melhor assimilada por aqueles que tem alguma experiência com os enteógenos, pois as palavras poderão remeter às lembranças de suas próprias experiências. Entretanto, meu objetivo é falar a todos os interessados pelo assunto, independentemente se já tiveram ou não experiências da natureza que tentarei descrever. Àqueles que nunca exploraram as profundezas de seu Ser pelo viés da experiência enteogênica, fica aqui uma tentativa de demonstrar o indemonstrável. O que escrevo nas linhas que seguem não é, de maneira nenhuma, uma tentativa de oferecer um panorama definitivo sobre a experiência de morte do eu, é antes de tudo, uma forma particular de descrever algo que vivi. Portanto não tenho a pretensão de definir uma verdade, se é que isso é possível, mas apenas de falar livremente.

Relatos de experiências de morte e renascimento são bastante comuns entre os psiconautas. Há relatos variados de experiencias de morte simbólica e outros em que a morte é experienciada como física, onde se tem uma sensação de morte literal. Em um tipo de experiência não tão incomum, o indivíduo percebe que seu eu deixa de existir enquanto unidade delimitada pela personalidade (morre simbolicamente) e pode identificar-se, por exemplo, com processos inorgânicos, com animais, com outras pessoas, com o planeta terra ou com a totalidade da existência. Devido o potencial transformador do enteógeno, há ainda aqueles que afirmam terem morrido para um eu antigo e renascido para um novo eu após a experiência. Embora todas essas formas de morte possam se relacionar de alguma maneira, podem também se apresentar de maneira independente. Por exemplo, um indivíduo que passou por uma experiência de morte literal, assim como alguém que tenha sentido que renasceu para um novo eu, pode ou não ter vivenciado uma morte simbólica do eu, onde os limites da personalidade são transcendidos e há uma identificação com a totalidade. Portanto, a morte é um tema bastante amplo dentro da experiência enteogênica, e me ocuparei unicamente de um tipo específico de experiência, onde o eu torna-se o todo.

Abrindo a conversa: pesquisadores de enteógenos devem utilizá-los?

Vou colocar um texto do Ott que traduzi, mas em breve posto um texto meu sobre o assunto.. enquanto isso fica para os leitores a pergunta: "pesquisadores de enteógenos deveriam utilizá-lo para terem maior conhecimento sobre o assunto?"


Jonathan Ott, Pharmacotheon 1996, p.147, nota 13


Este aspecto também é tema de debate entre acadêmicos. Aos cognoscenti resulta óbvio que os autoexperimentos são um pré-requisito necessário para a investigação no estudo dos enteógenos. Os efeitos dos enteógenos são de tal maneira um produto do ambiente e da disposição individual set e setting que o investigador naive corre o perigo de projetar sua própria parcialidade nas experiências do sujeito experimental. Como R.Gordon Wasson expressou tão eloquentemente: “se há acusado aos círculos profissionais dos psiquiatras, que haviam tomado os fungos e haviam conhecido a experiência em toda sua dimensão, de que já não poderiam ser ‘objetivos’. Disto concluímos que estamos divididos em dois grupos: os que temos tomado fungos e estamos desqualificados por nossa experiência subjetiva e, por outra parte, aqueles que não tem tomado fungos e estão incapacitados por sua total ignorância sobre o tema” (Wasson 1961). Ademais se deveria sublinhar que os três enteógenos mais importantes: mescalina, LSD e psilocibina, foram descobertos por psiconautas; por químicos enquanto evoluíam suas preparações químicas mediante auto-experimentos. Os químicos que, como Louis Lewin, que intentou isolar o princípio enteogênico do péyotl (ver capítulo 1), ou como James Moore, que intentou isolar o princípio enteogênico do teonanáctl (ver capítuo 5), baseando-se exclusivamente em experimentos com animais para determinar a atividade dos extratos, fracassaram inevitavelmente. Foi Arthur Heffter quem descobriu a mescalina, provando uma série de extratos de péyotl em si mesmo. Igualmente foram Albert Hofmann e seus colegadas os que, provando extratos de teonanáctl neles mesmos, descobriram a psilobicina e a psilocina (Heffter 1898; Hofmann et al 1958). Com base em provas com animais em 1938 os farmacólogos da casa Sandoz concluíram que o LSD era de escasso interesse farmacológico. Foi também o pressentimento de Albert Hofmann o que o levaria cinco anos mais tarde a sintetizar de novo o composto, abrindo assim o caminho a descoberta casual de seus efeitos em si mesmo (Hofmann 1980). A pesar de tudo isto, os investigadores tem utilizado grande variedade de animais, desde aranhas (Christiansen et al. 1962; Witt 1960), até gatos domésticos (Diaz 1975) ou elefantes (Cohen 1964), em uma vã busca de um esquivo modelo animal de “alucinose”. Ver também o capítulo 4, nota 6.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Saiu o HC da Marcha da Maconha RJ!

