“Reconhecimento”. Esta foi a palavra mais pronunciada pelos parlamentares que se revezaram na tribuna da Câmara dos Deputados, durante a Sessão Solene em homenagem aos 50 anos de fundação do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal, na manhã dessa segunda-feira (11). Com o plenário e as galerias superiores totalmente lotadas, a Sessão Solene em homenagem à UDV iniciou com um vídeo apresentando a trajetória da entidade, desde sua formação até os dias atuais, com sua expansão pelo mundo, a exemplo de Estados Unidos e Espanha, que hoje contam com núcleos bem estruturados.
A União do Vegetal é uma instituição sem fins lucrativos criada em 22 de julho de 1961 pelo seringueiro José Gabriel da Costa, na fronteira do Acre com a Bolívia, esta religião ficou estabelecida depois de 1965 em Porto Velho (RO), de onde se expandiu por todo o Brasil e exterior, sendo hoje composta por mais de 30 mil frequentadores assíduos. Atualmente, sua Sede Geral fica em Brasília-DF.
A Sessão Solene foi aberta pelo deputado federal Mauro Benevides (PMDB-CE), parlamentar que detém o maior número de mandatos no Congresso Nacional, que em seguida convidou para fazer parte da Mesa diretora dos trabalhos a viúva do fundador da Obra, Sra. Raimunda Ferreira da Costa, conhecida no seio da religião como “Mestre Pequenina”. Em seguida, chamou também para sentarem-se à Mesa o Mestre Geral Representante da UDV, Francisco Herculano de Oliveira; o Diretor de Relações Institucionais da entidade, Edson Lodi; o filho de José Gabriel da Costa, Jair Gabriel da Costa, além dos deputados proponentes da sessão solene, Perpétua Almeida (PCdoB-AC) e Wolney Queiroz (PDT-PE).
De acordo com a deputada Perpétua, “muitos brasileiros ainda não sabem, mas em breve todos saberão que foi no seio da região amazônica, em plena floresta tropical, que nasceu a única religião genuinamente brasileira”. Segundo a parlamentar “o fundador da União do Vegetal, Mestre José Gabriel da Costa, é hoje cidadão honorário do estado do Acre, aonde a UDV, em reconhecimento pelas suas ações em benefício da população, já conquistou o merecido Título de Utilidade Pública”.
“Dia da Paz e da Conciliação”
O deputado André Vargas (PT-PR), falando em nome da Liderança do Governo na Câmara Federal, ao informar que vem observando a existência de inúmeros parlamentares identificados com a causa da fraternidade e com a paz, anunciou que em breve vai apresentar à Mesa Diretora da Casa um requerimento propondo a comemoração, no Brasil, em 22 de julho, o “Dia da Paz e da Conciliação”, em homenagem à UDV exatamente no dia em que a religião foi criada.
Em seguida, como é de praxe na Casa, o deputado Benevides convidou Perpétua Almeida para presidir os trabalhos e passou a ocupar a tribuna, de onde teceu diversos elogios à ação social desenvolvida pela UDV. O decano da Câmara dos Deputados destacou “a lucidez de José Gabriel da Costa, que, apresentando-se como um soldado da borracha, cumpriu missão sublime ao criar uma obra desta importância, pela qual merece o reconhecimento de todos nesta Casa”. Ele cumprimentou a todos os presentes, em especial à Sra. Pequenina, pela consciência dos filiados da UDV: “É coisa muito rara a gente ver este plenário e estas galerias lotadas em plena manhã de segunda-feira, razão pela qual, já podemos notar que se tratam de pessoas ordeiras e cidadãos honrados de nosso país”, declarou.
Já o deputado Wolney Queiroz, observou que a União do Vegetal possui fundamentos e ensinos cristãos de natureza e destinação universal. “Em meio a uma sociedade que muitas vezes distorce os valores morais e ameaça a sagrada instituição da família, afastando o ser humano da realidade, surge a União do Vegetal, que é uma nova possibilidade de religação do ser humano com o Sagrado”, afirmou, acrescentando ainda que, em outros países, a UDV vem transmitindo seus ensinamentos na língua portuguesa, contribuindo para difundir o idioma e a cultura do Brasil no exterior.
