por Fernando Beserra
Fonte: Hempadão (outras imagens: Enteogenico)
Se a arte contemporânea muitas vezes se expressa em “actings” ou “performances”, por vezes libertas das opressões econômicas ou sócio-políticas, por outro lado, em alguns momentos temos a impressão que estas performances são espetáculos que procuram se eximir de suas importâncias sócio-políticas e espirituais, isto é, do destino de nossa cultura e humanidade. A representação coletiva do artista hoje se assemelha a ambivalente figura do trickster, um brincalhão, além do bem e do mal, um artista isolado e individualista.

Um dos vários métodos de alcançar as visões da arte visionária não poderia deixar de ser o uso de enteógenos, ou, como prefere chamá-los – por vezes – Antonio Escohotado: “Substâncias visionárias”. De acordo com Alex Grey: “Substancias como LSD tendem a catalizar o estado visionário, mas também podem abrir o acesso as dimensões infernais e aos mundos celestiais”. Esta procura na arte visionária dos estados invulgares foi chamada de “misticismo experimental”, abrindo acesso a experiência pessoal de forças transcendentes que podem vir a ampliar ou linkar a consciência ao próprio espírito criativo. O próprio Grey faz a advertência a artistas de personalidades “borderline”, que procurem evitar este tipo de substâncias e desestabilizações químicas. Por outro lado, o uso de psiquedélicos democratizou o acesso a reinos transpessoais da psique e pode ser considerado, hoje, um dos meios de abertura de visões menos materialistas e reducionistas da realidade hipercomplexa, sem a perda da visão crítica a dominação do homem pelo homem, ou, de modo ainda mais amplo, a destruição ambiental.
Para fecharmos o post de hoje, podemos lembrar que com o foco no coração, a arte visionária contemporânea tem procurado romper o fetiche ao obscuro e a tragédia, de cunho tão existencial, e propor visões mais positivas as possibilidades de renovação pessoal, social e espiritual para o nosso “holoverso”. Entrementes, parece necessário, mais do que nunca, abrir a possibilidade de encher nosso tantas vezes decrépito mundo de vida e alma. A frase de Kandinsky expressa bem este sentimento:
"Tudo que está morto palpita. Não apenas o que pertence a poesia, às estrelas, à lua, aos bosques e às flores, mas também um simples botão branco de calça a cintilar na alma da rua. Tudo possui uma alma secreta, que se cala mais que fala."
[1] - GREY, Alex. The Mission of Art.
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