fonte: growroom

28 de abril de 2010

Diretamente do site do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro trazemos a notícia que todos esperávamos. Foi concedido o Habeas Corpus da Marcha da Maconha do Rio de Janeiro. Agora é oficial, todos os cidadãos e cidadãs podem ir às ruas no próximo dia 1 para manifestar sua opinião a respeito da legalização da maconha. Espalhe a boa nova e compareça no próximo dia 1, no Jardim de Alah, às 14hs, munido da suas idéias e opiniões!

Veja a íntegra da decisão: CLIQUE AQUI
Discuta o Assunto no Fórum: CLIQUE AQUI

[...] Isso posto, concede-se a ordem para possibilitar ao paciente a participação na manifestação prevista para o dia 1º/5/2010. Estende-se a ordem, de ofício, para todos os demais participantes que, tal qual o paciente, pretendeam participar democraticamente, sem usar e sem incentivar o uso da substância entorpecente referida. Expeça-se salvo conduto, encaminhando-se cópia à Delegacia da área e à Polícia Militar.

Reta final: Marcha da Maconha - RJ

Últimas panfletagens e a Marcha 01 de Maio..



Quarta-feira (hoje):
 16h Farani
18h FACHA (Botafogo)

5ª feira:
11h Cândido Tijuca
18 h PUC
(Marquês de São Vicente)

6ª feira:
23h Lapa

Sábado:
12h30 Posto 9

E matéria no Hempadão

terça-feira, 27 de abril de 2010

Parte II: “Origens do termo enteógeno”


Parte II: “Origens do termo enteógeno”


Pharmacotheon - > P. 19-20 (Proemium)


Nas palavras de Jonathan Ott (tradução enteogenico):


Este livro versa sobre estes maravilhosos enteógenos, seus misterioso sacramentos vegetais e os princípios ativos que contém. O termo “enteógeno” foi proposto pelos filólogos Carl A. P. Ruck e Danny Staples, pelo pioneiro no estudo dos enteógenos, R. Gordon Wasson, pelo etnobotânico Jeremy Bigwood e por mim mesmo. O neologismo deriva de uma antiga palavra grega que significa “volver-se divino interiormente”, terminou que usaram para descrever estados de inspiração poética e profética e para descrever um estado enteogênico induzido por plantas sagradas.


Este termo substitui as palavras pejorativas “psicotomimético” e “alucinógeno” com suas conotações de psicose e alucinação ou a palavra “psiquedélico” que se associa a cultura popular dos anos sessenta (música, arte psiquedélica, etc), o qual faz que seja inapropriado para referir-se ao uso chamânico de uma planta. Resumi a lógica que justifica o uso da palavra enteógeno no capítulo 1, nota 1 e sugiro ao leitor que consulte os estudos originais donde foi proposto o termo (Ruck et at, 1979; Wasson et al, 1980b).

domingo, 25 de abril de 2010

Origem do termo Enteogenos e outras falas de Jonathan Ott


Como o pesquisador de enteógenos sabe, é difícil encontrar a origem do termo “enteógenos”. A maioria dos livros que fala sobre o assunto, por algum motivo qualquer, não esmiúça a origem do termo e quando muito fala de sua etimologia, mas não da sua origem histórica e de seus criadores. Para clarearmos definitivamente o assunto, nada melhor do que duas passagens do livro “Pharmacotheon: drogas enteogénicas, sus fuentes vegetales y su historia”. A tradução é nossa, pois infelizmente o livro ainda não se encontra traduzido. Vamos ao que interessa..

