domingo, 27 de dezembro de 2009

Carta a alta cúpula do governo brasileiro, em todas as escalas, a favor da descriminalização da maconha.

Senhores habitantes do governo,
É chegado um momento, um desses momentos que na historia encontramos aos montes, onde é preciso amadurecer e deixar de lado velhas picuinhas. Momento em que não adianta mais empurrar pra debaixo do tapete, nem fechar os olhos, mudar de assunto ou dizer que não se trata de um problema nosso. Ora, cresçam!
Se de todo os senhores fossem fortes e inteligentes saberiam, ou pelo menos teria uma parca noção, de que a criminalização da maconha (e também de outras plantinhas queridas que não irei falar agora) não é algo tão bem fundamentado com razões razoáveis e necessárias para o bom funcionamento da sociedade. Uma leve dose de história já traria à superfície as questões políticas e econômicas que ali subsistem. Por um lado, usam-se argumentos um tanto frágeis para sustentar a condição criminal da planta. De outro lado a medicina sempre gaguejou sobre o uso da erva milenar, ora aceitando suas potencias curativas ora rejeitando-a como portadora de males incontornáveis.

Mas deixemos esse debate de lado. Por que num país onde o cigarro e a bebida são tratados com tanta cordialidade, não são as justificativas morais ou sociológicas que virão legitimar tal uso. E num país que cultiva vícios não muito nobres (como as novelas globais), faz da maconha algo muito irrisório.
Ultimamente temos visto um processo de descriminalização que já abarca mais de um país da America latina, e na Europa as coisas já são pensadas de outra forma a um bom tempo. È hora de também darmos um passo em direção a uma política menos hipócrita.

Não adianta, e de fato é uma forma de ocultar o problema, conectar a questão do uso (e não do usuário) a do tráfico. As pessoas não compram porque existe o tráfico, embora o tráfico seja um fornecedor. O uso, assim como o da bebida e do cigarro, oscila entre a recreação, a necessidade, o cultivo do bem-estar, da sociabilidade etc. Estamos, de fato, incorporando uma nova prática coletiva em nosso corpo social, estamos num momento em que novos hábitos estão se consolidando.
È preciso olhar bem, senhores do governo, olhar bem de perto. È legítimo, mesmo sem ser Legal, o uso da maconha. Existem já verdadeiros grupos e coletivos, nichos inteiros onde o uso é uma constante entre os integrantes. A boa e velha cervejinha cede um espaço para um baseado. Toda uma cultura subsiste aí.
Problemas com vício, abuso, uso imoderado, não são inerentes a substância. Temos como exemplo o álcool, que é largamente incentivado nas propagandas, que é claramente apontado como marca da pretensa ‘brasileiridade’, e que, no entanto é um dos maiores problemas de saúde, ataca cada vez mais cedo aos jovens; carrega consigo uma série de problemas de abuso e excesso que se desdobram no trânsito, na família, no cotidiano. E de todo modo, diversas iniciativas são postas em voga para combater tais efeitos de um uso abusivo. O que também já é uma verdade em relação à maconha! Ou seja, a maconha, sem ser legal, já enfrenta problemas de uma substância legal, como a bebida, resultando em diversas iniciativas assistenciais. Alias, se formos ver os tipos de grupos assistenciais para “vícios” e “dependências” ficaríamos espantados em perceber que esse problema de saúde pública vai mais longe do que a saúde do corpo.

Portanto, estejamos preparados e cientes de que a descriminalização no Brasil também é inevitável. Por mais que a população seja tão inexpressiva quanto uma pedra, passivamente ela prova o quanto esse uso já é corrente e tido como parte do cotidiano. E o usuário não pode mais ser tratado enquanto um criminoso, um traficante. È preciso encarar sabiamente a característica mais humana entre todas as características – nossa mutabilidade. Estamos incorporando um novo hábito, estamos frente a uma nova prática social, que demanda ser reconhecida pelo estado; que demanda menos perseguição; que demanda respeito; que quer seu lugar ao lado de tantas outras substâncias tanto ou mais “alteradoras da consciência” – como a bebida e diversos remédios. A política verdadeira está ao lado das práticas inventivas do corpo social. E não para dominá-las, mas até mesmo protegê-las e incentivá-las, dando-lhes unidade constitucional, regulação mercadológica etc. como qualquer outro produto que circula por aí, portador de males e benefícios, com defensores e opositores, causa de alegria e de tristeza, mais um elemento humano, demasiado humano.... É importante perceber também alguns desdobramentos que a criminalização e proibição da maconha desencadeiam: vejam, senhores no trono, a maconha, diferente da bebida, possui propriedades passíveis de serem extraídas pela medicina e que resultariam em novos horizontes nos tratamentos de doenças, as mais diversas. São positividades da substancia que a criminalização sempre coibiu e impediu de serem exploradas, e que não podem mais ser adiadas. Assim como a fibra da planta, usada largamente na história e que hoje teria uma contribuição importantíssima na nossa economia decadente.

Portanto seus ocos culturais, sejam no mínimo passivos nisso também, aceitem que a multidão, tão passiva quanto vocês, apenas querem poder chegar do trabalho, fumar um baseado e dormir tranquilamente; sair no final de semana, tomar uma cervejinha e fumar um fininho antes de ver um filme. Mas vocês sabem disso, seus filhos fumam, os amigos dos seus filhos fumam... os porteiros do seu prédio fumam... o cobrador do ônibus fuma... a faxineira fuma antes de ir pro funk... o publicitário bem sucedido fuma... o empresário cheira.... e fuma também... o advogado fuma... duvido que você mesmo não tenha experimentado....


De um mero apreciador.
Com respeito e ódio.

1 comentários:

Fernando Beserra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

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