quinta-feira, 31 de março de 2011

O Estado Terapêutico é um Estado Totalitário

Fonte: Hempadão! (Portas da Percepção)


Iniciamos o post no “Portas da Percepção” com um título baseado numa frase de Thomas Szasz em seu livro clássico: “Nuestro derecho a las drogas”. No “Portas” hoje não vamos tratar especificamente de enteógenos, mas tocar o tema lateralmente, colocando na mesa uma questão de grande importância: o uso de substâncias psicoativas é caso de saúde, justiça, política, ou do que afinal?

Recentemente, no Brasil, uma pesquisa no Portal do Senado respondentes são contra a proposta reacionária do tratamento compulsório ao usuário de substâncias psicoativas. Isso é um ganho da democracia, já que, sob a racionalidade da saúde, o Estado totalitário encarcera, pune e tortura os desviantes. No Brasil, por exemplo, em 1984 foi criado o único presídio-hospital para dependentes químicos, em Juiz de Fora, com recursos do Ministério da Justiça. A idéia é antiga, e no Brasil é debatida desde a década de 1920.

Esta idéia base do Estado Terapêutico é bastante antiga, e a medicina social, conforme coloca Foucault, foi a primeira espécie de medicina, interessada tanto em organizar o hospital (morredouro, lugar religioso e de exclusão) como organizar de forma militarizante os espaços públicos, gerando elaboradas formas de controle social.

Na visão controladora de Benjamin Rush:
“Em sucessão será assunto do médico salvar a humanidade do vício, tanto como foi até agora do sacerdote. Concebamos os seres humanos como pacientes em um hospital; quanto mais resistem a nossos esforços para servi-los, mais necessitam de nossos serviços.”

Portanto, o controle estatal através da medicina (pacto médico-estatal) é a idéia-base para o controle terapêutico do uso de substâncias psicoativas, controle, em última análise, ideológico, conservador e religioso (no sentido institucional do termo). Para tal empreitada médico-estatal visando o controle médico (ou, para a visão mais conservadora, a proibição completa) a medicina teve que combater ferozmente o que fazemos aqui no Portas da Percepção, isto é, todo o saber que se propagava e que permitia usos populares de ervas, chás, infusões, cascas, etc., em suma, combateu-se o que veio a ser criminalizado como “curandeirismo”.

Que digamos de uma vez: O uso de substâncias psicoativas não deve passar da justiça para simplesmente a saúde! Deve ser, finalmente, regulamentado pelo ministério da saúde sim, mas também passar pela cultura, pelo lazer e pelo esporte! Se existe um uso indevido de substâncias psicoativas, devemos sempre lembrar que existem muitos usos saudáveis, que se relacionam as esferas da cultura (p. ex, arte psicodélica), da saúde (usos medicinais), do lazer e da religião (portas da percepção).

Em suma, urge que denunciemos estas propostas que visam controlar os usuários. Ao contrário, como disse Francisco Inácio Barros, pesquisador daFiocruz, no Seminário de Redução de Danos na UERJ, os usuários devem ser chamados para construir nossa política de drogas, assim como a política de atenção ao uso indevido de substâncias psicoativas.

Essa proposta deve ser integral. É apenas o Estado Totalitário que procura controlar todos os comportamentos de seus “prisioneiros”. Se for para pensarmos em democracia, se for para lembrar Cornelius Castoriadis, quando diz que a democracia é o governo do povo, e só existe se este povo realmente participa das políticas da polis, já que todo cidadão é um animal político, e não apenas os políticos ditos profissionais.

