sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

2012 - Parada no Pitstop do Enteogenico

Irmão, irmãs, pessoal, gente, galera, queridos e queridas!

É com muitas tristeza que acredito que não terei forças para tocar o Enteogenico sozinho em 2012. Algumas tentativas já foram feitas para que este fosse um blog de construção coletiva, de vários punhos, mas nunca tive a energia (e por vezes conhecimento de web/computação) o bastante para liderar esta jornada. Por este motivo, entre na equipe do Hempadão para escrever a coluna Portas da Percepção, toda quinta feira às 22:00.

Some-se a este fato que estarei nos seis primeiros meses do ano de 2012 morando metade do meu tempo na cidade de São Paulo, por conta do mestrado que inicio, no qual pretendo falar sobre Arte Visionária e Criatividade.

Foi um enorme prazer estar com todos vocês, mais de 50 mil internautas, que entraram neste domínio para que pudessemos dialogar, trocar informações e mesmo fazer novas amizades neste caminho de desenvolvimento, ou, ao menos desta pretenção.

Acredito que aprendi muito com este site e muitos me deram este retorno positivo também, então valeu a pena e não posso reclamar. Se eu tiver pernas, estou escrevendo um blog com conteúdo junguiano, que terá posts bem mais esporádicos.

Quem quiser ler meus textos ainda terá o canal do Hempadão. Quem quiser dialogar, estou também no facebook onde sempro entro.

Muita coisa fica de registro neste site para quem quiser consultar.

Grande abraço e muita luz,
Fernando Beserra

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

CFP espera que Plano Crack respeite decisão da 14ª Conferência de Saúde sobre internação compulsória e recursos públicos para comunidades terapêuticas



O governo Federal anunciou para quarta-feira, 7 de dezembro de 2011, o lançamento do plano Brasil Contra o Crack, Brasil contra as Drogas. Três dias antes, no domingo, 4, a 14ª Conferência Nacional de Saúde rejeitou a inclusão das comunidades terapêuticas no Sistema Único de Saúde e também a internação compulsória de pessoas que usam drogas. Com o apoio dos representantes do CFP, de trabalhadores da saúde e de lideranças do movimento de saúde de todo o país, a Conferência disse não ao repasse de dinheiro público para as comunidades terapêuticas.


O CFP espera que o plano a ser lançado pelo governo Federal respeite as deliberações da Conferência, um instrumento legítimo de construção de políticas públicas que vem sendo fortemente incentivado pelo governo da presidenta Dilma Rousseff.


Com a sinalização do governo de financiar as chamadas comunidades terapêuticas com verba do SUS, a abordagem do Conselho Federal de Psicologia sobre o tema traz a preocupação de que o tratamento oferecido pelo Estado para usuários de álcool e outras drogas seja de fato um tratamento de saúde.


Articulações


O Conselho Federal de Psicologia lançou no dia 28 de novembro de 2011 o Relatório da 4ª Inspeção Nacional de Direitos Humanos: locais de internação para usuários de drogas, produzido pela Comissão Nacional de Direitos Humanos do CFP. O Relatório traz o resultado de vistorias em 68 instituições de internação para usuários de drogas, em 24 estados brasileiros e no Distrito Federal, realizadas em 28 e 29 de setembro de 2011.


O documento foi entregue ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, no dia 29 de novembro de 2011, durante audiência com o CFP. Padilha afirmou que serão determinadas vistorias, a ser realizadas com as vigilâncias sanitárias estaduais e municipais, nas comunidades terapêuticas inspecionadas pelo CFP, para que sejam tomadas as devidas providências e possível encaminhamento das denúncias ao Ministério Público Federal.


No dia 2 de dezembro de 2011, o relatório foi entregue à procuradora-geral dos Direitos do Cidadão (PFDC), Dra. Gilda Carvalho.


Inspeção


A inspeção buscou lançar luz sobre territórios pouco conhecidos pela sociedade, as chamadas comunidades terapêuticas, iniciativas da sociedade civil, com pouca ou nenhuma regulação pública e nas quais se desenvolvem práticas que são objeto de denúncias de violação de direitos humanos.


