sábado, 27 de fevereiro de 2010

3o Encontro da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia

Copiado e Colado do: Hempadão.

A equipe da Hempadão acompanhou de perto a terceira reunião da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia. O evento realizado na fundação Viva Rio teve início hoje, às nove horas da manhã e terminou por volta de 13h. A reunião contou com a participação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Paulo Gadelha, presidente da FioCruz e Regis Fisher, Secretário da Casa Civil do Rio de Janeiro, que substituiu o governador Sérgio Cabral. O evento foi fechado para a imprensa.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Introdução a Redução de Danos


Eu ia fazer um pequeno post introdutório a Redução de Danos, mas resolvi aproveitar o subcapítulo 3.1 da monografia que fiz para a conclusão da especialização em saúde mental na ENSP-Fiocruz por uma mistura de preguiça e comodidade. Segue abaixo então a introdução a RD. Espero que seja proveitoso, já que é um assunto muito pertinente para quem se interessa por substâncias psicoativas, por política de "drogas" e modelos de atenção em saúde.


Em primeiro lugar, vamos tentar nos aproximar da constituição da Redução de Danos (RD). Ela aparece em meados da década de 1970 tanto na Holanda, em Amsterdã e Rotterdã, como em algumas cidades britânicas como Liverpool (Buning, 2006), tendo sido organizada e desenvolvida por: “especialistas, autoridades locais e representantes de usuários de drogas, em algumas cidades européias” (op.cit, p.345); A RD surge em cidades que enfrentavam problemas sérios com farmacodependentes, comunidades protestando, ineficiência na organização dos serviços de saúde, impotência e ineficácia da força policial. Portanto, a RD surge como alternativa a uma política de repressão e um tratamento que, visando a doença e a completa abstinência, eram claramente ineficientes, além de não respeitarem ou focaram nas pessoas como cidadãs e na experiência humana como complexa, indeterminada. É só a partir de um reducionismo, de um modelo determinista que podemos dizer que a “doença” do “ébrio”, do dependente, é algo progressivo, crônico, isto é, que já possui uma história dada como produções químicas. Nas palavras de Alan Marlatt (2000):


terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Resposta a Dilma Rouseff


A revista época entrevistou Dilma Rousseff, dia 20/02.
Link para matéria completa no Growroom

Eu copio abaixo a parte referente as "drogas" e abaixo uma discussão introdutória.

Revista Época - 20/02/2010

TRECHO SOBRE MACONHA E OUTRAS DROGAS

ÉPOCA – Como a senhora vê a descriminalização das drogas?

Dilma – A droga é uma coisa muito complicada. Não podemos tratar da questão da droga no Brasil só com descriminalização. Estou muito preocupada com o crack. O crack mata, é muito barato, está entrando em toda periferia e nas pequenas cidades. Não vamos tratar o crack única e exclusivamente com repressão, mas com uma grande rede social, que o governo integra. Há muita entidade filantrópica nas clínicas de recuperação. A gente tem de cuidar de recuperar quem já está viciado e cuidar de impedir que entrem outros. Tem de cuidar também para criar uma política de esclarecimento sobre isso. Não acho que os órgãos governamentais, Estado, municípios e União, vão conseguir sozinhos. Vamos precisar de todas as igrejas e entidades que têm uma política efetiva de combate às drogas. A questão da droga no século XXI é muito diferente daquele tempo de Woodstock, que tinha um componente libertário.

ÉPOCA – A senhora é a favor da repressão mesmo no caso de drogas leves, como a maconha?
Dilma – Não conheço nenhum estudo que comprove que a droga leve não seja o passo para outra. Esse é o problema. Num país com 50 milhões de jovens entre 15 e 29 anos, é complicado falar em descriminalização, a não ser que seja para fazer um controle social abusivo da droga. Não temos os instrumentos para fazer esse controle que outros países têm. A não ser que a gente tenha um avanço muito grande no controle social da droga, fazer um processo de descriminalização é um tiro no pé. O problema não é a maconha, mas é o crack. O crack é uma alternativa às drogas leves, médias, pesadas. Não é possível mais olhar pura e simplesmente para a maconha, que não é um caso tão extremo nem tão grave.

Reflexões:

De modo geral o pronunciamento de Dilma sobre as “drogas” é catastrófico e mostra um tipo de continuidade com as medidas repressivas inaceitáveis, especialmente quando um número cada vez maior de paises tem adotado estratégias de descriminalização com resultados positivos, com o caso de Portugal e, considerando políticas de drogas ainda mais antigas, podemos citar a Holanda. Estudiosos do tema, que poderiam servir de referência para superar a incompetência política de nossos governantes, já que trazem a complexidade da questão, dados históricos e culturais, como Antonio Escohotado, são francamente ignorados.


