sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O despertar da divindade interior

Diretamente do Hempadão:


Hoje falamos do documentário: “Enteogenos: o despertar da divindade interior”. Trata-se de uma introdução ao tema: “Enteógenos”, tema que temos abordado no blog há algumas edições. O documentário inicia-se com um tom Hollywoodiano, como não poderia deixar de ser, entretanto, o vídeo vai muito além disso, reunindo falas de importantes autores no campo da enteogenia como Stanislav Grof, Ralph Metzner, Terence Mckenna, Rick Doblin (criador do MAPS – Multidisciplinary Association for Psychodelic Studies), Charles Grob e Alex Grey. Tampouco esperem ver um vídeo estritamente sobre enteógenos, mas ele reúne aspectos de uma espécie de “cultura enteogênica” que, embora múltipla, possui alguns elementos em comum.


A maioria dos enteogenistas compartilha uma perspectiva ecológica, a idéia de inter-relação entre tudo que existe no mundo, idéia que se existe há milênios, e ganhou força novamente após a revolução da mecânica quântica e os desdobramentos da destruição planetária promovida pelo capitalismo selvagem, especialmente pós segunda guerra mundial e com o desenvolvimento da pesquisa química (p.ex, Albert Hofmann e a Sandoz) e etnobotânica. Neste sentido, o pensamento que foca nesta inter-relação fundamental, pré-experiencial, só pode ser crítico ao despedaçamento do cuidado a nossa casa (oikos), ao planeta, sociedade e, em suma, ao cuidado de nossas relações com nossos próximos e conosco mesmo. Como diria o profeta: “Gentileza gera gentileza” e se tratamos mal nosso planeta, também este nos trata de forma equivalente.


O vídeo fala também sobre o xamanismo, na minha humilde opinião, o pai da religião e da psicologia (embora possa ser, conforme nos diz Jonathan Ott, a antítese e o rival mor da religião) que contemporaneamente tem ressurgido nos interesses de milhares de jovens. Tal interesse por um lado é símbolo da necessidade de transformação dos nossos pressupostos e comportamentos, embora por outro lado também traga uma imagem da desvirtuação de crenças milenares apropriadas por uma estética new age e comercialógica.


Ao longo da discussão entramos em diferentes terrenos como: música, filosofia, religião, etc., mas todos rodeando uma nova cultura emergente no ocidente, ao que parece, depois do boom contracultural dos anos 60. É a este novo ativismo que Jonathan Ott chama de “reforma enteogênica”. Por este termo ele entende: “a re-conexão do ser humano atual com sua herança cultural mais importante: o nexo com a tradição espiritual de experiência direta com o divino, que têm informado nossa cultura desde suas origens”.


Em suma, o que o documentário mostra de mais importante é como os enteógenos vem sendo re-descobertos e junto com eles toda uma cultura que vai além das limitações do racionalismo ocidental e da instrumentalidade técnica, que queriam que engolíssemos como “progresso”, “desenvolvimento” e “ordem”, mas que trazem as marcas sinistras da miséria e da barbárie, inclusive no odioso proibicionismo ao pensamento crítico, evidente nas perseguições de psiconautas e da alteração do estado de consciência.


A ciência clássica, incluindo as ciências políticas, e o positivismo/iluminismo como modelo filosófico subjacente se mostraram insuficientes para dar rumos sustentáveis ao nosso mundo, insuficientes para responder aos anseios espirituais, insuficientes para catalizar a autonomia das pessoas e superar a miséria humana que devasta nosso planeta. Os enteógenos usados com as cautelas necessárias, assim como as culturas que o vídeo introduz, permitem que possamos ir além na pesquisa da extravagante e excêntrica psique humana e re-imaginemos nossa sociedade, nossas relações pessoais e finalmente nossas relações com nosso cosmos.

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