No lançamento foram destacadas violações de direitos humanos encontradas durante as inspeções: foram registrados interceptação e violação de correspondências, violência física, castigos, torturas, exposição a situações de humilhação, imposição de credo, exigência de exames clínicos, como o anti-HIV – exigência esta inconstitucional -, intimidações, desrespeito à orientação sexual, revista vexatória de familiares, violação de privacidade, entre outras, são ocorrências registradas em todos os lugares.

Governo não resolverá problema do crack com R$ 4 bilhões e penduricalhos



Mais uma vez imagina-se que basta injetar dinheiro — no caso, R$ 4 bilhões — e usar paliativos para solucionar um fenômeno sociossanitário que tomou proporções gigantescas no Brasil.
O caso de uso de crack é de autolesão. E a autolesão, como cortar a mão por exemplo, não é criminalmente tipificada. Assim, torna-se necessário saber o estado mental dessa “vítima de si própria” (usuário). Se tem discernimento, não poderá, contra a vontade, ser internada compulsoriamente.
 
Na hipótese de incapacidade de entendimento, o caso é de interdição, mediante o devido processo legal, com final designação judicial de um curador. E esse deliberará sobre a internação.
 
Para situações de risco em geral — e já tivemos conhecidos casos de recusa de transfusão de sangue por fanatismo religioso —, abre-se uma via perigosa chamada “internação involuntária”.
 
Pela denominada “internação voluntária”, um médico atesta a necessidade de internação e um familiar supre a vontade a fim de se efetivar a internação. Trata-se, portanto, de um estado de necessidade. Mas, ainda assim e se possível, uma autorização judicial será de rigor. Isto porque, esse estado de necessidade pode não existir de fato.
 
Pelo jeito, teremos internações involuntárias em bloco e com rótulo de involuntária. E sobre salas-seguras de uso, com equipes para atuar no convencimento de mudanças e planos de emprego, assistência e núcleos de acolhimento, não se evoluiu.
 
A situação, quanto a internações, é mais simples quando envolve menores de idade, pois o suprimento de vontade se dá pelos pais e representantes legais.
 
Por outro lado, sem que haja uma política adequada, as internações e desintoxicações representarão um nada e os R$ 4 bilhões serão jogados no ralo.
 
Em países civilizados, hospitais e clínicas públicas são abertos para recebimento de usuários. E a maioria foi antes convencida por agentes capacitados na abordagem.
 
Mais ainda, no tratamento há necessidade de recuperação de autoestima e de restauração de laços de afetividade com pessoas e comunidade. Em síntese, saber a razão de ele ter caído nas drogas e apresentar alternativas sadias antes não encontradas.
 
O prefeito de São Paulo, há pouco, internou compulsoriamente usuários da chamada Cracolândia. Eles foram desintoxicados em postos de saúde e logo voltaram à Cracolândia. Sobre esse fracasso, fez-se silêncio e o prefeito ainda não foi responsabilizado criminalmente.
 
Pano Rápido. O governo federal parte para a colocação de esparadrapo em fratura exposta, com distribuição de R$ 4 bilhões, 308 consultórios médicos de ruas, câmaras de monitoramente em locais de concentração de usuários etc. Falta, no entanto, uma política humanitária e de restauração de laços perdidos.
 
 

BOREL GANHA GRUPO PERMANENTE DE PREVENÇÃO ÀS DROGAS

Fonte: Imprensa RJ - Governo do RJ
07/12/2011 - 17:09h - Atualizado em 07/12/2011 - 17:27h
» Por Marcelle Colbert

Equipe irá realizar campanhas e prestar assistência psicológica e médica aos dependentes
A comunidade do Morro do Borel, na Tijuca, Zona Norte do Rio, ganhou um grupo permanente de prevenção às drogas e de auxílio a dependentes químicos. Para instituir a rede de assistência e desenvolver os projetos do grupo, profissionais de saúde e educação da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos e instituições parceiras se reuniram nesta quarta-feira (7/12), na sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da comunidade.

Organizado pela Subsecretaria de Defesa e Promoção de Direitos Humanos, Cidadania e Território, da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos, e pelo Programa de Educação para o Trabalho em Saúde da Uerj, o encontro recebeu representantes da Prefeitura do Rio, de organizações não governamentais e da UPP Social. O objetivo é integrar os trabalhos que já são realizados pelas instituições no Morro do Borel.

