terça-feira, 15 de março de 2011

Cannabis é enteogenica ou não?


Bem,  após este longo intervalo do carnaval, vamos voltar a ativa.. Este post foi produzido no carnaval, numa lan house, sem word e os méritos da organização do texto e iconica fica pela equipe a frente na organização do hempadão. 
Vamos ao post.
Portas da Percepção: A Cannabis é Enteogênica ou não?

quinta-feira, 10 de março de 2011

por Fernando Beserra

Após inacreditáveis críticas pelo relato do uso da salvia divinorum no último post, não poderíamos nos colocar um pé atrás em relação aos posts polêmicos. Resolvemos nos colocar no front da querela entre usuários de cannabis e enteogenistas e perguntar: Afinal, é a maconha um enteógeno?

Sabemos das dificuldades de determinar a origem da cannabis, embora fique claro que seus múltiplos usos remontem há, pelo menos, 10.000 anos. Não estamos aqui para discutir arqueologia, como os restos de fibra de cânhamo encontrados na China no quarto milênio a.C, ou se, de fato, o primeiro uso visando a alteração de consciência se deu no segundo milênio a.C no Atharva-Veda, quando já era considerada uma das cinco plantas sagradas da Índia. O que importa hoje, aqui e agora, é introduzir ou adentrar nos usos religiosos, introspectivos ou que visem ou visaram o auto-conhecimento ou o conhecimento de realidades extra-ordinárias. Em suma, seguindo as belas palavras de Walter Benjamin, falamos das "vivências de inspiração".


Para tal discussão, nos aconcheguemos na roda, e deixemos a fumaça baixar – ou subir. O uso da cannabis, ao longo da história, é múltiplo, isto é, serviu tanto para promover "atitudes lúdicas" quanto "formas de aprofundar a comunicação" (1). É evidente a maioria dos usuários que a cannabis promova, facilite ou induza a ambos: o uso recreativo e o uso visionário. O Dr. Charles Tart realizou um estudo pretendendo uma "fenomenologia do uso da maconha". Dentro das experiências comuns relatadas nos questionários por usuários, encontramos:

- Pulo de etapas intermediárias na resolução de problemas
- Insights sobre outras pessoas
- Idéias mais intuitivas
- Conversar inteligentemente, embora esqueça coisas
- Aprender muito sobre o que faz as pessoas funcionarem
- Falar coisas mais profundas, apropriadas
- Intuir, entendimento empático das pessoas
- No amor sexual, uma união dos espíritos, tal como dos corpos
- Diminui inibição
- A mente se sente mais eficiente em resolução de problemas
- Sentir-se um com o mundo
- Eventos, ações tornam-se arquetípicos (2)

A religião védica venerou a planta, fornecendo-lhe a pompa das belas palavras: "fonte de felicidade e de vida". As tradições bramânicas posteriores
consideraram que seu uso "agiliza a mente, concede saúde, valor e potência sexual"². De acordo com Escohotado, também possui um enorme valor dentro do budismo para a medicação transcendental. Estou certo de que o uso com esta última finalidade é, para os já acostumados a prática meditativa, e que se dão bem com a erva, um excelente auxiliador e, dependendo da qualidade da planta, pode levar a experiências equalizáveis a qualquer outro enteógeno de maior potência.

Embora o uso da cannabis tenha sofrido um eclipse no ocidente nas culturas cristãs (pós-gregas e romanas), seu uso manteve-se na África, Ásia Menor e Ásia Maior, sendo um "remédio dos mais versáteis, um veículo de meditação para xamãs, faquires, iogues e dervixes, e uma droga recreativa para diversos extratos sociais" (3)

Daí sua enorme importância nos meios Sufis, Rastafaris, no budismo, na contracultura psicodélica, no "club des haschischins", etc. Sendo tal sua história não é de estranhar que encontremos a maconha nos principais livros sobre enteógenos, tais como: "Las planta de los dioses", "Pharmacotheon", "Psychedelics Encyclopedia", etc, etc. Embora a cannabis seja um psicodélico sutil, como a chama Sttaford, não existem dúvidas quanto a suas capacidades para ampliação da consciência e contato com uma realidade numinosa, dependendo fortemente dos usuários, suas intenções e a preparação do cenário. O uso introspectivo se potencializa, sem dúvidas, quando é feito fora das famosas rodas de fumo e requer do usuário uma atenção não usual, senão uma verdadeira preparação. Isso não exclui, é claro, vislumbres intempestivos, que emergem, mesmo sem o controle voluntário do usuário.

E, aos leitores, fica a pergunta: Já tiveram experiências com o sagrado usando cannabis?

Abraços enteogênicos.

1 - ESCOHOTADO, Antonio. O livro das drogas. p.205.
2 - STAFFORD. Psychodelic Encyclopedia.
3 - ESCOHOTADO, op.cit
4 - Op.cit

3 comentários:

Anarcofagico disse...

Esse "fenomenologia do uso da maconha"serve muito pra rebater os bêbados nas discussões de melhor droga.

Abraço!

Fernando Beserra disse...

rs

Bem, pelo menos elas são bem diferentes.

Abraço

Anônimo disse...

Nunca tive contato com o divino com a canabis. Só com o micélio.

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