Vamos aos comentários da candidata à presidência Dilma Rousseff.

Pinceladas Acerca da Experimentação

"Em vez de os buracos no mundo permitirem que as próprias linhas do mundo fujam, as linhas de fuga enrolam-se e põem-se a rodopiar em buracos negros, cada drogado em seu buraco, grupo ou individuo, como um caramujo. Caindo mais no buraco do que no barato." (Deleuze & Guattari)

Pinceladas Acerca da Experimentação.


A experimentação como método ou como prática não deixa de apresentar muitos mistos e lacunas com as quais nos deparamos e muitas vezes deixamos escapar. Deixando de relevar questões que não param de saltar dessas experimentações nos tornamos cegos ao que pode, na mesma medida, nos destruir. A questão do uso de substancias alteradoras da consciência e da percepção parece pertinente nesse sentido, pois o que a principio é portador de potência pode se converter em buraco-negro, princípio de decadência.

Percebe-se que não generalizo o uso de substancias ao que seria a experimentação, mas o contrário. Drogar-se é uma das varias e singulares experimentações. A potência no uso de substancias está na mudança qualitativa tanto da percepção quanto do entendimento, que ela desencadeia. Ha uma transformação da percepção cotidiana para uma percepção mais refinada, diretamente investida na duração do efeito da droga. Entretanto, tais efeitos não são propriamente intrínsecos a substância, e está tanto mais conectada a interação com o usuário. De modo que não só as substancias que usamos que nos levariam a tais percepções, assim como não necessariamente a droga leva a uma alteração positiva, havendo, como se sabe, muitos casos de "bad trip" e "surtos psicóticos", que levam muitos psiquiatras e psicanalistas a demonizarem o uso. Assim como muitos usuários que fazem do uso compensações a um cotidiano massacrante etc.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

LA PROHIBICIÓN: PRINCIPIOS Y CONSECUENCIAS

Texto de Antonio Escohotado

La experiencia vivida con drogas diferentes en épocas diferentes y lugares diferentes, nos ofrece un banco de datos sobre el modo como el hecho de ser legales, ilegales o ajenas a cualquiera de esos estatutos influyó sobre su producción y consumo. A la luz de estos datos es oportuno repasar el cuadro de las razones expuestas por el prohibicionismo farmacológico.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Nota de repúdio às notícias veiculadas pelas Revistas Veja e Isto É sobre a Ayahuasca

Fonte: BiaLabate

Lido no Coletivo Dar

Nós, pesquisadores do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos – NEIP (www.neip.info), com apoio dos abaixo-assinados, manifestamos nosso repúdio ao recente processo de desqualificação das religiões ayahuasqueiras brasileiras – em suas múltiplas tradições e vertentes –, que tem se dado através da veiculação de matérias obscurantistas e indutoras de juízos equivocados e preconceituosos. Referimo-nos à nota “Liberado” da Revista Veja (ed. 2150, 3/02/2010, não assinada) e à matéria “As Encruzilhadas do Daime” da Revista Isto É (ed. 2100, 5/02/2010, de Hélio Gomes). Reafirmamos:

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Apresentação


Bons ventos sopram colegas de brisa, e colegas que não brisam.

Vim me apresentar, agora estaremos juntos neste projeto psicodélico-enteógenico, político e existencial. Estaremos juntos nesta aventura singular, ou que nome preferirem.

Ficarei no front "relatos de consumo", para iluminar as formas e os resultados dos usos das substâncias chamadas psicoativas. Os relatos dos problemas e das belezas que podem ser conseguidas neste mundo. Espero que estes relatos ajudem e contribuiam para meus queridos leitores, curiosos e estudiosos, não servindo como manual, mas para criar usos os mais seguros e inspiradores possíveis, ainda mais se pensarmos nas masmorras químicas as quais nos submetem, pela irregularidade de algumas substâncias que, como cidadã e livre, tenho direito de usar.

Os ratos nos insultam com avisos subterranos e vou insistir em trazer os dois mundos, o matrimônio do céu e do inferno, sempre que os viver, para os leitores deste universo. Não que eu espere ser neutra, todavia, os dados já estão lançados e o relógio já esperou demais para informarmos nossos amigos de forma menos preconceituosa sobre os usos, cenários e contextos que possam favorecer os melhores momentos de alegria e transformação pessoal e não os piores tormentos, frutos, tantas vezes, da desinformação midiática.

Tim Leary uma vez disse que as propagandas em massa e sensacionalistas sobre os problemas relacionados ao uso de psicodélicos estava produzindo bad trips em grande escala.

