quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

H.B. - CIBERNÉTICA E ENTEOGÊNICA - 1/2

CIBERNÉTICA E ENTEOGÊNICA:
DO CIBERESPAÇO AO NEUROESPAÇO

Palestra de Peter Lamborn Wilson, (aka Hakim Bey)
(Proferida durante o Festival Next Five Minutes - Tactical Media - Amsterdam, em 19 de Janeiro de 1996)

Aprendi o termo “Neuroespaço” do artista Vladimir Muzehesky, de Kiev, por meio de Geert Lovink. O que imediatamente pensei que ele queria dizer com isso era uma comparação deste espaço que é posto como pertencente ao computador, com o espaço neural ou a experiência do corpo-interior (inner-body) que vem, para a maioria de nós, principalmente através de drogas psicodélicas - neuroespaço como o espaço de alucinações, por exemplo. Gostaria de comparar e contrastar, como eles costumavam dizer na escola, ciberespaço e neuroespaço. Há semelhanças e diferenças.

Recordo-me de alguns anos atrás, quando a realidade virtual subitamente apareceu com grande êxito na cena, de haver ido a uma conferência em Nova York onde Timothy Leary, que Deus o abençoe, apareceu com Jaron Lanier e mais outros cibernautas. Tim estava pondo as luvas, estava no palco e disse: “Oooh, eu estive aqui antes.” Então desde o começo havia esta conexão feita entre a realidade virtual e a experiência com LSD - ou como alguns preferem chamá-la “a experiência enteogênica”, que é só uma maneira fantasiosa de não usar a palavra psicodélica por que ela alerta a polícia. Na verdade, “enteogênico” significa o nascimento do “Divino Interior”. Sou capaz de usar este termo que é significativo para mim mesmo que não seja um teísta no sentido estrito da palavra. Não penso que você deve acreditar em Deus para entender que pode haver uma experiência do Divino Tornando-se Interior.

De fato historicamente - e, ao menos para mim, experiencialmente e existencialmente - esse tem sido o mais importante aspecto do reaparecimento de drogas psicodélicas durante minha vida. Sou quase um exato contemporâneo do LSD : Nasci em 1945, e Albert Hoffmann já estava inventando várias versões preliminares. No verão passado consegui encontrar Hoffmann, e ele ainda é uma maravilhosa propaganda para a experiência psicodélica. Está bem avançado nos oitenta, e é sadio e cordial, mantém todas suas células cerebrais e ainda está trabalhando, come como um cavalo, bebe como um peixe! É do curso de minha existência que estamos falando.

Há uma questão histórica, na própria história das religiões, e que é: De onde vêm os psicodélicos?


Terence McKenna acredita que a própria consciência humana é uma função da experiência psicodélica, especificamente do cogumelo de psilocibina. Ele acredita que um dia um macaco tomou um cogumelo e se tornou humano, por que a cognição apareceu. Terence diz que o que nos faz humano é a experiência psicodélica. Não sei se acredito literalmente nisto; em todo caso, não acredito em nenhuma origem única para a consciência humana. Mas é iluminador pensar na possibilidade de que devemos nossa diferença dos outros membros do clã símio por nossa habilidade de experimentar psicodélicos de determinada maneira. Se fosse este o caso, seria verdade que toda nossa experiência de cognição - a qual historicamente pertence à categoria do que é conhecido como “religião” - poderia ter começado com psicodélicos. Toda a experiência psicodélica coexistiu no tempo com o tornar-se homem. Uma hipótese interessante; podemos adicioná-la a todas as teorias de origens do homem.

Gosto de pensar em palimpsestos. Na Idade Média eles não tinham muito papel, assim escreviam de uma forma no papel e depois escreviam de outra forma no mesmo papel. Algumas vezes eles até escreviam de uma terceira forma. Estavam acostumados a ler assim. Minha aproximação à teoria é palimpsêstica: gosto de empilhar teorias umas sobres as outras e trazer o bloco completo para a luz e ver se alguma luz está tendo êxito. Pense nisso como gels de animação, mas com a escrita numa pilha. Adicione todas essas teorias, uma sobre a outra.

