segunda-feira, 7 de junho de 2010

Entrevista com Jonathan Ott


Fonte: Onirógenos
Tradução: Fernando Beserra

Embora hoje dedicado à investigação sobre autonomia energética e alimentação em seu rancho mexicano, desde os anos 70, Ott tem realizado um enorme trabalho de documentação científica e divulgação sobre drogas em todo o mundo. Informa, ou em suas próprias palavras, entretém "porque às vezes é mais importante do que tentar entreter do que informar o tempo todo. Se não for divertido, ninguém presta atenção...." A conversa promete.

Diagonal: Como começou a difundir sobre este tema?

Ott: Nos anos 70 havia muita demanda por informação. Organizei minha primeira conferência em 1976. Então, infelizmente, nos anos 80 há um parêntesis sobre o assunto, ao entrar Ronald Reagan na Casa Branca. Com sua reeleição deixei o E.U.A. e tornei-me refugiado fármaco-político no México, onde eu tenho vivido desde então. Antes dos anos 80 havida sido bastante liberalizada a situação nos EUA., com 11 estados despenalizando a maconha (marihuana), já que o próprio Carter tinha sido eleito com o apoio de uma plataforma para a despenalização nacional da maconha. Agora, a história está se repetindo o que havia sido aberta na década de 70 sobre a despenalização.

Minha intenção inicial era por informação fidedigna na mão das pessoas. Hoje temos mais e melhor documentação e divulgação popular do que em outros ramos da ciência. Agora há muito boa literatura e o que importa é ter acesso as plantas mesmas. Eu não busco publicidade e ser famoso, trato de fazer difusão. Sou um propagandista que vai contra a propaganda maior. Os enteógenos podem nos despertar para ver esta realidade, ou podem ser puro entretenimento, o que também me parece bom, não tenho nada contra. Para mim é fonte de informação, é uma ferramenta de conhecimento que abre muitas outras portas.



D: Como consumidores de drogas, temos a responsabilidade de estar fomentando as máfias dos “narcos” e os governos corruptos. O que se pode fazer?

Ott: Nós devemos boicotar os camelos e os políticos por trás deles. Eu recomendo o auto-cultivo de plantas, fungos ou análogos da ayahuasca. Hoje existem mais de cem empresas envolvidas com plantas enteógenas, ou substâncias análogas, com as mesmas substâncias químicas, mas sem ser ilegais. Eu mesmo escrevi um livro, análogos de ayahuasca, para colocar todas essas informações nas mãos das pessoas, sem ter que fazer o turismo da droga na selva, sem atrair a atenção das autoridades, de modo que ninguém sabe quantos psiconautas existem, quantas pessoas fazem ayahuasca em casa. Eu sei que se tem vendido toneladas de análogos de ayahuasca, abertamente na Internet, em revistas, etc. Muita gente se dedica a isso, e são plantas que não entram dentro da lista proibida, que não colocam problemas ecológicos, e são muito comuns; são plantas muito populares na etnomedicina de muitos países, que se utilizam para fazer produtos como o xampu.

Mas não podemos fazer isto com tudo, com as anfetaminas ou com a cocaína por exemplo. Na Espanha, na raiz do lançamento de revistas, se conseguiu muito respeito ao auto-cultivo, mas isto não cobre a química, não podemos cultivar hoje a coca para produzir cocaína. Me agradam os opiáceos, mas eu os consigo em farmácias, são fármacos muito baratos, embora se necessite de receitas. Este sim, se vendem mesclados, contaminados com substâncias muitos desagradáveis.

D: Que modelos jurídicos alternativos podemos ter para um consumo distinto?

Ott: Eu não sou a favor da legalização, como tal, mas a favor da descriminalização (despenalizacion). A legalização, nos EUA, significa controle absoluto por parte do governo, o que não quer dizer melhores preços ou melhor oferta, mas o contrário. Suponho que também haveria uma licença, licença de consumidor, que pode ter repercussões na hora de conseguir um emprego ou seguro de vida. Os hábitos pessoais das pessoas não são assuntos do governo ou das asseguradoras. Despenalização significa eliminar as leis proibitivas .

A situação melhora: se acaba com a violência nas ruas, com os encarceramentos, melhora a oferta, os preços se regem pelo mercado... Nos EUA há como um milhão de pessoas vivendo bem nisto, sem meter-se em fábricas ou oficinas, cultivando seus fungos (hongos) ou plantas de Maria, ou fabricando pequenas doses de pastilhas, de anfetaminas. Temos que ver os benefícios da situação atual. Se fosse legal, seguramente seriam as corporações multinacionais as que poderiam fabricar, monopolizariam o mercado, e seria ilegal fabricá-lo seu uma licença. Todos poderíamos fabricar, mas o preço para entrar no negócio seria muito alto.

D: Em que Estado acontece a produção de cocaína?

Ott: O grande problema agora do México e da Colômbia é que a cocaína já não está disponível, nem “pocaína”, só “nocaina” e isso é algo muito organizado. Eu suspeito que é feito na China, e não é uma mistificação. A vista, ao gosto, tato, parece cocaína, mas não é. Embora seja estimulante, tem efeitos nefastos, se sente “arranhado” (arañado), mas segue cumprindo sua função social.

No entanto, se seguem produzindo 1.000-1.500 toneladas de cocaína anuais. No México, onde eu vivo, de cinco anos para cá diminuiu a pureza e aumentou o preço.

Em termos geopolíticos, a cocaína é o grande sustento do mercado de armas. É feito por parte da CIA algo que já fizeram os franceses e ingleses transformando o ópio em heroína. A CIA se dedica a isso também no Afeganistão, onde se produz de 85 a 90% da heroína já preparada do mundo, além de muito haxixe.

Os talibãs haviam controlado isso temporariamente. Mas quando o exército dos EUA invade o país, novamente se dispara a produção. E agora a única economia viável do país é a droga. Deste modo, cocaína e heroína significam armas e não se desligam da violência. A CIA ganha seu dinheiro no comércio internacional, mas logo na venda da rua ganha ainda mais dinheiro e, embora esta realidade seja muito dispersa, gera mais violência.

EUA, através do tratado de livre comércio, consegue um bloqueio naval no Caribe e a coca passa através do México, o que converte Colômbia e México em dois dos países mais violentos do mundo. Se gera violência nos países produtores, nos países que passa a droga e se gera violência também nas ruas, com as gangues. Começa em violência e termina em violência.

Fuente: http://diagonalperiodico.net

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