Nota sobre o texto

Como é imediatamente óbvio a partir do meu título, utilizo o neologismo enteógeno ao longo deste livro. Se trata de uma palavra nova, proposta por um grupo de estudiosos, entre os quais se encontram o Dr. R. Gordon Wasson, o professor Carl A. P. Ruck e eu. A partir da experiência pessoal sabemos que os embriagantes chamanicos não provocam “alucinações” ou “psicoses”, e como cremos que é uma incongruência referir-se ao uso chamanico tradicional de plantas psicodélicas (palavra pejorativa para muitos, que invariavelmente se associa com o uso ocidental da droga nos anos 60), cunhamos este novo termo em 1979 (Ruck et al. 1979). Descrevo em profundidade a história dos nomes das plantas sagradas no capítulo 1, nota 1. Alegra-me poder dizer que, quatorze anos depois de haver lançado o neologismo ao mundo literário, a palavra tem sido aceita pela maioria dos expertos neste campo e apareceu na imprensa em pelo menos sete línguas. Este termo não se refere a uma classe específica de drogas farmacológicas (alguns, por exemplos, entendem por psicodélicos; drogas indólicas e fenetilamínicas com um efeito tipo LSD ou mescalina), melhor designa drogas que provocam êxtase e têm sido utilizadas tradicionalmente como embriagantes chamanicos ou religiosos, assim como seus princípios ativos e seus congêneres artificiais.

Psilocibina no Fantástico

Assembleia do Acre resgata dívida histórica com mestres da Ayahuasca

Fonte: Bia Labate

Em sessão solene com a galeria e o plenário completamente lotados ontem (15), a Aleac entregou títulos de Cidadão Acreano “in memorian” aos fundadores das três principais comunidades tradicionais da ayahuasca: os maranhenses Raimundo Irineu Serra e Daniel Pereira de Matos e o baiano José Gabriel da Costa. A concessão dos títulos foi proposta em 2009 pelo deputado Moisés Diniz (PCdoB) e aprovada por unanimidade.

O evento reuniu representantes de diversas correntes religiosas e políticas e foi classificado pelo presidente da Mesa Diretora, deputado Edvaldo Magalhães (PCdoB) como o resgate de uma dívida histórica do Estado com três homens que ajudar a construir a história e a identidade do Acre. “Este momento é de reconhecimento por parte do Poder Legislativo, mas, mais importante que o reconhecimento, é a visibilidade a este debate para que a gente possa combater o preconceito, espantar a ignorância e afirmar que o povo acreano foi construído por muitas mãos”, declarou.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Novidades!

Se o blog está parado, o mesmo não se pode dizer em relação a vida de alguns de seus escritores.

Começamos esta semana, mais especificamente dia 22 de abril, o nosso grupo de estudo sobre enteógenos. Foi excelente e esperamos uma produção boa sobre o tema. Ainda esperamos novos interessados e para isso é importante que se entre em contato via este blog ou pelo email: fernando.beserra@hotmail.com ou ainda no msn: fernandoacrata@hotmail.com

Em breve mais dois novos escritores entrarão para o blog e novas notícias surgirão.

Enquanto isso, deixamos com a lembrança que dia 1 de maio temos a Marcha da Maconha aqui no Rio de Janeiro e que as organizações estão aceleradas. Segunda-feira oficina no mesmo hemp-horário no mesmo hemp-local, DCE da UFRJ campus Praia Vermelha.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

 
 
"The National Institute for Occupational Safety and Health, 
a branch of the Center for Disease Control, 
rated psilocybin less toxic than aspirin."
 
 
 
 

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Novas pesquisas cienttíficas com enteógenos

Hallucinogens Have Doctors Tuning In Again
Texto de John Tierney do NY Times
Linkado no site da Bia Labate
Tradução: Enteógenico (é nois mesmu!)

Como psicólogo clínico aposentado, Clark Martin estava bastante familiarizado com os tratamentos tradicionais para depressão, mas seu caso parecia intratável enquanto ele lutava com a quimioterapia e outros regimes fatigante para o câncer de rim. Aconselhamento parecia inútil para ele. Assim como as pílulas antidepressivas que ele tentou.

Nada tinha qualquer efeito duradouro, até que, na idade de 65 anos, ele teve sua primeira experiência psicodélica. Ele deixou sua casa em Vancouver, Washington, para participar de um experimento na escola médica Johns Hopkins, envolvendo a psilocibina, a substância psicoactiva encontrada em certos cogumelos.

Os cientistas estão tendo um novo olhar sobre os alucinógenos, que se tornou um tabu entre os reguladores após entusiastas como Timothy Leary promoveram nos anos 1960 com o slogan "Turn on, tune in, drop out". Agora, usando protocolos rigorosos e garantias, os cientistas obtiveram permissão para estudar mais uma vez o potencial das drogas para o tratamento de problemas mentais e iluminando a natureza da consciência.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Panfletagens Marcha da Maconha RJ

Pessoal querido,

A luta pela legalização da maconha continua, insurgindo-se contra os dogmas da Guerra as Drogas e no RJ a Marcha da Maconha já tem data marcada para acontecer:

1 de Maio

Já que usuário de cannabis também é trabalhador.