A maneira positiva de olhar para a consciência é que é “nós”. O aspecto ruim disso é que a própria consciência pareceria ser um processo de separação. Georges Bataille falou sobre isto de um modo interessante: ele hipotetizou que toda religião diz respeito a um traço de memória de um tempo em que o humano estava separado da natureza - do animal, vamos dizer. E se você acredita em evolução, isto é apenas literalmente verdadeiro. Houve um tempo quando nós éramos macacos de algum tipo. É no momento da consciência que esta separação ocorre. Subitamente não é mais uma questão da experiência animal e o que Bataille chama de “intimidade original.” Nós somos agora tirados da matriz e plugados na cognição. Religião desta forma começa imediatamente depois deste momento, porque religio significa religar, reconectar novamente. O que estamos tentando fazer com todas estas formas religiosas e filosóficas é tentar religar com a sabedoria original, a qual nós perdemos quando começamos a experienciar a cognição.

Se Terence está certo, então a cognição começa com as drogas, e logo o próximo passo seria tomar mais drogas para recuperar o que se tinha perdido. Assim, conforme esta leitura, a consciência humana e a religião humana, as quais estão tão intimamente ligadas, poderiam ter sempre estado envolvidas com plantas psicodélicas. Aqui nós nos voltamos contra um problema na antropologia, que só recentemente vim a saber. Quando antropólogos observam as sociedades mais “primitivas” que podemos encontrar - isto é, sociedades tribais de colhedores-caçadores – estas sociedades não parecem ter muito a ver com psicodélicos. De acordo com antropólogos, plantas psicodélicas aparecem na história humana com a agricultura – logo, no máximo, a 12.000 anos atrás.

Agricultura, a era na qual ainda estamos, é no máximo 1% de toda a história humana. Mas se você vai para a América do Sul e compara as tribos caçadoras e os agricultores primitivos, que cultivam um pouco de vegetais para subsistência, fazem alguma caça e pescaria – sem liderança forte, muito igualitárias – é nestes grupos que começamos a ver as plantas psicodélicas emergirem como um fenômeno cultural. Isso imediatamente me chamou a atenção de que há alguma coisa errada aqui. Porque agricultores deveriam conhecer mais sobre plantas selvagens que os caçadores e colhedores, que de fato dependem de plantas selvagens? Eles dependem pelo menos 70% da coleta e só 30% de caça. A coleta, a qual é normalmente feita por mulheres, é muito mais importante economicamente que a caçada, que é normalmente feita por homens. Os caçadores com certeza sabem sobre todas as plantas, mas ainda não necessariamente as ritualizaram : ainda não criaram um culto da planta psicodélica.

A agricultura é a única nova tecnologia radical que já apareceu no mundo; e equivale a um corte na terra. Se você lê qualquer antropologia sobre nativos americanos, vai descobrir que quando os brancos europeus chegaram e tentaram forçar as tribos para a agricultura, o povo das tribos sempre dizia a mesma coisa: “Quê, você quer que a gente estupre nossa Mãe, a Terra? Isto é perverso. Como você poderia pedir para seres humanos fazerem isso?” A agricultura imediatamente aparece como um mau negócio para estas tribos. Não há dúvida de que esta tecnologia leva inevitável e muito rapidamente a hierarquias sociais, separação, estrutura de classes, propriedade, e religião tal como a entendemos – um clero que diz para todos os outros o que fazer e como pensar. Isso leva a, em outras palavras, autoritarismo e, fundamentalmente, no próprio Estado.

Economia, dinheiro, toda a miséria da civilização, nós devemos à agricultura. Antes disso, você tem dois milhões de anos de caça e coleta, a bela arte rupestre, um mundo que se mostra suspeitamente utópico, uma era dourada em comparação com o tanto de problemas que a agricultura ocasiona. De alguma forma, a agricultura é a queda do paraíso. Não quero ser um reacionário, um ludita – estou simplesmente apontando algo que é muito real e óbvio, mas levou muito tempo para seres humanos civilizados perceberem isto. Nos anos 60, o antropólogo Marshall Sahlins descobriu que as sociedades caçadoras e coletoras que existem hoje só trabalham uma média de quatro horas por dia para conseguirem sua comida, enquanto as sociedades agrícolas trabalham uma média de dezesseis horas por dia. Caçadores-coletores têm cerca de 200 tipos de comida em suas despensas pelo curso de um ano, enquanto os agricultores primitivos só vão comer uma média de vinte.