- Na comunidade, já existem diversos atores atuando, como profissionais de governo e de saúde. Por isso, a ideia é formar projetos de prevenção às substâncias entorpecentes a partir da integração das iniciativas já realizadas. No encontro de hoje, discutimos as ações que cada integrante do grupo irá desenvolver - afirmou a gestora social do Borel, Anelise Froes.

O grupo de combate às drogas do Borel - que recebeu uma UPP em junho de 2010 - será constituído por equipes multidisciplinares, compostas por assistentes sociais, policiais da UPP, integrantes do programa da Uerj, profissionais dos postos de saúde da região e membros da Secretaria de Assistência Social e da UPP Social. A equipe irá realizar campanhas de prevenção ao uso de drogas e prestar assistência psicológica e médica aos dependentes químicos. O foco será o consumo do álcool.

- A nossa iniciativa é inédita no Brasil. Estamos fazendo um trabalho que inclui políticas que foram anunciadas hoje pelo governo federal, que é o Programa Nacional de Combate ao Crack. Estamos nos estruturando desde agosto para atuar no Borel. Primeiro, queremos conhecer o trabalho de cada instituição para unirmos força - explicou a coordenadora do Programa de Educação para o Trabalho em Saúde da Uerj, Sandra Fortes, que anunciou a data da próxima reunião: 12 de dezembro.

Um dos trabalhos do grupo é monitorar a rede de assistência para saber se as demandas estão sendo atendidas. O cadastro dos usuários de drogas continuará a ser realizado por meio do Programa Saúde da Família, da Prefeitura do Rio. O programa da Uerj irá atender, identificar e encaminhar os dependentes químicos para tratamento. As reuniões, que serão mensais, contarão com a presença da comunidade.

- O grupo é mais uma iniciativa que ajuda a consolidar o processo de retomada do território e facilitar o acesso dos jovens a informações sobre entorpecentes como o crack, o álcool e até remédios controlados. Os policiais da UPP já encaminham pessoas envolvidas com drogas que querem fazer tratamento. Vamos intensificar esse trabalho - afirmou o subcomandante da UPP do Borel, Eduardo Souza.

Consumo de drogas na comunidade ainda é grande

Para a moradora do Borel e integrante do projeto Mulheres da Paz, Maria Helena Lopes, o projeto permanente para combater o uso abusivo de álcool e drogas é uma oportunidade única para que os jovens da comunidade conheçam os malefícios da dependência química e saibam onde e como procurar ajuda.

- O número de usuários de drogas é grande na comunidade. Cerca de 70% dos dependentes químicos consomem maconha e 30%, o crack. Em relação ao álcool, os usuários mais comuns são jovens a partir dos 11 anos de idade. Essas estatísticas mostram o quanto o grupo de trabalho será bem-vindo - ressaltou.

  • FOTOS

  • Reunião sobre Drogas na UPP do Borel.  Moradora do Comunidade, Maria Elena Lopes
    8 fotos | 07/12/2011

    Reunião sobre drogas na UPP do Borel







sábado, 10 de dezembro de 2011

por Fernando Beserra (Via Portas da Percepção no Hempadão)


Como não saiu o vídeo do Portas da Percepção diretamente das Portas da Redação do Hempadão, que ficará para outra semana, seguimos firmes e fortes no trabalho de ampliação da consciência e transformação de nós mesmos e do mundo. Mas, caros irmãos, entre os psiconautas – termo cunhado por Ernst Junguer para os viajantes de múltiplas realidades através do uso de psicodélicos – não há tanto consenso assim sobre os modos de alcançar algumas metas, ou mesmo se estas metas são as mesmas para todos.


Foi pensando nisso que comecei, ainda como brincadeira, uma tipologia. Se olharmos hoje para o que já chamei aqui nestas bandas de “Movimento Psiconauta” veremos não um movimento, mas uma pluralidade de enraizamentos, que sequer sabemos em que medida guardam traços em comum além da pesquisa dos psiquedélicos ou enteógenos.