Mais do que isso, seria bacana que o pessoal desse uma força nessa reta final de organização da marcha. Já estão rolando panfletagens. Hoje aconteceu no IFCS. As outras datas seguem abaixo para a galera que puder dar uma força para alterarmos a atual absurda política de drogas.

4ª feira:

11h30 PUC

5ª feira:

12h30 P. Vermelha (encontro DCE-UFRJ)

22h Casa da Matriz

6ª feira:

11h Fundão Bloco A do CT

23h Lapa (Joaquim Silva em frente ao Semente)

2h Digital Dubs(Rua do Resende 26, Lapa)

Sábado:

13h Posto 9

22h Lapa (Joaquim Silva em frente ao Semente)

Domingo:

13h Posto 9

Segunda:

14h Praia Vermelha (encontro DCE-UFRJ)

19h Reunião da Marcha da Maconha (DCE-UFRJ)


É isso.
Qualquer coisa, entrem em contato.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Renato Cinco novamente expulso pela censura do Orkut

Fonte: Sobre Drogas

O sociólogo Renato Cinco, líder do coletivo Marcha da Maconha aqui no Rio e defensor de mudanças na legislação brasileira sobre drogas, teve seu perfil apagado do Orkut. Pela terceira vez...

Como sabemos que o Orkut não apaga perfis de forma unilateral, conclui-se que a ação seja resultado do acúmulo de denúncias, feitas pelos próprios usuários, contra o perfil do sociólogo, que já acumulava cerca de mil amigos (ele tem um outro, mais novo, com cerca de 120 amigos, que ainda está ativo).

Imagino que os denunciantes sejam internautas que provavelmente ficaram "chocados" com o "mau-exemplo" de quem exerce o direito de defender suas próprias ideias. E isso é que é o mais assustador...

Ao que parece , o universo digital começa a reproduzir a estupidez e a intolerância tão comum no mundo concreto, repleto de gente que não ouve, não vê, não entende, não gosta e não quer nem saber, mas acha que já sabe tudo e não precisa aprender mais nada. Terrível...

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Discurso da Deputada Federal Perpétua de Almeida em defesa da Ayahuasca

Enquanto a Dilma faz apologia da verdadeira droga (no sentido pejorativa do termo) chamada Proibicionismo tem gente que ainda defende a religiosidade brasileira. Religiosidade que merece o seu reconhecimento e não o preconceito estupido que lhe é atribuido por uma saraivada de ignorancias da grande mídia. (ver: Dilma e o proibicionismo no DAR)

Li o texto inicialmente da deputada, sobre a religiosidade ligada ao ayahuasca, no site da Beatriz Labate

O excelente discurso da Deputada Federal Perpétua de Almeida, pode ser lido no Jornal Feira Hoje, aqui

Infelizmente, em termos eleitorais, no que se refere os candidatos que disputam a presidencia a coisa continua obscura. Da direita a suposta esquerda, vemos a defesa quase generalizada do proibicionismo.

A saída parece que precisa vir das ruas. Dos blogs, das marchas, dos protestos, do grito, da arte, da religião, da redução de danos e todos aqueles que colocam suas faces a frente para apontar o virus chamado proibicionismo.

Diante de tamanha infamia governamental, e suas poucas oposições, podemos ter certeza de que ainda existe política além do voto!

Nosso LSD tem anfetamina?

Fonte do post: coletivo DAR (Desentorpecendo a razão), que está com esta nova excelente seção: Caçadores de Narco-mitos.
Além de entorpecido pelo discurso oficial, que forja consensos para justificar o injustificável da proibição de algumas substâncias psicoativas, o universo das drogas é cercado por diversos mitos, que ninguém sabe ao certo de onde vieram e nem temos muitos argumentos para questioná-los. Semente de maconha dá dor de cabeça? Aconteceu de verdade o verão da lata? LSD tem anfetamina? O crack foi fabricado pelo governo dos EUA?

Algumas dessas questões podem ter resposta afirmativa, outras não, outras podem nem ter resposta. Nosso objetivo neste caso é apenas questionar. Para inaugurar a seção – que não terá peridiocidade definida – fomos atrás de informações para saber se os docinhos vendidos por aí contém ou não anfetamina. Confira, sugira novos mitos, participe com a gente do processo de desentorpecimento da razão.

BLOTTER DE LSD-25 COM ANFETAMINA?