Para nos aproximarmos da democracia direta e irrestrita temos que nos fazer ouvir e dar voz as milhões de vozes oprimidas, sejam usuários de substâncias enteógenas, estimulantes ou depressores!

quarta-feira, 30 de março de 2011

Algumas considerações sobre o Seminário de Redução de Danos de 25 de março na UERJ

            Foi um excelente seminário. Bons convidados, excelente público (estava lotado!), e boas discussões. É claro que, pela dinâmica do seminário, entre propostas iniciais de RD, apresentação dos trabalhos que tem sido realizados, ficamos sempre com um gosto de quero mais, no que se refere a discussão da política da RD. Também ficamos, no RJ, a espera de novos programas de RD que possam ampliar o quadro desta política, ao meu ver, ainda bastante modesta no Brasil, especialmente ao que se refere aos “consultórios de rua”, aos contatos in loco com os usuários. Por isso estes seminários são fundamentais para propagar a RD, pois ainda encontramos muitas resistências de políticas falidas de tratamento, sustentadas por lobistas, mesmo professores universitários de faculdades como a UNIFESP. Do outro lado, estes saberes anti-liberdade, ainda ganham força, não apenas de cima para baixo, mas também nas entranhas populares, pois que a opressão não provem apenas do “Estado”, das grandes multinacionais ou dos grande chefões. É preciso, portanto, estar atento aos desafios colocados. Neste sentido, penso que a 1ª mesa foi sensacional, pois contou com 3 grandes nomes, do Francisco Inácio, pesquisador de saúde pública da Fiocruz, com Vera Malagutti, que tratou bem mais da política de drogas e da criminalização do pólo da produção de “drogas” e, finalmente, com Cristiane Sampaio, da ONG Psicotrópicus, referência no que se refere a prática de campo em redução de danos.

            Opinião pessoal, creio que ainda falte um seminário ainda maior, não só sobre RD, mas sobre “Substâncias Psicoativas” e que possa englobar diferentes estudiosos e mesmo novos estudantes da temática, para que possamos passar ao público a riqueza de novos pontos de vista, sobre RD, sobre política de drogas, nacional e internacional, sobre as discussões nestes âmbitos, e mesmo, por que não, sobre enteógenos.

            Nossa discussão se dividirá em 2 posts. O 1º com esta introdução e falando sobre a primeira apresentação e o 2º sobre a segunda e a terceira apresentações da primeira mesa.

1ª mesa

O Enteogenico esteve presente no evento “Seminário de Redução de Danos”, realizado na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Na primeira mesa do evento, contamos com a presença do pesquisador da Fiocruz, “dinossauro da redução de danos”, “Chico” Inácio Bastos. Francisco apresentou um trabalho observando seis pontos da redução de danos que hoje considera relevantes para que essa política enquanto política de saúde pública. São eles:

            1) A redução de danos (RD) hoje lida com o mundo contemporâneo, mais complexo, onde a RD vai além da questão das sustâncias psicoativas e adentra outras áreas. Francisco deu o exemplo das usinas nucleares e as formas de minimizar os riscos e danos.

            2) Complexidade – Se a complexidade vinha sendo negada, p.ex, na Classificação Internacional das Doenças 8 (CID VIII), por outro lado, mesmo num livro como o CID X vemos a superação de um hiper reducionismo. A área, considera, ganhou em complexidade. O mundo hoje seria muito mais complexo, e, deste modo, viveríamos também numa “Sociedade dos riscos”, procurando gerir danos e riscos.

            3)  Pensar padrões de consumo, isto é, a RD de forma mais refinada. Hoje lidamos com o mundo numa velocidade mais acelerada que podemos acompanhar.

            4)  O debate sobre o mercado das “drogas”, isto é, a questão se o usuário financia ou não o mercado de drogas é infeliz e mal colocada. É evidente, julga Inácio, que o usuário financie este mercado e, por questão de capilaridade, este mercado de drogas, por ser ilícito, se relaciona com outros mercados ilícitos, tal como o de armas. A questão, coloca o pesquisador, é o que faz este mercado se inserir historicamente na ilicitude? Dá o exemplo da Lei Seca e de seu fracasso histórico. Devemos nos perguntar como, após a fracassada experiência da Lei Seca, em vários aspectos, o mercado do álcool caminhou para a licitude e o de outras drogas não.

            5)  Temos que ver os usuários como parceiros nas nossas ações. Não porque somos bonzinhos, embora a questão de direitos humanos e políticos seja de extrema relevância, estamos ainda bastante atrasados neste ponto. É fundamental a importância dos usuários na promoção de políticas e ações de redução de danos.