De modo geral, a meta de ampliação da consciência através do acesso a estados alternativos de experiência parece algo que, exceto em alguns usuários recentes de LSD em raves, ou curiosos, marca a psiconautíca de modo bastante abrangente, embora não total. Os “Psiconautas da Estrada” (On the road), influenciados muitas vezes pelo contraculturalismo que adveio das raves, e mesmo do seio do movimento psicodélico, a exemplo de Timothy Leary, Aldous Huxley eTerence Mckenna, parecem menos adaptados ou adaptáveis a status quo da sociedade burguesa, com toda a pompa do orientalismo e da liberdade de pensamento, não se localizando dentro nem de usos rituais de enteógenos, nem de fortes estudos acadêmicos. Nem por isso estão livres de claras relações de poder como a visão ingênua de que “quanto mais melhor”, isto é, quanto maior o número de substâncias utilizadas e maior controle “alquímico” da preparação e mistura de substâncias, melhor e mais desenvolvido o individuo, ou, pelo menos, mais cultuado. Por vezes, ao conversar com estes psiconautas têm-se a impressão que o foco não é a ampliação da consciência, mas a liberdade, diversão e amplificação da sensação, a exemplo do que ocorre no uso do ecstasy. Para a maioria dos psiconautas “on the road” o uso de psicodélicos é essencial para qualquer um que queira falar sobre o tema, isto é, se um pesquisador quiser falar sobre psicodélicos e não fizer uso do mesmo, será imediatamente desclassificado, desqualificado.


Em outro lado do espectro que chamamos da pluralidade psiconáutica, encontramos um movimento religioso, ou melhor, de grande religiosidade, e que procura através dos enteógenos o contato estrito e imediato com as realidades extra-ordinárias, espirituais e simbólicas. As pessoas envolvidas com estas práticas são geralmente mais ordeiras, embora isso não seja regra, e menos inclinadas a desafiar a sociedade. O objetivo normalmente é mais, através da modificação de si, do encontro com o Cristo Interior, com o Atman-Purusha, com o SAGA (Santo Anjo Guardião), com o Tao, com o Si-Mesmo ou como queiram chamar, alcançar um estado de graça que irradie para a sociedade mais ampla, levando a sua transformação de tabela. Ou seja, modifique as pessoas e modificará o meio. Existe um enorme universo religioso no Brasil, especialmente as religiões que usam a ayahuasca como sacramento, a exemplo da Barquinha, Santo Daime, Cefluris, etc. Algumas também bebem das influencias da psicologia transpessoal e/ou junguiana, ou mesmo de um orientalismo ou de outras religiões (p.ex, afrobrasileiras) que possuem uma tradição do uso do êxtase para o alcance do sagrado.


Ainda um terceiro movimento com bastante força no Brasil é o que chamei, talvez forma inapropriada, de “Acadêmico-experimental”. Para os partidários do estudo acadêmico dos enteógenos/psiquedélicos não é fundamental o uso dos mesmos para o estudo de desenvolvimento teórico, embora possa mesmo ser desejável. Existe um movimento forte no Brasil de estudo acadêmico com forte base anti-proibicionista e que tem influenciado de forma decisiva as políticas sobre os enteógenos. A influencia teórica recai não apenas sobre estudos recentes quanti ou qualitativos e com metodologias claras e rigorosas, mas também voltado a autores clássicos como R.G.Wasson, R.E.Schultes, J.Ott, Dennis Mckenna, A.Escohotado, R.Metzner, etc.. Procura-se abordar os enteógenos de diferentes dimensões como histórica, antropológica, neurocientífica, psicológica, etc., mas rompendo com os estigmas produzidos por etnocentrismos e ideologismos que embasavam e ainda embasam a visão de muitos teóricos.


Não vamos adentrar aqui, mas é possível ainda identificar um quarto movimento, muito mais estranho. É um fundamentalismo ayahuasqueiro bastante contraditório, que utilizando um enteógeno, vai contra o uso de qualquer outro, e, por vezes, mesmo do próprio enteógeno utilizado pelo movimento. Enquanto os três movimentos tem características claramente positivas, seja pela liberdade de criação, estudo rigoroso, aplicabilidade política (reforma de leis proibicionistas), controle ritual (que reduz riscos e amplifica processos de transformação positivos), dentre outros, este quatro movimento parece viver pela negatividade, procurando se organizar contra a liberdade religiosa e política.


