quinta-feira, 20 de maio de 2010

Apresentação de Dominique Duprez no IFCS-UFRJ dia 18 de Maio

Apresentação de Dominique Duprez no IFCS-UFRJ dia 18 de Maio de 2010

Duprez abordou dois cenários diferentes vividos na França contemporânea, considerando o consumo de substâncias psicoativas (SPA), a saber, o uso pela população de baixa renda e o uso pela classe média. O consumo e os problemas decorrentes do uso de substâncias psicoativas nas populações de baixa renda foram especialmente relacionados ao aumento do uso de heroína, o que aumentou o número de roubos para obter a heroína, além do comércio para se utilizar da substância. Diferente de outros comércios ilícitos, os “traficantes de droga” franceses não investiam no negócio, mas gastavam todo dinheiro que recebiam com as vendas (p.ex, em boates), sendo o comércio realizado de maneira mais horizontal (organização dos grupos) e pouco violento, criando um cenário radicalmente diferente do brasileiro. Por outro lado, existiam muitas mortes decorrentes do consumo de heroína injetável.




Nos anos 90 acontece a disseminação do HIV na França, que já tinha um atraso histórico em relação a implementação das políticas de Redução de Danos, que se associaram mais na França a questão das DST´s do que ao consumo de SPA e, finalmente, vão lidar com estes fatos com a disseminação do HIV na França.


Nos anos 2000 diminui o uso de heroína na França e aumenta o de SPA sintéticas e semi-sintéticas, especialmente o cloridrato de cocaína e o MDMA ou ecstasy.


A situação não é muito diferente do Brasil em outro ponto, isto é, embora a percepção dos jovens pobres seja de que os jovens de classe média utilizem mais substâncias ilícitas que os jovens das periferias, por outro lado, nos inquéritos aparecem apenas os jovens das periferias, mostrando a desigualdade judicial e a perseguição aos jovens das periferias.


Duprez abordou posteriormente o cenário techno francês, com as mega festas, especialmente no norte da França, próximo a Bélgica, que é um país clássico das grandes raves. Os programas de Redução de Danos, muitas vezes vindo de ONGs, como os Médicos Sem Fronteiras, fazem distribuição de insumos e informações nestas festas e às vezes mesmo teste de grau de pureza do ecstasy. Em fotos Duprez mostrou também uma espécie de borrifador de água que era usado nos usuários, diminuindo a temperatura corporal. A distribuição de água, que é importante por conta dos perigos do uso do ecstasy, criou alguns problemas nas festas e acabou suspenso, pois fazia concorrência com a venda de água nas raves. Outro grande problema relatado relativo ao consumo do MDMA foi a mistura freqüente, durante os 3 dias de festa (tempo médio), de álcool e ecstasy. Muitos usam álcool pelo efeito euforizante, no entanto, como o álcool é uma substância depressora do sistema nervoso central (SNC), quando o efeito depressor “bate” os jovens acabam recorrendo ao ecstasy e assim sucessivamente, fazendo misturas perigosas.


Segundo Duprez aumentou também o consumo de “cogumelos alucinógenos” (cogumelos psilocíbicos, seria um termo mais adequado), no entanto, não respondeu minha pergunta se estes cogumelos estariam sendo utilizados mais de forma lúdica ou por psiconautas visando a expansão ou exploração da psique.


O atraso da Redução de Danos (Ou rédution de risque, como se diz na França) como política de saúde pública na França se deu, segundo Duprez, a forte tradição psicanalista francesa, que brecava os tratamentos de substituição como, p.ex, a substituição da heroína pela metadona ou mesmo a abertura de salas de uso seguro de heroína. O movimento psicanalista francês seria mais adepto da visão abstêmia no caso da dependência química, em suma, os psicanalistas eram contra a “medicalização”.


Mesmo com resistências os tratamentos de substituição apareceram na França entre 1990 e 1995 especialmente com ONG´s. Os programas de Redução de Danos na França, assim como no Brasil, se enfraquecem em momentos que, como os atuais na França, o país conta com governos conservadores.

Eu não peguei tudo, mas a base do dito foi esta.

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