            6)  A RD se operacionalizou por uma demanda clara, isto é, a epidemia do HIV em usuários de drogas injetáveis. A demanda hoje é outra. Raramente encontramos usuários apenas de drogas injetáveis. A maioria se constitui como poli-usuários ou, uma demanda muito relevante hoje, é do uso do crack, também, nos EUA, p.ex, a relação entre sexo não seguro, população homosexual, e ecstasy. O usuário atual não é, portanto, o usuário dos anos 90.

Dia 1 de abril na OAB RJ - Dia de luta contra o proibicionismo!


O Enteogenico vai participar dessa! Vamos que vamos, contra o proibicionismo! Vamos lá trocar uma petéca com os proibicionistas?

fonte: Hempadão
A dica desta semana é um convite para os leitores do Rio de Janeiro. Na sexta-feira (01/04), o dia da mentira, uma tropa de choque dos defensores da proibição da maconha estará reunida na sede da OAB-RJ (Av. Marechal Câmara, 150, 4º andar, Centro) para o debate “Drogas: o que é necessário saber e o que podemos fazer”. Confira no cartaz a lista de debatedores:

Da mesma forma que um grupo de ativistas canábicos “invadiu” a Marcha Contra a Maconha em Curitiba a militância carioca precisa marcar presença neste encontro. Aconselhamos que todos cheguem na OAB antes do início da primeira palestra - marcada para 9h - para garantir uma vaga no auditório. Outra dica importante é que o local não permite a entrada de pessoas vestindo bermuda e/ou camiseta e chinelo. A equipe do Hempadão também estará presente e prometemos transmitir o evento ao vivo pela Internet

domingo, 27 de março de 2011

Comissão defende política de drogas na Saúde

 Matéria publicada no Jornal “O Globo” (impresso) no dia 26 de março de 2011.

Por Dandara Tinoco

            Um debate ampliada e livre de tabus, que trate o consumo de drogas como questão de saúde. Essa foi a proposta apresentada pelo relatório “Hora de debater e inovar”, divulgado pela Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia (CBDD) onte, na Fiocruz, no Rio. O documento é resultado de um trabalho de um ano e meio que envolveu especialistas em diferentes áreas, como saúde, direito, segurança e economia. O grupo pretende recolher assinaturas em defesa do relatório, que será encaminhado ao governo federal. O apoio popular será buscado também nas redes sociais.

            - Se há problema de droga, que saia do terreno criminal, da polícia, e que venha para o terreno da saúde. O problema da polícia é bandido. O problema do consumo da droga, seja ela o álcool , cigarro, a maconha ou o terrível crack, é um problema que precisa de assistência de saúde – defendeu Rubem César Fernandes, secretário-executivo da CBDD e diretor-executivo do Viva Rio.

            “Descriminalizar não significa legalizar”

            No encontro, os membros da comissão criticaram a atual legislação brasileira que, segundo eles, não é clara quanto à diferenciação entre usuários e traficantes. Eles citaram como exemplo positivo o caso de Portugal, onde o porte para o consumo de todas as drogas foi descriminalizado em 2001, e são considerados usuários aqueles que possuem uma quantidade de entorpecentes para até dez dias de uso. Segundo o relatório, a medida resultou em redução da criminalidade e da população carcerária.

            “Descriminalizar não significa legalizar. Significa dizer que, muito embora seu consumo ainda seja proibido, os infratores não são encaminhados à Justiça Criminal. São acolhidos por comissões especiais cujo objetivo é auxiliar o usuário e preservar sua saúde”, diz trecho do texto.

            O documento elogia as políticas atuais contra o tabagismo – que incluem limitações de espaços e idade para consumo permitido. As estratégias podem ser usadas como modelo para o enfrentamento das outras drogas, de acordo com o grupo.

            No relatório, a CBDD afirma que a política internacional de combate às drogas, proposta pela ONU em 1998, fracassou.