Segundo este ponto de vista, Sahlins apontou, é absolutamente incompreensível que alguém abandonasse a caça pela agricultura. Desde então li esse livro chamado “Economia da Idade da Pedra”, tenho tentado conceber por que renunciamos a esta situação meio Jardim do Éden? Claro que o caçador conhece a fome, mas ele não conhece escassez; essa só vem a existir com a economia. A vida do caçador pode ser miserável – pode ser muito fria, muito quente, muito nua, ele pode ser pego pelo urso polar, o que quer que seja – mas aquela coisa que o caçador não tem de jeito nenhum são as misérias da civilização.

Se formos falar dos aspectos positivos da civilização, lembremos que eles só estão servíveis para 10% de qualquer população dada, em outras palavras, a elite proprietária. Para qualquer outra pessoa, a civilização é um negócio fodido e terrível. Ela torna você um servo ou um escravo, para o sacrifício humano. Nós sabemos que o canibalismo pertence à agricultura, não às tribos caçadoras. Gosto de pão – não estou disposto a renunciar ao pão. O que estou tentando apontar para vocês com este exagerado ataque à agricultura, é que a agricultura é um rompimento tecnológico muito severo. É como se você traçasse uma linha: desse lado há floresta selvagem, e deste lado há cultura, humanidade e, finalmente, civilização. Do lado claro, nós aramos a terra, traçamos linhas retas, conhecemos a tecnologia das sementes. O calendário é a primeira ideologia, no sentido da falsa consciência, porque só fazendeiros poderiam inventá-lo. A indústria é um epifenômeno menor da agricultura, sob este ponto de vista. A agricultura é a única tecnologia importante que já foi inventada e ela solicita uma completa reavaliação da relação humana versus o mundo natural, o mundo de plantas e animais.

Como um resultado desta relação inteiramente nova, desta novidade, vai ocorrer uma interpretação absolutamente nova da planta psicodélica. A planta mágica, enteogênica, vai agora emergir num contexto religioso – enquanto antes ela poderia ser só uma questão do conhecimento inidual de um colhedor individual. Agora, de repente, tem de haver um culto da planta enteogênica. Por ser tão traumática para a sociedade humana, a agricultura necessita ter uma relação viva, xamânica, mágica, com as plantas. Antes, plantas eram como quaisquer outros seres, agora elas são estranhos espíritos que crescem na floresta. E, de fato, um antropólogo escreveu um livro fascinante sobre o tabaco como uma planta psicodélica na América do Sul: a primeira agricultura teria sido o cultivo de plantas psicoativas, e é por isso talvez que seres humanos vieram mesmo a se tornar fazendeiros, para assegurar um bom suprimento de tabaco ou cogumelos ou o que quer que seja. Um amigo meu uma vez disse: “É, tudo é psicotrópico”. Qualquer substância que você ponha no seu corpo vai ocasionar uma transmutação. Não me importa se é água, comida, ar – é tudo transformação através da substância.

Não é verdade que a agricultura descobriu os psicodélicos. Posso provar, com base na mitologia, que a sociedade dos caçadores os conheciam muito bem. Todos os mitos referentes a plantas psicodélicas sempre dizem que nós aprendemos sobre as plantas pelos povos selvagens da floresta. Um exemplo: o culto Buiti do noroeste da África, que é baseado na ibogaine. Eles clamam que pegaram ela dos pigmeus. De repente, nós parecemos ver pela primeira vez o aparecimento da planta psicotrópica. Enquanto antes ela era simplesmente uma entre muitas coisas psicoativas num mundo que era inteiramente psicoativo, agora ela é a substância especial que vai nos permitir recuperar essa sabedoria original. Ela vai nos fazer mais que conscientes, vai nos dar algo além da mera consciência, que num sentido será um retorno a essa sabedoria original da natureza.