Sibá Machado (PT-AC), outro deputado presente, disse que aquela sessão solene “é o reconhecimento a um trabalho sério e honesto, que tanto bem vem fazendo às famílias brasileiras”. Da mesma forma, o deputado Gladson Cameli (PP-AC), salientando a importância da liberdade de expressão religiosa no Brasil, parabenizou a União do Vegetal (UDV) pela passagem dos 50 anos de criação da entidade. Cameli ressaltou o aspecto social e cultural da União do Vegetal, “que trabalha com os valores morais da população e conduz a uma conduta reta, o que implica na formação de uma sociedade mais voltada para o bem e o desenvolvimento da paz e do amor ao próximo”.
Logo depois do deputado Cameli, foi a vez do senador Sérgio Petecão (PMN-AC) reconhecer as iniciativas desenvolvidas pela UDV em favor da evolução espiritual e pelo desenvolvimento das virtudes morais e intelectuais do ser humano. “O Mestre Gabriel, ao criar esta ordem, mostrou e vem mostrando que é possível usar o chá Hoasca de acordo com os princípios cristãos e em benefício da saúde e do bem-estar da sociedade”, afirmou.
“Sessão sublime”
Para o presidente da Diretoria Geral do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal, Flávio Mesquita, aquela homenagem estava sendo mais do que uma Sessão Solene: “É uma Sessão Solene e sublime, pois é o reconhecimento ao trabalho árduo iniciado com muita simplicidade e esforço no seio da floresta amazônica, tendo como primeira sede a sala da casa de taipa aonde morava o Mestre com sua família”, lembrou, observando que a essência simples transmitida por José Gabriel permanece até hoje na sociedade religiosa, embora ela tenha avançado fronteiras: “Foi naquele ambiente feito principalmente de simplicidade e amor que o Mestre Gabriel pode transmitir aos seus primeiros discípulos, os princípios fundamentais para a construção de uma paz no mundo”.
Conforme o Sr. José Luiz de Oliveira, que falou da tribuna em nome da Representação Geral do Centro, e na condição de ter sido um dos primeiros discípulos da UDV, aquela Sessão Solene e o reconhecimento pelo trabalho da União do Vegetal em benefício do ser humano já havia sido anunciado pelo Mestre Gabriel ainda no princípio da criação da sociedade religiosa, nos anos de 1960. “Quando ele nos falava que a União do Vegetal chegaria às principais cidades brasileiras e chegaria até o exterior, muitos de nós não acreditávamos, eu mesmo fui um que duvidei, porque nós éramos todos meio caboclos, vivíamos com poucos recursos financeiros, e aquilo parecia um sonho distante”, lembrou, em tom saudoso.
“Hoje muitos de nós já dirigimos sessões em diversos países e sabemos que muito do que o Mestre Gabriel previu já se tornou realidade”, constatou. O dirigente da UDV declarou que um dos exemplos da doutrina ensinada pelo Mestre Gabriel, e que até hoje é seguida dentro da instituição, é o fato de que os dirigentes da UDV não recebem remuneração pelo trabalho que desempenham na religião: “Isso foi ensinado pelo nosso Mestre porque, quando nós nos reunimos e propomos criar para ele um salário, para que ficasse por nossa conta, ele não aceitou e disse que quem sabe ensinar tem que saber praticar. Ele disse: ‘Não podemos receber recursos financeiros porque somos todos voluntários em favor do próximo’”.
