domingo, 20 de dezembro de 2009

Bom dia!



Bom dia navegantes. E, sempre lembrando, que um bom dia é sempre um bom deus (1). Vou tentar assumir, após minha querida chaos baby, os primeiros contornos deste desenho que legitimou-se chamar “Blog”. Um blog qualquer? Talvez. Certamente um blog sobre substâncias psicoativas (SPA), onde todos compartilham a idéia de que a guerra as drogas é uma falácia e um fracasso histórico e que as assim chamadas “drogas” estão longe de constituir o rosto demoníaco que alguns querem pintar.

Sem contar que diante de legislações pífias como a brasileira (lei 11.343/06) seja sempre mister lembrar que é urgente a alteração de tal ato totalitário que dá margem a uma extensa criminalização da pobreza, de movimentos sociais, e de enormes conjuntos de pessoas aglomeradas sob a égide do “bode expiatório”. Faz-se o tempo de re-ver tal situação.

Jack Cole, do LEAP (Law Enforcment Against Prohibition) afirmou, assim como Renato Cinco um mês depois na EMERJ (2) (outubro e novembro de 2009), que a guerra as drogas funcionou desde seus primórdios como uma guerra contra as minorias, em especial, uma guerra racista. Antonio Escohotado, Thiago Rodrigues, dentre outros, mostram as proximidades na ascensão do proibicionismo no início do século XX dos preconceitos brancos ligados a determinados estereótipos como, p.ex, mexicano como consumidor inveterado de maconha, o chinês de ópio e o negro de cocaína, em especial durante crises financeiras tais populações foram apontadas como causadoras do desemprego de “brancos americanos”. O número percentual de negros presos nos EUA durante a guerra as drogas é substancialmente maior do que o percentual de negros presos na África do Sul durante o apartheid. Ronald Reagan foi direto: prendam os usuários, sem os usuários não existe narcotráfico. Os números são reveladores, embora os EUA sejam hoje os maiores consumidores de SPA´s do mundo, embora a taxa de dependentes tenha ficado estável durante todo este período de fim da cidadania dos consumidores de SPA´s, o número de prisões cresceu de ½ milhão em 1980 para 1,9 milhões em 2005, onde encontram-se 40.000 consumidores de maconha em 1980 e 774.000 nos anos 2005 (88% por posse da maconha).

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Ora, se entheos (3) é ser animado por transporte divino, é agir por meio de um deus, e se “Enteógenos” devém daí, então, antes de qualquer misticismo – que também pode ser pensado, de qualquer uso ritual, com todos os seus valores – penso que o uso de substâncias psicoativas, cada uma com suas especificidades, deva ser pensado em sua ambigüidade, como algo que pode alhear, alienar, tanto da multiplicidade de relações sociais como de si mesmo, mas, por outro lado, também pode aproximar tanto si como do mundo.

Nesse sentido o consumo de substâncias psicoativas, lícitas ou não, pode servir das mais variadas formas para seu consumidor, importando, não como querem os totalitários, a obstrução de qualquer uso ou o fim das substâncias psicoativas na face da terra, tarefa tanto quixotesca quanto impossível (3), mas fundamentalmente a forma de tal consumo. Importa mais facilitar através de informações, cuidado, etc., diminuir os usos indevidos de tais substâncias e, embora tal blog esteja longe de tal tarefa, espero que ele possa contribuir para uma ação, um ativismo sobre a catástrofe chamada “guerra as drogas” e suas resultantes, p.ex, a total desinformação sobre o consumo de determinadas substâncias.

Sendo assim, com esse tom meio sério que se não fugi agora, em algum momento do futuro o farei, dou boas vindas ao blog, aos meus queridos e queridas escritores e escritoras de tal espaço e aos possíveis leitores que adentrem esta pequena, porém aconchegante, dimensão.

23 beijos!


1 - O próprio nome de Júpiter, que na mitologia grega era Zeus, provem da luz. Júpiter, o “pai dos deuses romanos” contém em sua palavra, a partícula Jou que provem do sânscrito dew que significa luz, brilho e claridade. Piter, presente em Júpiter é a formula antiga de pater, pai. Júpiter, o pai da luz. Da raiz sânscrita dyew proveio Deus e dia. Na verdade, segundo Boff, dar um bom dia para alguém, significa desejar-lhe um bom deus e muita luz em seu caminho.” (http://muitaluz.blogspot.com/2006/03/da-origem-muita-luz-e-da-origem.html#links


2 - Escola de Magistratura do Rio de Janeiro


3 - Segundo Brandão "O ékstatis, todavia, era apenas a primeira parte da grande integração com o deus: o sair de si implicava num mergulho no Dioniso e deste no seu adorador pelo processo de ενθουσιασμοs (enthusiasmós), de ενθεοs (éntheos), isto é, 'animado de um transporte divino', de εν (én), 'dentro, no âmago' e θεοs (theós), 'deus', quer dizer, o entusiasmo é ter um deus dentro de si, identificar-se com ele, co-participando da divindade"


4 - Ver a intenção da ONU para “um mundo sem drogas em 2008

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