Está bastante claro que todas as grandes sociedades neolíticas tinham algum tipo de culto de soma – a palavra sânscrita para a experiência psicoativa. O Rig-Veda, um dos mais velhos livros da humanidade, é todo sobre a experiência psicodélica. Se ao menos Tim Leary tivesse usado o Rig-Veda em vez do Livro Tibetano dos Mortos para apresentar o LSD, os sessenta poderiam ter sido uma década diferente. O Livro Tibetano é sobre morte, um baixa-astral, enquanto o Rig-Veda é muito sobre vida e alegria e poder. De qualquer forma, todas as sociedades neolíticas e clássicas tinham alguma variedade disto. Nós devemos todas estas descobertas ao grande Gordon Wasson, que foi o primeiro a discutir se o soma do Rig-Veda era de fato um cogumelo mágico. Ele também chegou à conclusão de que os mistérios de Elêusis, uma das principais ritos religiosos dos gregos antigos, eram também estimulados por uma planta psicoativa. Os antigos persas tinham algo chamada “helma”, que deveria ser uma planta que contém armolina. Reinvindico ter descoberto que irlandeses da antiguidade tinham um culto similar...e obviamente nós sabemos dos aztecas e maias: eles ainda tinham um ativo culto psicodélico quando os conquistadores chegaram. Em algumas das antigas crônicas espanholas pode se ler realmente sobre cogumelos mágicos. Mas de alguma forma estes textos foram perdidos, ou ninguém os leu, ou se os leram, não acreditaram neles, ou ficaram horrorizados com eles.

É a difusão da cristandade que parece sinalizar o fim do mundo psicodélico clássico. John Allegro, um dos originais estudiosos dos manuscritos do Mar Morto - ele ficou louco, conforme a maioria das pessoas – escreveu um livro chamado “The Mushroom and the Cross” (O Cogumelo e a Cruz) no qual ele afirmou que Jesus Cristo era um cogumelo. Sempre senti que Jesus Cristo pode ser qualquer coisa que você queira que ele seja, então porque não? Historicamente, talvez este efeito anti-psicodélico teve algo a ver com o vinho, o sacramento da cristandade. O vinho mesmo, embora seja psicoativo, não é nada psicodélico como cogumelos mágicos. E o alcoól tem seus problemas. Terence McKenna tomou uma posição bastante puritana: anti-alcóol, café, açúcar, chá, qualquer desses psicotrópicos modernos.

O Ocidente provavelmente perdeu o conhecimento da maior parte das substâncias de alteração mental num processo gradual paralelo à difusão da cristandade. O vinho é sacramentado, e seu potencial dionisíaco permanece, como mágica – por exemplo na missa católica, uma performance mágica em que pão e vinho viram um festim canibal, e na “função soma”, que significa que tudo são psicotrópicos. Como disse um poeta sufi: “Um bêbado nunca se tornará sábio, mesmo depois de cem garrafas de vinho, mas um homem sábio ficará intoxicado com um copo de água.”

Pensem em Rabelais, por exemplo. Ele dedicou o último capítulo de seu livro ao que chamou a “Erva Pantagruelion” e é claro que ele está falando aqui de maconha. Logo, o conhecimento psicodélico não foi nem mesmo perdido, nem mesmo na época de Rabelais. Ele foi transmitido duma forma não alfabetizada – por mulheres sábias, médicos rurais, curandeiros, e mães camponesas que conheciam sobre plantas. O conhecimento se tornou oculto, é um segredo. Rabelais está brincando com o fato de que ele está a par de algo que você não sabe. O conhecimento nunca foi perdido porque nenhuma cultura pode persistir sem alguma abertura para a consciência não-ordinária. Você tem de ter alguma válvula de escape para a civilização, mesmo se for psicose em massa. Tem de haver uma escapatória.

A idéia de transformação através da ingestão de enteógenos ou plantas psicodélicas ainda não tinha sido totalmente suprimida mesmo na Alta Idade Média. O conhecimento foi condenado para o inferno. O cogumelo da psilocibina sempre esteve aqui, nunca sumiu, mas estava escondido – estou falando como Terence agora, apenas tomemos isso como uma metáfora - estava escondido porque ninguém o reverenciava, ninguém o necessitava. Não foi porque Wasson tirou os esporos de suas botas em 1956, que de repente cogumelos mágicos estavam por todo o mundo de novo; foi porque alguma mudança de paradigma ocorreu na mesma época. Se Wasson não o tivesse feito, alguma outra pessoa teria feito a descoberta. Como diz Robert Anton Wilson, “Quando é tempo de motor a vapor, a coisa é motores a vapor.”