Este é apenas um embrionário mapeamento. E você leitor, consegue identificar mais outras direções psiconauticas, em especifico no Brasil? Não procuramos com este primeiro mapa, que não deve ser confundido com o território, enquadrar as pessoas. Na realidade encontraremos pessoas que não se enquadram a nenhum destes moldes ou que vão mais para um ou outro referencial. De qualquer modo, um mapeamento mais preciso ainda é algo por ser construído e estudado.

A República Tcheca é um país que vem adotando políticas liberais, quando o assunto são as drogas. Desta vez, o parlamento do país descriminalizou o plantio de pequenas quantidades de cogumelos, uma antiga reivindicação dos produtores, que até então eram criminalizados por cultivar este hobbie.

 
A República Tcheca é um país que vem adotando políticas liberais, quando o assunto são as drogas. Desta vez, o parlamento do país descriminalizou o plantio de pequenas quantidades de cogumelos, uma antiga reivindicação dos produtores, que até então eram criminalizados por cultivar este hobbie.

Cogumelos foram originalmente incluídos na lista negra da República Tcheca quando o aconteceu a reforma das leis em 2009, tornando a República Tcheca um dos mais liberais da Europa sobre a política de drogas. Nesta mesma época, o país descriminalizou o plantio caseiro de Maconha e de posse de pequenas porções de droga.

Nesta semana, além de descriminalizar o plantio de cogumelos, os ministros tchecos deram uma ajustada na legislação quanto à potência que os cultivadores de Maconha desenvolvem na planta, sendo que a partir de agora, o teores de THC serão medidos apenas nas flores da Cannabis, ao invés da planta toda, como eram feitas na legislação antiga. Em vias práticas, significa que mesmo os cultivadores menos experientes, estarão sujeitos a imposições de agentes do governo.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Palavras Alucinantes: enteógenos, psicodélicos e outras realidades semânticas - PARTE II

Fonte: Hempadão (Portas da Percepção)

Na última semana começamos a falar um duelo lingüístico, ideológico e mesmo poético que envolve a nomenclatura das misteriosas plantas, fungos, etc., que denominamos aqui nesta coluna comumente de “Enteogenos” ou “Psicodélicos” e na psiquiatria tradicional nomeia-se como: “Alucinógenos”. Pois bem, vamos continuar nosso último post abrindo as “Portas da Introspecção”.

Foi com esta visão em mente, da introspecção gerada por estas misteriosas substâncias, que o maior historiador mundial das drogas, Antonio Escohotado, sugeriu a terminologia: “substâncias visionárias”. Este termo está, em minha opinião, em pleno acordo com esta classe de psicoatividade.


Em seu “Livro das Drogas”, Escohotado sugere uma classificação para as substâncias psicoativas segundo suas psicoatividades. Ele classifica as SPA em três categorias. A primeira seriam as SPA que produzem uma atividade de aliviar a dor, o sofrimento e o desassossego. A estas SPA considerou que prometem um tipo de paz interior (Escohotado, 1994) Dentre as substâncias relacionadas podemos citar: ópio, morfina, codeína, heroína, metadona, buprenorfina, pentazocina, os tranqüilizantes maiores, os tranqüilizantes menores (como as benzodiazepinas), os soníferos, clorofórmio, éter, gás hilariante e fentanilas, além dos vinhos e licores.

A sua segunda categoria se refere as SPA que prometem – ou proporcionam – um tipo de energia abstrata “como um aumento de tensão entre circuitos elétricos” (Escohotado, 1994, p.39). Nas suas palavras (op.cit, p.39): “A segunda esfera se relaciona com esse alheamento que o poeta chama ‘não desejar os desejos’, entre as manifestações desta segunda esfera se encontram ‘preguiça’, “impotência” e ‘tédio’”. Nesta segunda categoria podemos incluir o café e a coca no plano dos estimulantes vegetais e no plano químico a cocaína, o crack, anfetaminas e a cafeína.