            - A forma de encarar o problema das drogas ilícitas precisa ter nova abordagem, que supere uma visão exclusivamente repressiva, que estava muito marcada por essa idéia de guerra às drogas, que demonstrou um fracasso total do ponto de vista internacional – afirmou o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, acrescentando que a comissão defende a punição severa aos grupos organizados de traficantes e ao uso de armas:

            - A população tem total razão de querer as garantias de que uma postura e abordagem sobre esse tema não sejam de forma nenhuma confundidas com tolerância, com uma visão de que nós podemos aceitar a violência e tudo que diz respeito ao tráfico de drogas e a forma como ele se organiza na sociedade brasileira.

            Líder do PT na Câmara, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), também membro da comissão, esteve no encontro. Ele afirmou que o relatório será encaminhado ao governo federal através dos ministérios da Justiça e da Saúde. Participaram também o coronel reformado da Polícia Militar, Jorge da Silva, o presidente do conselho do Itaú-Unibanco, Pedro Moreira Salles, e o economista Edmar Bacha, entre outros.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Análogos da Ayahuasca


Organização do post: Equipe Hempadão


O presente capítulo faz parte do clássico livro “As plantas dos deuses” de autores do cacife de Richard Evans Schultes e Albert Hoffman. Muitas informações nele contidas foram trabalhadas posteriormente e exploradas por psiconautas do mundo inteiro. Graças a estes estudos, dos análogos da ayahuasca, muitas pessoas fora dos países sul-americanos puderam ter acesso a experiências enteogênicas com Anahuasca, com plantas que levam a experiências similares a tradicional mistura “amazônica”.No atual contexto, isso é muito importante, tanto para estas pessoas, como para evitar um “turismo desmesurado da ayahuasca” e que poderia ocasionar que conservadores de plantão visassem proibir o sacramento de tantos.


Não preciso dizer muito. As contribuições dos autores falam por si só, e nos levam a enxergar, além das variações que podem ser utilizadas para fazer o chá enteogênico, a profunda percepção dos autores, em direção a auto-transcendência e ao encontro com a verdadeira religião, o religare, a importância na vida humana do contato imediato com o divino, isto é, não mediado por padres ou autoridades ctónicas.

Wilhelm ReichO psicólogo ucraniano Wilhelm Reich, já na década de 1930, nos alertava para a importância dos “nós psicossomáticos”, que ele chamava de couraças, somáticas ou caracteriológicas, na contribuição ao autoritarismo social e, finalmente, as ditaduras. Estas couraças seriam formações históricas, relacionadas a vida de cada um e as intervenções dos adultos, especialmente os pais, sobre as crianças. No mesmo livro do subcapítulo de nossa tradução, Hoffman e Schultes, tratam deste assunto e consideram os enteógenos como ferramentas promissoras para a superação destes nós e de complexos psíquicos. Em última análise, se de forma bem orientada e administrada, é possível que os enteógenos, além de contribuírem para a superação de conflitos de natureza pessoal, possam contribuir para a democracia social, que, em sua essência, em nada tem haver com os resíduos que chamamos de democracia.

Especificamente sobre a anahuasca o texto é introdutório. Para os que pretendem se aventurar na busca de si, é fundamental a leitura de fóruns e outros textos para calcular e se proteger com precisão, já que uma má preparação pode ser perigosa. ‘Recentemente’ um turista veio a ficar em coma no Amazonas tentando fazer seu próprio chá. Embora saibamos, por vários estudos, que o chá bem preparado e em cenário propício apresenta poucos riscos, todo cuidado é fundamental!

Análogos da Ayahuasca
Cap. Do livro Las plantas de los dioses, de Shultes, Hoffman e Rasch

O princípio farmacológico descoberto na ayahuasca pode reproduzir-se com plantas que contêm os mesmos princípios ativos (harmalina/harmina e DMT/5-MeO DMT). As combinações de plantas com estas substâncias se chamem hoje “análogos da ayahuasca” ou “anahuasca” e as de princípios ativos isolados ou sintetizados “farmahuasca”.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Manifestação contra maconha vira debate democrático: finalmente!


Diretamente do www.hempadão.blogspot.com

O Pé na Marcha desta semana começa com um passo atrás. Nesta quinta-feira foi realizada em Curitiba a passeata contra a legalização da maconha promovida por alguns políticos, igrejas e até estudantes. Vestidos de preto os manifestantes cantaram que "não escutam mais a erva que não leva a nada".