Contra essa maré e pegando um jacaré, eu vou, surfando no caos.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Enteógenos: Psilocibina e evolução.


É certo que a maioria das considerações sobre enteógenos desde o fortalecimento do cristianismo tem sido francamente negativa. Associações entre enteógenos e diabolismos não faltaram ao longo da história; dos cultos peioteiros introspectivos de povos da América Central até frenéticos ritos europeus, influenciados ou não pela cultura celta, foram todos associados a uma visão negativa e satânica. Resistências e palavras de contra-ataque surgiram de diversas bocas, muitas vezes sem força para fazer frente a cultura cristã devota do vinho, mas com ojeriza de Dioniso e da êxtase xamânica.


Se no século XX a situação de estigmatização aos consumidores de substâncias psicoativas tornou-se ainda mais obscura, é certo que após os anos 60 uma série de resistências surgiu enfaticamente. Foram nestes novos modos de entender o uso de substâncias psicoativas que apareceram visões sobre a positividade destes usos, quer dizer, foi pensada não só a dimensão de “vício”, tampouco apenas a condição “lúdica” de muitos usos, mas as formas em que tais usos foram efetivamente positivas para a vida de seus usuários. Naquele momento, houve um foco muito grande nos psicodélicos sendo usados visando o autoconhecimento e a transformação pessoal.


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Marcha da Maconha no Carnaval 2010

O escrivinhador que vos fala, infelizmente não pode estar presente, mas a equipe do hempadão traz em primeira mão um video sobre a Marcha da Maconha no Carnaval de 2010, que saiu seguindo o ritimo da Orquestra Voadora, com direito a distribuição de marchas com a propaganda da marcha e panfletos sobre redução de danos.

Confere lá no hempadão! http://hempadao.blogspot.com/2010/02/ed-51-hemptube-marcha-da-maconha-no.html

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

H.B. - CIBERNÉTICA E ENTEOGÊNICA - 2/2

 [continuação]

Subitamente você não tem mais corpo – é análogo á desincorporação que a bomba atômica traz consigo quando ela o atinge. É por isso uma coincidência que precisamente nestes mesmos dois anos, o LSD é sintetizado, a mescalina, o MDMA, mais a redescoberta do cogumelo...

Há uma ligação muito interessante entre a tecnologia e a experiência psicodélica.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

H.B. - CIBERNÉTICA E ENTEOGÊNICA - 1/2

CIBERNÉTICA E ENTEOGÊNICA:
DO CIBERESPAÇO AO NEUROESPAÇO

Palestra de Peter Lamborn Wilson, (aka Hakim Bey)
(Proferida durante o Festival Next Five Minutes - Tactical Media - Amsterdam, em 19 de Janeiro de 1996)

Aprendi o termo “Neuroespaço” do artista Vladimir Muzehesky, de Kiev, por meio de Geert Lovink. O que imediatamente pensei que ele queria dizer com isso era uma comparação deste espaço que é posto como pertencente ao computador, com o espaço neural ou a experiência do corpo-interior (inner-body) que vem, para a maioria de nós, principalmente através de drogas psicodélicas - neuroespaço como o espaço de alucinações, por exemplo. Gostaria de comparar e contrastar, como eles costumavam dizer na escola, ciberespaço e neuroespaço. Há semelhanças e diferenças.

Recordo-me de alguns anos atrás, quando a realidade virtual subitamente apareceu com grande êxito na cena, de haver ido a uma conferência em Nova York onde Timothy Leary, que Deus o abençoe, apareceu com Jaron Lanier e mais outros cibernautas. Tim estava pondo as luvas, estava no palco e disse: “Oooh, eu estive aqui antes.” Então desde o começo havia esta conexão feita entre a realidade virtual e a experiência com LSD - ou como alguns preferem chamá-la “a experiência enteogênica”, que é só uma maneira fantasiosa de não usar a palavra psicodélica por que ela alerta a polícia. Na verdade, “enteogênico” significa o nascimento do “Divino Interior”. Sou capaz de usar este termo que é significativo para mim mesmo que não seja um teísta no sentido estrito da palavra. Não penso que você deve acreditar em Deus para entender que pode haver uma experiência do Divino Tornando-se Interior.

De fato historicamente - e, ao menos para mim, experiencialmente e existencialmente - esse tem sido o mais importante aspecto do reaparecimento de drogas psicodélicas durante minha vida. Sou quase um exato contemporâneo do LSD : Nasci em 1945, e Albert Hoffmann já estava inventando várias versões preliminares. No verão passado consegui encontrar Hoffmann, e ele ainda é uma maravilhosa propaganda para a experiência psicodélica. Está bem avançado nos oitenta, e é sadio e cordial, mantém todas suas células cerebrais e ainda está trabalhando, come como um cavalo, bebe como um peixe! É do curso de minha existência que estamos falando.