Como muitos já ouviram, corre o boato de que os “blotters” (papel absorvente) de LSD-25 (dietilamida do ácido lisérgico), o popular “doce”, vendidos nas ruas contém anfetaminas (ou fenilisopropilaminas). Isso porque, diversas vezes, quando tomam a substância, alguns usuários relatam um gosto amargo (LSD-25 não tem gosto) e sentem o efeito “speed” semelhante ao provocado pela ingestão de anfetaminas. Assim, de cara, a maioria compra a ideia e sai replicando tal informação. Dessa maneira nascem os mitos e aos mais inquietos resta à investigação. Com isso, este post objetiva desconstruir e enterrar de uma vez por todas a “lenda do “blotter” de LSD com anfetamina”, contribuindo para o desentorpecimento da razão.


terça-feira, 6 de abril de 2010

Pequeno Dicionário de Psicodelia

Da galera que escreve aqui e 
quiser adicionar mais coisas é 
muito bem vinda.

Algumas considerações sobre a Ipomoea Violacea


Algumas considerações sobre a Ipomoea Violaceae


Contexto histórico


Substâncias enteogenicas são utilizadas desde os tempos mais remotos, sendo plausível a hipótese mesma de que os deuses tenham sido criados no contexto do efeito destas plantas, fungos ou outros agentes enteogenicos. Mas nem sempre elas foram vistas com bons olhos. Consideradas, tantas vezes, alimentos dos deuses por xamãs ou pajés, após o advento do cristianismo e sua institucionalização a grande maioria destas substâncias foram consideradas frutos do diabo e seus usuários perseguidos, assim como suas culturas. Vale a pena um relato sobre o consumo do ololiuhqui no tempo da colonização européia:


“É notável a grande fé que estes nativos têm na semente (...), a consultam como um oráculo para inteirar-se de muitas coisas, especialmente aquelas em que a mente humana não pode penetrar (...) Consultam isto através de seus enganosos doutores, que praticam a ingestão do ololiuhqui como uma profissão (...) Se um doutor que não bebe ololiuhqui deseja liberar de algum mal um paciente o recomenda que tome esta bebida (...) o doutor determina o dia e a hora em que deve tomar-se a bebida e estabelecer a razão pela qual o paciente deve bebê-lo”.[1]


O uso das chamadas “plantas do poder” por povos indígenas se deu numa firme associação entre uso “medicinal” e uso religioso, já que em tais comunidades esta separação, tipicamente ocidental, muitas vezes não era estabelecida. Foi comum também, entre várias comunidades indígenas, o uso de “onirogenos”, produtores de sonhos, ou efeitos similares aos dos sonhos.


Muitas plantas de poder foram utilizadas em ritos dos povos que habitavam o país hoje conhecido como México. Richard Evan Schultes e Albert Hofmann situam a América Central e o México dentre os lugares mais ricos do planeta na presença de plantas enteógenas. Entre os povos usuários destas plantas, podemos citar os Mazatecas, que usavam em alguns de seus ritos o ololiuhqui (semente da Rivea Corymbosa), a ska-pastora ou salvia divinorum e o badoh negro (semente da Ipomoea Violaceae). A verdade é que os povos da América Central e sul da América do Norte conheceram centenas de substâncias psicoativas utilizadas em ritos, dentre elas, foram fundamentais pelo menos estas:


- Peiote (que contém como princípio ativo a Mescalina)

- Badoh Negro (que contém LSA)

- Ololiuhqui (que contém LSA)

- Teonanácatl (que contém psilocina e psilocibina)

- Salvia Divinorum (que contém salvinorina a)


domingo, 4 de abril de 2010

Grupo de Estudos

Este micro-post vai começar de maneira bem pessoal. Eu comecei o blog Istikhara com a finalidade de escrever sobre o assunto "substâncias psicoativas" passando por política de drogas, movimentos de resistência, antiproibicionismo, cultura, etc. Me senti bastante solitário naquele espaço, escrevendo sozinho, em muitos momentos colocando partes da monografia que estava produzindo na época...

Foi ai que tivemos uma idéia coletiva, a de fundar este blog.. e assim fizemos.

No entanto, o ambiente virtual tem suas claras limitações, especialmente no que se refere a uma proximidade pessoal que facilite uma produção realmente conjunta. E, diante desta nova necessidade de aproximação para fazer um trabalho mais organizado, mais bacana, surgiu a idéia, também coletiva, de formar um grupo de estudos.