Mas a Praça Santos Andrade também foi tomada por aqueles que pensam diferente e, como nós, defendem a legalização. No vídeo abaixo é possível ver que as divergências não motivaram brigas e o diálogo entre os dois grupos foi pacífico. Clique no leia mais e confira as reuniões da Marcha que acontecem nesta semana!


Independente de qualquer oposição o Coletivo Marcha da Maconha segue preparando o maio verde em todo Brasil. Amanhã (25/03) a galera de Natal se reúne às 18h na nova pracinha do CCHLA (em frente ao novo anexo da Biblioteca Central).

No Rio de Janeiro a reunião da Marcha será neste no sábado, as 15h, no DCE da UFRJ, na Praia Vermelha. Às 18h, no mesmo local, começa a reunião do Movimento Pela Legalização da Maconha. No domingo, dia 27, às 16h20, é a vez do Coletivo de São Vicente (SP) se reunir em frente ao teleférico na Praia de Itacaré.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Grande evento em Niterói RJ - Avante pela discussão, avante pela legalização!

O movimento Marcha da Maconha de Niterói - RJ tem sido bastante ativo na mobilização antiproibicionista. Resultado desta nova organização é o evento "Semana Verde" que ocorrerá em Niterói dos dias 07 a 14 de Abril, contanto com nomes como Lúcia Karam, Orlando Zaccone e Thiago Rodrigues.


Não há dúvidas da importância de um tal evento no Estado do Rio de Janeiro, tantas vezes deficiente nas discussões acadêmicas da política de drogas. O evento vem, certamente, em boa hora.


Abaixo segue o cronograma e a chamada.



Esse ano ocorrerá a primeira Marcha em Niterói em 15 de Maio. Mas além desse espaço de manifestação, o coletivo vai oganizar uma semana de debates com a sociedade e formação dos militantes do antipoibicionismo. A Semana Verde ocorrerá de 09 a 15 de Abril, nos prédios da UFF e da Candido Mendes.


Programação da Semana Verde - de 07 a 14 de Abril em Niterói



- Dia 07/04, quinta-feira, às 21:00 hrs Cantareira
panfletagem, Falcatrua, batalha de MC´s e oficina produção de cartazes e textos.



- Dia 09/04, sábado, às 15:00 hrs Praia de Itacoatiara
panfletagem com todos vertidos de verde.



- Dia 10/04, domingo, às 16:20 hrs Praia de Icaraí
panfletagem com todos vestidos de verde e o Bloco Planta Na Mente.



- Dia 11/04, segunda-feira, às 18:00 hrs Faculda de Direito da UFF
Palestra Os danos da proibição e a necessidade da legalização
Maria Lúcia Karam, juíza, LEAP Brasil;
Orlando Zaccone, delegado de Policia Civil, LEAP Brasil.



- Dia 12/04, terça-feira, às 18:00 hrs Campus UFF Comunicação (IACS)
Exibição do Filme “Cortina de Fumaça”



- Dia 13/04, quarta-feira, às 19:00 hrs Cândido Mendes Niterói
Debate: Drogas: A proibição que não surte efeito
André Nicolit, juíz, LEAP Brasil



- Dia 14/04, quinta-feira, às 18:00 hrs Campus UFF História(Gragoatá)
Palestra Proibição do que? Um debate sobre a legalização da maconha
Renato Cinco, sociólogo, organizador do MLM (Movimento pela Legalização da Maconha);
André Barros, advogado da Marcha da Maconha do Rio e organizador do MLM;
Luiz Paulo Guanabara, membro da ong Psicotrópicos;
Thiago Rodrigues, prof. Ciência Política da UFF.
e FESTA VERDE - Legalize Já

domingo, 20 de março de 2011

Pesquisa indica: Brasileiro é contra usuário de drogas fazer tratamento compulsório

Em pesquisa realizada pelo Portal de Notícias do Senado Federal, a proposta macabra do reacionário deputado de fazer um tratamento obrigatório a todo usuário de "drogas" (leia-se, substâncias psicoativas tornadas ilícitas), foi rechaçada pela comunidade civil.