Finalmente, sua terceira categoria se refere as “substâncias visionárias”, ou que prometem – ou propiciam – um tipo de “excursão psíquica” (!). Sobre esta terceira esfera historiador das SPA nos diz:

A terceira esfera está relacionada à curiosidade intelectual e ao coração aventureiro, mal adaptados a uma visão imersa na rotina anunciada pelos outros, e cuja aspiração é abrir horizontes próprios. (op.cit, p.39).

Na terceira categoria podemos incluir as seguintes substâncias: MDMA (Metilenodioximetanfetamina) ou Ecstasy, Maconha e os derivados do Cânhamo, mescalina, LSD, Ergina, Cogumelos psilocíbicos e seus alcalóides, ayahuasca, iboga, kawa e fármacos recentes (sintéticos e semi-sintéticos), para citar apenas alguns.

A classificação de Escohotado me parece ainda extremamente pertinente, e ainda restam estudos classificatórios a serem feitos sobre a mesma. Mas, por outro lado, a palavra: “substâncias visionárias” embora utilizada, permanece sem tanta expressão internacional como enteógenos e psiquedélicos.

Em 1979 dois filólogos Carl A. P. Ruck e Danny Staples, o pioneiro no estudo dos enteógenos R. Gordon Wasson, além dos etnobotânicos Jonathan Ott e Jeremy Bigwood (Ott, 2004) sugerem o termo enteógeno. O neologismo enteógeno deriva de uma antiga palavra grega que significa “volver-se divino interiormente” e “que usaram para descrever estados de inspiração poética e profética e para descrever um estado enteogênico induzido por plantas sagradas”# (Ott, 2004, p.19).

O termo enteógenos tem tido aceitação por muitos estudiosos da área. Exceção de um renomado pesquisador da área é a de Terence Mckenna que aborda o termo em seu livro “Alimento dos deuses”. Para Terence Mckenna a palavra enteógeno é uma palavra canhestra, cheia de bagagem teológica.

O termo enteógeno designa classe específica de substâncias psicoativas e “melhor designa drogas que provocam êxtase e têm sido utilizadas tradicionalmente como embriagantes xamanicos ou religiosos, assim como seus princípios ativos” (Ott, 2004) além de seus congêneres artificiais.

No Brasil, o psicólogo pioneiro na pesquisa dos enteógenos, Philippe de Bandeira Mello, autor do fantástico livro: “A Nova Aurora de uma Antiga Manhã: surpreendentes diferenças entre as Plantas Sagradas e as drogas – as propriedades misteriosas dos enteogenos” opta pelo termo Enteógeno, que tem sido, de modo geral, utilizado por autores que pretendem enfocar o uso xamanico ou religioso destas plantas e fungos.

Faltou apenas um termo consagrado, Enteodélico, mas, para não cansar o leitor, deixemos este para outrora!

Quinta que vem é aniversário deste que, todas as quintas (ou quase todas), está aqui com os senhores e senhoras para falar e trocar informações sobre os enteodélicos! Vou tentar fazer um vídeo de comemoração, afinal, o Portas da Percepção está vivo desde 7 de Setembro de 2010 e nem fizemos aniversário de 1 ano!

Abraços antiproibicionistas!

Roda de Conversa no RJ (Complexo do Borel): Saúde, Saúde Mental, Alcool e Outras Drogas

A Equipe do PET – Programa de Educação para o Trabalho em Saúde – Saúde Mental, Crack, Álcool e outras Drogas da UERJ em parceria com as Equipes de Saúde dos Centros de Saúde do Borel e Casa Branca (Estratégia de Saúde da Família - ESF e Agentes Comunitários de Saúde - ACS), CAP 2.2, Programa de Gestão Social em Territórios Pacificados da Superintendência de Territórios da SEASDH - Territórios da Paz, Programa UPP Social - Gestão Social do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos e CAPSad Mané Garrincha da SMSDC, com o apoio da UPP Borel e da Rede Social Borel convidam para uma RODA DE CONVERSA sobre “SAÚDE, SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS: A REDE DE CUIDADOS NO COMPLEXO DO BOREL” que realizar-se-á no dia 07 de dezembro de 2011, às 14 horas, no Auditório da UPP Borel (Chácara do Céu).