Os objetivos acho que merecem ser debatidos no próprio grupo para ver exatamente por onde começar. Parece que no Brasil, embora tenhamos bons sites, ainda faltam grupos de estudo como o Erowid, Maps, dentre outros. Claro que não tenho essa pretenção de nos tornarmos um tal grupo brasileiro, mas realmente a idéia é podermos superar a mera divulgação de notícias com um raro ou outro texto elaborado.

Ainda estou conversando com os interessados para podermos marcar a 1a reunião do grupo, mas já coloco o anuncio no blog, pois se alguem estiver interessado já podemos estabelecer contato.

Deixo meu msn: fernandoacrata@hotmail.com

O grupo será no Rio de Janeiro - capital. Ainda sem mais informações.

sábado, 3 de abril de 2010

Prisão de José R. Godoy e abaixo-assinado pela sua soltura

No último dia 25 de março, foi preso o cidadão brasileiro José Roberto Godoy, portador do vírus HIV, que fazia uso da Cannabis de forma medicinal para aliviar os efeitos colaterais dos medicamentos utilizados para combater sua doença.

José Roberto foi acusado de tráfico de drogas, apesar dele mesmo anunciar em cartas e ofícios à autoridades municipais, estaduais e federais que realizava o cultivo e o uso da planta com fins medicinais.

José Roberto está preso, aguardando julgamento longe da sua família, privado do medicamento que tem ajudado a melhorar sua qualidade de vida.

Esse abaixo assinado tem o objetivo de solicitar que seja concedido o relaxamento da prisão de José Roberto Godoy para que ele possa responder o processo em liberdade. O abaixo assinado também propõem que lhe seja concedia autorização para que cultive seu medicamento sem que seja considerado criminoso novamente.

Saiba mais sobre o caso:
http://www.growroom.net/board/index.php?showtopic=34395

Fonte: Growroom

Para assinar o abaixo-assinado: http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/5890

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Classificação das “drogas” segundo sua Psicoatividade – Antonio Escohotado


Continuando nosso trajeto pelas classificações das substâncias psicoativas, desta vez a palavra vai para Antonio Escohotado, figurinha carimbada. O filosofo e historiador nos dá tais palavras ainda na introdução de seu livro "O livro das drogas" que, aliás, recomendo.



O que é droga?

Antes de aparecerem leis repressivas, a definição geralmente aceita era a grega. Phármakon é uma substância que é remédio e veneno ao mesmo tempo; não uma coisa ou outra, mas ambas ao mesmo tempo. Como disse Paracelso, “somente a dose faz de alguma coisa um veneno”. No primeiro tratado de botânica científica, um discípulo de Aritóteles expressou claramente isso a respeito da datura metel:

Ministra-se um dracma (3,20 gramas) se o paciente deve simplesmente se animar e pensar bem de si mesmo; o dobro dessa dose se ele deve delirar e sofrer alucinações; o triplo se deve ficar permanentemente louco; uma dose quádrupla se o homem deve morrer.

Hoje restam apenas vestígios do conceito científico. Ouvimos falar de drogas boas e más, drogas e remédios, substâncias decentes e indecentes, venenos da alma e panacéias, medicamentos delituosos e medicamente curativos. O efeito específico de cada composto é ignorado, e sobre essa ignorância recaem considerações estranhas à ação de uns e outros.

Quem procura a objetividade terá o cuidado de não misturar ética, direito e química. Mas talvez seja ainda mais decisivo lembrar que se qualquer droga se constitui em veneno potencial e um remédio potencial, o fato de ser nociva ou benéfica em um determinado caso depende exclusivamente de: a) dose; b) objetivo do uso; c) pureza; d) condições de acesso a esse produto e modelos culturais de uso. A última circunstância é extrafarmacológica, ainda que tenha atualmente um peso comparável às circunstâncias farmacológicas.


Uma classificação funcional


As drogas psicoativas podem ser classificadas segundo diferentes critérios. Em 1924 o criador da psicofarmacologia moderna, L. Lewin, falou sobre cinco tipos: euphorica (ópio e seus derivados, cocaína), phantastica (mescalina, maconha, meimendro, etc.), inebriantia (álcool, éter, clorofórmio, benzina, etc.), hypnotia (barbitúricos e outros soníferos) e excitantia (café e cafeína, tabaco, cat, coca, etc.). Depois surgiram classificações mais complexas apoiadas em tecnicismos terminológicos que, pretendendo superar as falhas da divisão proposta do Lewin – por exemplo, inclusão da cocaína junto ao ópio e não junto aos excitantes – acarretaram falhas ainda piores.