Os resultados estão no link abaixo:


Você é a favor ou contra a proposta que obriga o usuário de drogas a fazer tratamento em clínica de recuperação (PLS 111/2010)?


E você leitor, o que acha da proposta do sujeito?

- Em breve faremos a análise do projeto

Abraços enteogenicos

sábado, 19 de março de 2011

De Testemunha a Acusado: Minha participação na Audiência do caso “Moqueca” !

De Testemunha a Acusado: Minha participação na Audiência do caso “Moqueca” !



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Na última quinta-feira (11/03) estive em Guarapari, no Espirito Santo, participando pela primeira vez de uma Audiência Judicial, na qualidade de testemunha. Estive a disposição para responder perguntas feitas pelo Juíz, pelo advogado de defesa e pelo promotor do caso. É a primeira vez que um antropólogo foi convocado para prestar testemunho num caso envolvendo um cultivador de cannabis. Essa é uma prática bastante comum em outros processos. Diversos antropólogos já participaram de processos envolvendo comunidades indígenas, quilombolas, dentre outras – em geral em casos de disputa por posse de terra ou reconhecimento identitário. Nesses casos, a função do antropólogo tem sido a de servir como um “mediador cultural”, facilitando a compreensão das culturas “nativas”, por parte dos operadores do Direito. Também é muito comum nos E.U.A e em alguns países da Europa a figura do especialista sobre cannabis qualificado para cortes que, em geral, atuam trazendo esclarecimentos a respeito das práticas de cultivo, estimativas de colheitas, análises do rendimento da estufa, dentre outras questões. Nesse caso específico, cumpri dupla função, atuando como antropólogo, já que realizei a única pesquisa brasileira sobre usuários que cultivam para consumo próprio, e como especialista em cultivo de cannabis. Como antropólogo, procurei esclarecer a respeito da cultura do cultivo de cannabis para uso pessoal e, como especialista em cultivo, procurei levar dados a respeito das expectativas de rendimento da colheita, bem como uma análise da situação na qual o acusado foi flagrado.





O caso em questão é bastante complicado, pois o cultivador está sendo acusado de envolvimento com um grupo que, de fato, praticava o comércio não-autorizado de maconha. No entanto, conforme todas as informações recolhidas até o momento, não há qualquer indício do seu envolvimento com tal grupo. A namorada do cultivador procurou primeiramente os usuários do fórum Cannabis Café, onde ele possuia um diário no qual pretendia relatar o 
desenvolvimento do seu cultivo. Posteriormente, procurou os usuários do Growroom, para que, juntos, todos pudessem trabalhar para ajudá-la a fazer com que a Lei 11.343 fosse cumprida da forma correta e o Alexandre (Moqueca) pudesse voltar à liberdade.



Das 4 testemunhas de acusação, 1 faltou e, por isso, o promotor solicitou o adiamento da audiência para o dia 6 de abril. O advogado de defesa pediu então que ao menos eu fosse ouvido, por ter ido de um estado distante e não poder ir novamente no dia 6. Após uma longa negociação, foi acordado que eu seria ouvido antes do fim da audiência.


terça-feira, 15 de março de 2011

Seminário de Redução de Danos no Rio de Janeiro


Muita gente boa se apresentando. Vale a pena o seminário. Estarei lá e volto com minhas considerações sobre o Seminário e as questões colocadas pelos palestrantes - ou, ao menos, alguns deles.

Cannabis é enteogenica ou não?


Bem,  após este longo intervalo do carnaval, vamos voltar a ativa.. Este post foi produzido no carnaval, numa lan house, sem word e os méritos da organização do texto e iconica fica pela equipe a frente na organização do hempadão. 
Vamos ao post.
Portas da Percepção: A Cannabis é Enteogênica ou não?

quinta-feira, 10 de março de 2011

por Fernando Beserra

Após inacreditáveis críticas pelo relato do uso da salvia divinorum no último post, não poderíamos nos colocar um pé atrás em relação aos posts polêmicos. Resolvemos nos colocar no front da querela entre usuários de cannabis e enteogenistas e perguntar: Afinal, é a maconha um enteógeno?

