Uma Visita ao Palácio Subterrâneo do LSD de Gordon Todd Skinner
POR HAMILTON MORRIS
FOTOS POR DAVID FEINBERG E SANTIAGO STELLEY
Fotos de arquivo cortesia de Krystle Cole
FOTOS POR DAVID FEINBERG E SANTIAGO STELLEY
Fotos de arquivo cortesia de Krystle Cole
Krystle dentro do túnel do silo onde ela já teve incontáveis horas de viagens psicodélicas. |
Não é nada fácil sintetizar os eventos ocorridos no silo de mísseis de Wamego entre 1º de outubro e 4 de novembro de 2000. As informações disponíveis formam uma massa viscosa de verdades, meias verdades, três quartos de verdades e mentiras descaradas, da qual é impossível extrair qualquer substância pura. Os personagens da história são múltiplos e variados. Os elementos químicos em questão são muitas vezes obscuros e de efeito desconhecido. Tudo que se sabe é que, em 1997, um prestigiado químico orgânico chamado Leonard Pickard se aliou a Gordon Todd Skinner, um herdeiro milionário, para criar aquele que se tornaria o laboratório de LSD mais produtivo do mundo. Um laboratório que, segundo fontes, produzia mais de 90% do LSD disponível no planeta, além de quantidades desconhecidas de MDMA, ALD-52, extrato de ergot e, possivelmente, LSZ.
Leonard Pickard é um caso raro entre os químicos clandestinos—um dos poucos que se destaca no ambiente acadêmico. Ele estudou em Harvard, Purdue e na UCLA enquanto produzia quilos de MDMA e LSD em laboratórios secretos da Irmandade do Amor Eterno. Era um sujeito carismático e gentil, de excelente postura (costumava dizer que a coluna vertebral deveria ser mantida na vertical, como “um lindo colar de pérolas”). Uma imagem famosa mostra Leonard em um congresso científico apreciando o aroma de uma rosa. Ele era assim.
Gordon Todd Skinner (mais conhecido como Todd) é um químico autodidata de competência duvidosa—o fato de ele ser considerado um químico é discutível. Ele afirma ter feito sua primeira extração de mescalina a partir do L. williamsii aos 19 anos. Aos 25, estava preso em Nova Jersey acusado de traficar quase 20 quilos de maconha. Para se livrar da pena, começou uma longa e frutífera carreira de informante do governo. Em 1996, adquiriu um silo de mísseis nucleares Atlas E desativado em Wamego, no estado americano do Kansas, e o transformou em um palácio psicodélico subterrâneo. Três anos mais tarde, comprou outro silo de mísseis, para abrigar um superlaboratório de LSD, que permaneceu na ativa por um curto período de tempo, já que, em outubro de 2000, Todd ofereceu aos agentes da DEA (a agência americana de combate às drogas) uma visita monitorada a suas instalações. Afirmar que Todd é um delator seria ignorar o fato de que ele parecia ter um comprometimento profundo e sincero com a distribuição de drogas psicodélicas para o aperfeiçoamento da espécie humana—o que torna sua atitude ainda mais complexa.
Por fim, temos Krystle Cole, uma ex-stripper gótica do Kansas, que se apaixonou por Todd e acabou tendo acesso a seu círculo privado de químicos e traficantes. Krystle conheceu Todd em fevereiro de 2000, e eles viveram uma lua-de-mel lisérgica de seis meses antes que as coisas começassem a catabolizar em caos. Em agosto do mesmo ano, Todd começou a suspeitar que seu laboratório de LSD estivesse sendo vigiado pelo governo e decidiu se esquivar de qualquer acusação criminal que pudesse vir a enfrentar entregando Leonard de bandeja. Isso levou à prisão de Leonard e uma escassez de LSD em escala nacional (e talvez mundial) que se estendeu pelos primeiros anos da década de 2000.
Em outubro de 2000, Todd contatou formalmente a DEA e declarou: “Estou envolvido naquilo que acredito ser a maior rede de distribuição de LSD do mundo… Queria tentar fazer um acordo”. Todd ganhou imunidade total por seu envolvimento com o laboratório, enquanto Leonard recebeu duas condenações à prisão perpétua sem direito à condicional. Logo depois do julgamento, Todd e Krystle viajaram aos Estados Unidos comercializando quilos e mais quilos de MDMA com alto grau de pureza para sobreviver. Com o tempo, Todd foi ficando cada vez mais violento e paranoico, e em setembro de 2003 acabou preso e envolvido em uma batalha judicial que terminou com uma sentença de prisão perpétua por agressão com arma branca (uma agulha hipodérmica) e sequestro.
Desde então, Krystle vem transformando sua experiência em matéria-prima para uma série de livros e vídeos no YouTube, o mais popular deles envolvendo uma discussão aprofundada sobre uma técnica de administração intra-retal de DMT batizada como “o colônico xamânico”—dizem que arde bastante. Krystle é uma das poucas pessoas que participou da empreitada e não está na cadeia, então peguei um avião para o Kansas para entrevistá-la e fazer uma visita ao lendário silo de mísseis. Apesar de ter passado por tudo o que passou, Krystle é um poço de energia enteogênica em ebulição. Quando a busquei para irmos até Wamego, ela estava vestindo uma camiseta tie-dye com o símbolo da paz.
O silo era um testamento da extravagância perdulária de Todd. O abrigo principal era decorado com tapetes persas e luxuosos sofás de couro. Havia também um sistema de som de 120 mil dólares, que ele usava para ouvir Deep Forest e Sarah McLachlan no último volume. O banheiro era equipado com três duchas e uma banheira capaz de acomodar umas seis pessoas. Depois das prisões, o silo foi esvaziado, e tudo o que havia de valor por ali foi vendido. O espaço acabou abandonado, vandalizado, inundado e por fim invadido por comparsas de Todd em busca de um carregamento de MDMA, LSD e DMT escondidos nas paredes estriadas de mármore rosado. Atualmente, pouco do silo original permanece intacto, e a propriedade agora pertence a um fanático por veículos militares, que usa o abrigo de mísseis para guardar seus tanques soviéticos T-34 da época da Segunda Guerra Mundial. Depois de visitar o silo, Krystle e eu batemos um longo papo
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