Há uma questão histórica, na própria história das religiões, e que é: De onde vêm os psicodélicos?

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Morning Glory

Eu não tenho argumentos e eu não sei descrever, mas ele disse: “Sinto falta de outro mundo!” e eu noto que ele tem razão, só temos canibeiros por aqui. (canibeiros = adeptos da canabis, huahuahua).

Ah, existe religiosidade nas drogas e drogas na religiosidade. Religiosidade é horrível, falaremos sobre espiritualidade. Espiritualidade soa muito melhor que religiosidade.

Os índios mexicanos já sabiam dela, o que chamam de “Planta de Poder”. No xamanismo tolteca, por exemplo, eles entendem “Planta de Poder” como um aliado, porque são animistas e acreditam que as plantas podem desvelar mistérios, conversar e guiar um adepto, ensinar coisas e guiá-lo pelo caminho do Conhecimento (com C maiúsculo mesmo). A Planta tem um espírito, é um mestre, que auxilia a alcançar outros níveis de percepção. Então, não é uma visão minha, unicamente, milhares de malucos pensam o mesmo que eu. (ou não)


LSA.

(Amido de ácido lisérgico)

Ipomea Violácea Tricolor, ou a famosa Morning Glory, Glória da Manhã. E após culitivá-la, entendi o motivo, dá uma flor linda e azul, que se enche pela manhã, enorme, gloriosa, para murchar ao fim da tarde e morrer.

Anton Wilson a descreve muito próxima do LSD (Acho que RAW, não me lembro bem, não me cobrem referências e citações, por favor, deixo isso com o Fernando e quem mais quiser).




Creio ser complicado escrever sobre isso, porque experimento, porque observo, porque cultivo e porque mantenho um paradigma espiritual da coisa e não como uma química ou como alguém que tem todos os melhores argumentos do mundo para falar sobre. Conheço porque vivi isso, porque vivo a Morning Glory (isso dá letra pra rap, huahuahu). E meu ponto é sustentado por meus próprios paradigmas, nem tão científico, como eu gostaria. É uma apresentação de outro mundo dentro desse blog e é tudo o que posso fazer.

Como o assunto é cultivo, eu também cultivo meu próprio enteógeno e defendo esse ato, por ter uma visão mais espiritual da coisa, criamos um tipo de conexão com a planta e pode parecer loucura minha e dos demais que conversei a respeito, mas o ato de se plantar e cuidar da planta ostenta uma sensação de gentileza da planta também com a gente, uma sensação de proteção sob o próprio efeito da planta, o que de fato não deixa de ser uma verdade, pois impede com que ingerimos coisas a mais e tóxicas que nem sabemos a procedência. Há até alguns ocultistas que defendem que essas plantas estiveram em determinadas linhas de energia na terra que fizeram com que tivessem esse “poder” dentro do vegetal, o poder de nos guiar para níveis de percepção altos e gentilmente nos fazer observar o desconhecido.

Minha menina no vasinho em casa, florindo!


E acho mais fácil contar sobre os efeitos e como eles se apresentaram sobre mim, mas deixarei isso para um próximo post. Esse será apenas para uma pequena apresentação de um outro mundo.

As fotos? São da minha pequena. Como eu disse, eu cultivo meu enteógeno no aconchego de meu lar! rsrs


sábado, 6 de fevereiro de 2010

Aforismo 00001

"Se a pessoa decidiu ser usuária, é melhor que ela cultive."

Carlos Minc, Ministro do Meio Ambiente

Discussão sobre o Cultivo Caseiro da Cannabis no Globo

Vai o link, muito bom por sinal, falando do Growroom e do cultivo da cannabis.

http://www.growroom.net/board/index.php?app=core&module=attach&section=attach&attach_id=9286

A reportagem sai amanhã no O Globo. Para verem melhor salvem primeiro o arquivo, senão ele fica muito pequeno.

Parabens ao Growroom e ao Globo pela publicação. (e também a Karam e ao Law Enforcement Against Prohibition)

Tudo dando sinais que 2010 a coisa vai ser diferente... vamos ver se finalmente a nossa legislação sobre "drogas" dará sinais de democratização.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Marcha da Maconha - RJ 2010

A Marcha da Maconha caminha no Rio de Janeiro,
em direção a legalização da cannabis.