Sabemos das dificuldades de determinar a origem da cannabis, embora fique claro que seus múltiplos usos remontem há, pelo menos, 10.000 anos. Não estamos aqui para discutir arqueologia, como os restos de fibra de cânhamo encontrados na China no quarto milênio a.C, ou se, de fato, o primeiro uso visando a alteração de consciência se deu no segundo milênio a.C no Atharva-Veda, quando já era considerada uma das cinco plantas sagradas da Índia. O que importa hoje, aqui e agora, é introduzir ou adentrar nos usos religiosos, introspectivos ou que visem ou visaram o auto-conhecimento ou o conhecimento de realidades extra-ordinárias. Em suma, seguindo as belas palavras de Walter Benjamin, falamos das "vivências de inspiração".


Para tal discussão, nos aconcheguemos na roda, e deixemos a fumaça baixar – ou subir. O uso da cannabis, ao longo da história, é múltiplo, isto é, serviu tanto para promover "atitudes lúdicas" quanto "formas de aprofundar a comunicação" (1). É evidente a maioria dos usuários que a cannabis promova, facilite ou induza a ambos: o uso recreativo e o uso visionário. O Dr. Charles Tart realizou um estudo pretendendo uma "fenomenologia do uso da maconha". Dentro das experiências comuns relatadas nos questionários por usuários, encontramos:

- Pulo de etapas intermediárias na resolução de problemas
- Insights sobre outras pessoas
- Idéias mais intuitivas
- Conversar inteligentemente, embora esqueça coisas
- Aprender muito sobre o que faz as pessoas funcionarem
- Falar coisas mais profundas, apropriadas
- Intuir, entendimento empático das pessoas
- No amor sexual, uma união dos espíritos, tal como dos corpos
- Diminui inibição
- A mente se sente mais eficiente em resolução de problemas
- Sentir-se um com o mundo
- Eventos, ações tornam-se arquetípicos (2)

A religião védica venerou a planta, fornecendo-lhe a pompa das belas palavras: "fonte de felicidade e de vida". As tradições bramânicas posteriores
consideraram que seu uso "agiliza a mente, concede saúde, valor e potência sexual"². De acordo com Escohotado, também possui um enorme valor dentro do budismo para a medicação transcendental. Estou certo de que o uso com esta última finalidade é, para os já acostumados a prática meditativa, e que se dão bem com a erva, um excelente auxiliador e, dependendo da qualidade da planta, pode levar a experiências equalizáveis a qualquer outro enteógeno de maior potência.

Embora o uso da cannabis tenha sofrido um eclipse no ocidente nas culturas cristãs (pós-gregas e romanas), seu uso manteve-se na África, Ásia Menor e Ásia Maior, sendo um "remédio dos mais versáteis, um veículo de meditação para xamãs, faquires, iogues e dervixes, e uma droga recreativa para diversos extratos sociais" (3)

Daí sua enorme importância nos meios Sufis, Rastafaris, no budismo, na contracultura psicodélica, no "club des haschischins", etc. Sendo tal sua história não é de estranhar que encontremos a maconha nos principais livros sobre enteógenos, tais como: "Las planta de los dioses", "Pharmacotheon", "Psychedelics Encyclopedia", etc, etc. Embora a cannabis seja um psicodélico sutil, como a chama Sttaford, não existem dúvidas quanto a suas capacidades para ampliação da consciência e contato com uma realidade numinosa, dependendo fortemente dos usuários, suas intenções e a preparação do cenário. O uso introspectivo se potencializa, sem dúvidas, quando é feito fora das famosas rodas de fumo e requer do usuário uma atenção não usual, senão uma verdadeira preparação. Isso não exclui, é claro, vislumbres intempestivos, que emergem, mesmo sem o controle voluntário do usuário.

E, aos leitores, fica a pergunta: Já tiveram experiências com o sagrado usando cannabis?

Abraços enteogênicos.

1 - ESCOHOTADO, Antonio. O livro das drogas. p.205.
2 - STAFFORD. Psychodelic Encyclopedia.
3 - ESCOHOTADO, op.cit
4 - Op.cit