A redescoberta já estava em curso desde o século dezenove quando gente como Baudelaire, Rimbaud e De Quincey, ou os românticos, entraram no haxixe e no ópio. Eles aprenderam sobre isso do mundo islâmico. Mais uma vez, de uma maneira oculta e velada, estes eram poetes maudites - conhecimento maldito, conhecido por gente maldita. Então há Antonin Artaud, que foi para o México e tomou peiote; ou Ernst Jünger, Mircea Eliade, C.G. Jung, Walter Benjamin, Ernst Bloch – todos eles estavam fazendo experiências com drogas. Nós sabemos de Aldous Huxley porque ele escreveu o primeiro livro desse tema em inglês. Então, quando acontece a revolução psicodélica, já é uma velha estória.

A invenção do LSD, em torno de 1945-47, é de alguma forma emblemática para mim. Ela é, de fato, a primeira droga psicodélica sintética; e a coisa notável a seu respeito é que você precisa de 200 mg ou mesmo menos. Isso não é nada. Ela leva toda a estória da experiência psicodélica para o mundo novo, muito mais técnico, da ciência moderna. Antes, era o mundo primitivo das plantas. Há uma razão para isto. No começo, formulei a hipótese de que as drogas primeiro aparecem na história humana porque elas são usadas de forma religiosa em sociedades agrícolas, e o uso e descoberta de psicodélicos é de alguma forma uma resposta a um desenvolvimento tecnológico. Este avanço tecnológico torna mais lancinante, mais violenta, nossa separação daquela sabedoria original, daquela experiência da pura consciência animal. Sendo assim, é a própria tecnologia que provoca o reconhecimento, por parte das primeiras sociedades agrícolas, do aspecto cúltico e religioso destas plantas. Agora estamos aqui, um bom tempo depois na história humana – e ocorre o primeiro desenvolvimento interessante em tecnologia desde a agricultura.

Podia ser que, por volta de 1945, nós víssemos as coisas...em vez de se tornarem mais e mais massivas – de repente ficarem mais desmaterializadas. (A bomba atômica desmaterializa a matéria de uma forma muito radical.) De um lado, uma experiência muito espiritual, e, de outro, o computador - o qual, como nós sabemos agora, estava destinado a gerar a “economia da informação.” Você não pode comer informação, logo ela não é realmente uma economia, e nunca será – mas apesar disso há algo nesta expressão. Há uma verdade por trás da merda, há esta desmaterialização, uma revulsão contra o peso do corpo, uma desincorporação da produção. Nós sabemos que computadores são supostamente um grande acontecimento espiritual, embora ainda seja uma máquina; não é uma máquina pesada, uma máquina simples, um botão de liga/desliga.

É claro que nós não superaremos a economia da produção por meio disto. Alguém ainda tem de fazer sapatos, de cultivar alimentos – e não vamos ser nós! “Nós” não vamos sujar mais nossas mãos com isso. Deixem os mexicanos fazerem isso, enquanto nós habitaremos este maravilhoso espaço gnóstico de pura informação. Nós mandamos nossas sujas fábricas poluentes para a Índia, Bofal, para Chernobyl, de forma que possamos ficar limpos, e possamos ser a “ciberclasse”. Não importa o que vocês pensem sobre os potenciais liberatórios do computador, nós também devemos levar em conta o fato de que há uma desincorporação acontecendo.

fonte:rizoma.net

1 comentários:

Fernando Beserra disse...

Fica uma pergunta... onde Bey tirou a informação de que Jung fazia experiências com drogas?

Se alguem souber, por favor me diga, pois todas as informações que tenho, desde diretamente de textos de Jung, como das falas de Aniele Jafé (e se não me engano da srta. Von Franz) dizem o contrário...

Sobre o texto é bastante interessante, vou continuar a ler a parte II agora.. mas a parte I me pareceu a levar a um certo primitivismo um pouco ingenuo. De qualquer forma é bacana lê-lo logo agora que estou lendo Terrence Mckenna (O alimento dos deuses)

Postar um comentário