Ao final dos pronunciamentos, a Mestre Pequenina agradeceu a presença dos filhos Jair Gabriel e Jandira Ferreira, e lembrou-se das palavras de Mestre Gabriel, de que ele entregaria a ela um tesouro: “No ano em que ele viajou para tratamento de saúde em Brasília, Mestre Gabriel me disse que não voltaria, mas que eu não me preocupasse porque ele estava deixando para mim e para muitos outros, uma coisa muito valiosa”, recordou. “Hoje eu posso perceber que o grande tesouro que ele me falou é a União do Vegetal, que é uma grande beleza, onde temos amigos e podemos encontrar paz e equilíbrio para as nossas vidas”.
Momento cultural
A Sessão solene da Câmara dos Deputados contou com algumas atividades culturais, que a diferenciaram das tradicionais sessões registradas na Casa e contribuíram para que o plenário se tornasse um ambiente mais ameno do que tradicionalmente se vê no dia a dia legislativo. No início da Sessão, por exemplo, o Hino Nacional foi executado pelo consagrado violonista Manassés de Sousa. Ele acompanhou o cearense Marcos Lessa, que cantou o Hino com maestria. Outro momento de descontração aconteceu ao final da solenidade, quando Mestre Pequenina entregou à deputada Perpétua Almeida uma bandeira da UDV. Em seguida, a cantora Margareth Menezes cantou o Hino da UDV, acompanhada também do violonista Manassés.
Quem é a UDV
A UDV é formada por homens e mulheres, entre associados e familiares, que diariamente procuram fazer o bem e contribuir para atitudes de amor ao próximo. Possui fundamentos cristãos e exercita a tolerância e o respeito a todos os grupos religiosos, tendo como símbolo da paz e da fraternidade humana Luz, Paz e Amor. Seus dirigentes são voluntários e eleitos por voto para mandatos de três anos.
Com diversas ações de beneficência, como a avançada alfabetização de jovens e adultos diretamente no computador e o auxílio material a pessoas carentes, esta religião, também chamada de “União do Vegetal”, detém o título de Utilidade Pública Federal desde 1999, além de diversos títulos municipais e estaduais de valor equivalente, concedidos a entidades a ela ligadas. Este reconhecimento é renovado todos os anos, com um crescimento expressivo na quantidade de pessoas favorecidas.
Para se ter ideia de suas atividades, só em 2010 o trabalho da UDV nesta área resultou em mais de 113 mil atendimentos sociais. O volume de benefícios realizados no dia 26 de março deste ano – intitulado internamente como “Dia do Bem” – envolveu 1.222 voluntários em ações filantrópicas que resultaram em 37.266 atendimentos, melhorando a vida de pessoas desprovidas, em sua maioria, de recursos financeiros e de atenção do Estado.
Nas ações ambientais, por meio da Associação Novo Encanto de Desenvolvimento Ecológico, o Centro apresenta um trabalho de reciclagem e compostagem de lixo, aplicação de sistemas agroflorestais e permaculturais, além de incentivar o plantio de árvores e a preservação de nascentes e de áreas protegidas por lei.
Chá Hoasca
Em seus rituais religiosos, a UDV utiliza o chá “Hoasca”, resultado da decocção de duas plantas amazônicas, para fins de concentração mental. Este chá, denominado também por ayahuasca ou simplesmente “Vegetal”, é reconhecido como inofensivo à saúde humana pelo Governo Federal, conforme resolução do Conselho Nacional de Políticas Sobre Drogas (Conad), que autorizou seu uso religioso. Da mesma forma, a Suprema Corte Norteamericana autorizou – por unanimidade – a União do Vegetal a distribuir, religiosamente, o Vegetal em todos os Estados Unidos.
Ao mesmo tempo em que recebe esta homenagem da Câmara Federal, o Centro também vem obtendo, ao longo deste ano, congratulações e menções honrosas em mais de 20 assembleias legislativas e câmaras de vereadores de diversos estados e cidades do país, além de ver o dia 22 de julho (dia de sua fundação) ser incluído no calendário oficial como o “Dia da Paz e da Conciliação” em 12 municípios brasileiros, além, agora, da proposta de também se tornar “Dia Nacional da Paz e da Conciliação”.
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