Mais um excelente texto do Jonathan Ott. E, também, mais uma tradução duvidosa, mas, no final das contas, ajuda. Quem quiser ler o original basta entrar no Onirógenos. Este texto foi escrito para a revista Cañamo. Lembrando aos leitores que ainda procuramos pessoas interessadas em escrever no Enteogenico, caso alguem tenha vontade entre em contato em: fernando.beserra@hotmail.com. Vamos ao Ott, sempre afiado e introduzindo novos termos.
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Jonathan Ott - do site Onirogenia |
PSICONÁUTICA CATÓLICA
Tradução: Fernando Beserra
Apresentamos, com este artigo, uma nova seção que vai tratar, no sentido mais amplo, sobre a alteração da consciência por meio de substâncias psicoativas. O autor destas reflexões Jonathan Ott é bem conhecido entre os nossos leitores, como psiconauta, investigador e, naturalmente, autor de "ottiano” e magno Pharmacotheon.
Bem vindo ao psicocosmos, querido leitor. Sou psiconauta pertinaz, um curioso pertinente do olho incorpóreo católico, um prosista do périplo. Peregrino, pendente da perícia psicopática. Também neólogo inveterado, mas isso é outra história, aliás, aqui não se trata de neologismos meus.
Psiconautas (Psychonaut) se intitula um capítulo da obra magna, naturalmente psiconáutica Annäerunge: Drogen und Rausch (Acercamientos: Drogas y ebriedad, ainda por sair em castelhano: Ernest Klett Verlag, Stuttgart, 1970, p. 430) de Ernest Juger, na penúltima página (501) na qual aparece também psicocosmos (Psychokosmos), sendo este o universo circunavegado pelo psiconauta, com ou sem um leme, para não dizer um rumo.
Quanto a psicopática, este é um anglicismo (Psychoptic), que acabo de introduzir no mundo de língua castelhano se não já o utilizei em “Pharmacophilia ou paraísos naturais” (Phantastica, Barcelona, 1998), um detalhe que me lembro. Devo dizer que foi um neologismo inglês em 1744, mas agora está nos dicionários, pelo menos no Oxford English Dictionary (OED), definido como “o que produz visão da mente ou a alma” e não deve ser confundida com psicoóptica (Psychooptic), cujo significado é mais fisiológico: “o pertinente a percepção mental da visão”.
Psicóptico me parece a palavra idônea para descrever as visões em sentido estrito, a percepção pelo olho desencarnado (ou bem interior ou, segundo alguns, exterior) do psionauta divagando pelo psicocosmos. Devemos ir em socorro a neologia para dar voz a percepção psiconáutica de caráter auditivo, psicauricular (Inglês: psychaural) e, por sua vez, psicolfativo, psicogustativo, psicotatil (psychofalctory, psychogustatory, psychotactile). De fato, como expressou poeticamente o meu falecido mestre R. G. Wasson: “O hongueado [alguem após uso de algum cogumelo psilocíbico] fica suspendido no espaço, como um olho desencarnado, invisível, incorpóreo, vendo sem ser visto. Na realidade, os cinco sentidos incorpóreos, todos sintonizados no mais alto registro da sensibilidade e atenção; todos misturados uns com os outros na maneira mais estranha, até que a pessoa, completamente passiva, devêm um puro receptor infinitamente delicado de sensações. O que é visto e ouvido parece ser a mesma coisa... ocorre a mesma coisa com o sentido do tato, paladar, olfato” (El hongo maravilloso. Teonanáctl. Micolatria n Mesoamérica, FCE, México, 1993, La traducción alterada por mi).
Quanto ao meu estranho emprego de católica em meu título, nada tem haver, naturalmente, com o entendimento comum, ou seja, a fé ou a religião católica. A palavra grega remonta a muito antes dessa instituição famosa, e seu significado literal – dado como o principal tanto no Dicionário da Língua Espanhola (ERA) como o de Moliner, é “universal”, “geral, comum a todos”. É com ironia consciente que traço psiconautica católica, e não universal. Além disso, ela inclui um duplo significado, sendo catolicón, portanto, um remédio universal ou panacéia (na verdade, também são sinônimos em inglês).
Deixemos claro de entrada e sem melindros: Embora minha mãe venha de família “católica”, tive a sorte de crescer sem doutrinações deste ou de qualquer outro culto. Não sou católico, tampouco cristão. Eu não tenho nenhuma religião, nem me faz falta. Concedo ao próximo toda liberdade religiosa e não me importam as crenças dos outros, sempre e quando não andem com um afã para proselitizar (infelizmente, os católicos e religiosos em geral se destacam historicamente pelo seu moralismo hipócrita [mojigato], proselitismo zelo; o que vem a chamar-se eufemisticamente de evangelização. Visto de outro lado, por parte dos andinos sul-americanos, por exemplo,
Deixemos claro de entrada e sem melindros: Embora minha mãe venha de família “católica”, tive a sorte de crescer sem doutrinações deste ou de qualquer outro culto. Não sou católico, tampouco cristão. Eu não tenho nenhuma religião, nem me faz falta. Concedo ao próximo toda liberdade religiosa e não me importam as crenças dos outros, sempre e quando não andem com um afã para proselitizar (infelizmente, os católicos e religiosos em geral se destacam historicamente pelo seu moralismo hipócrita [mojigato], proselitismo zelo; o que vem a chamar-se eufemisticamente de evangelização. Visto de outro lado, por parte dos andinos sul-americanos, por exemplo,
a educação social torna-se mais claramente uma questão de extirpação, inquisição e mesma caracterizações mais feias, sendo da mesma classe que conquista, escravidão, exploração, espoliação, genocídio, etc.).
Sou psiconauta católico porque também (nas palavras aptas de Antonio Escohotado) sou um “terrorista lingüístico” (embora eu diria mais revolucionário; e convêm lembrar que os revolucionários os chamamos assim por acaso, devido ao título de um livro de idéias altamente heterodoxas: De revolutionibus oribium coelectium por Nicolas Copérnico, do fatídico ano, 1543). É importante elaborar novas palavras para embelezar a competência expressiva de nossos idiomas: ainda mais importante é redimir palavras do cativeiro de propagandistas e vigaristas, daqueles que têm deformado e pervertido no serviço do engano contra o esclarecimento.
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