A próxima reunião Marcha da Maconha Rio será segunda-feira, 08/02, às 15h
no DCE UFRJ (Praia Vermelha).

Com direito a um mutirão para organizar a Ala Carnavalesca no
desfile da Orquestra Voadora que vai rolar na terça-feira de carnaval,
às 15h do Hotel Glória ao MAM.

Contamos com a presença de todos!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Maconha: guerra inútil e de efeito social devastante, concluem especialistas da Oxford University Press


Wálter Fanganiello Maierovitch

Publicado também no DAR


No planeta, e por baixo, 190 milhões de pessoas fumam maconha com regularidade.

Para as Nações Unidas, segundo estabelecido em vetusta convenção de 1961, ainda em vigor, o consumo lúdico-recreativo da erva canábica e seus derivados precisa ser criminalizado.

O Brasil segue essa proibição à risca.

A nossa legislação, que é nova, apenas substituiu a pena de prisão (privação de liberdade) pela sanção restritiva de direitos como, por exemplo, a prestação de serviços à comunidade.

Em outras palavras: no Brasil, aquele surpreendido na posse de maconha para uso próprio é um criminoso, apesar de tratar-se de uma questão sócio-sanitária que deveria ser regulada administrativa e não criminalmente.

Hoje, e já disponível nas livrarias virtuais, foi lançado, na Inglaterra e EUA, o aguardado livro Cannabis policy: moving behond stalemate (Políticas sobre a cannabis: ultrapassar o impasse). Em breve sairá a versão em francês e italiano.

A obra reúne artigos de respeitados especialistas da Oxford University Press e um convidado da Universidade de Maryland.

Os textos explicam por que as prisões de usuários de maconha, na Grã-Bretanha, EUA e Suíça, não alcançaram efeito dissuasivo: a demanda só aumenta.

Para os especialistas, a guerra à maconha é inútil e economicamente cara. Em alguns casos, desenvolve-se com abuso de poder por parte das autoridades governativas, o que provoca efeitos sociais devastantes.

Para o professor Peter Reuter, docente de Ciências Políticas na Universidade de Maryland, “chegou o momento de governos do mundo todo reverem as políticas sobre a cannabis”.

Parêntese: este blog Sem Fronteiras não sabe informar se o professor Reuter é discípulo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) que, depois de dois mandatos e no curso do segundo do presidente Lula, evoluiu da posição criminalizante e punitiva do usuário com pena de prisão para uma linha progressista de legalização do consumo.

Apelidado ironicamente de Farol de Alexandria (uma das sete belezas do mundo antigo), por iluminar e conduzir para longe dos escolhos os navegantes inábeis, FHC tenta voltar à ribalta, embora sem proposta sobre a regulamentação da liberação: nem ao menos informa se o monopólio do plantio e venda será do Estado. O apelido de Farol de Alexandria foi dado pelo jornalista Mino Carta, diretor de redação da revista CartaCapital.

A propósito de regulamentação de mercado, o professor Reuter explica: “Os governos deveriam desenvolver políticas responsáveis para administrar a oferta, em vez de deixar proliferar um enorme mercado informal. Aquilo que é preciso estabelecer é uma maneira mais segura pela qual as pessoas possam adquirir a substância. Não se pode deixar isso para o mercado informal, pois este oferece uma substância sempre mais potente”. Trata-se, esclarece Reuter, de uma questão central, ou seja, deve-se regulamentar com precisão o mercado de oferta da cannabis.

Como se percebe, os conhecidos argumentos de FHC são superficiais e surrados. Estão envoltos por esmalte sem brilho, de quinta, e têm a profundidade de um dedal de costureira de falange curta.

Sobre experiência de oferta regulamentada, registro que o governo do Canadá, há mais de cinco anos, cultiva e oferece, para finalidade médico-terapêutica, maconha a pacientes: o princípio ativo (THC) é controlado.

PANO RÁPIDO. A criminalização da posse da maconha para uso próprio representa uma grande fonte de renda, como já escrevi em longo artigo sobre a “Economia da Cannabis”. O Marrocos, por exemplo, depende economicamente da maconha.

Se alguém tiver dúvida sobre a economia movimentada pela erva canábica, aconselho dar uma passada numa dessas modernas bancas de jornal. Lá, o leitor encontra, para venda, caixinhas importadas de papel gomado e cortado.

Para que serviria tal papel gomado de exportação e em caixinhas de várias cores e marcas ?

Um “adolescente senil” (mais de 60 e menos de 70 anos de idade, nos meus cálculos) explicaria tratar-se de substituição da velha palha, muito usada na elaboração de cigarro de fumo de corda por tabagistas inveterados.