sábado, 22 de outubro de 2011

Uma Visão Xamã - Parte I

Fonte: Hempadão
por Chaos Baby


Caminhando num parque com um amigo, conversávamos alegremente a respeito dos xamãs que usam enteógenos, como a Ayahuasca, com grande frequência e eu não pude deixar de observar que muitos de nós, talvez por uma questão de estarmos desacostumados com fortes experiências espirituais, não temos realmente um grande preparo para fortes doses de enteógenos, ou para um contínuo trabalho transformacional, ou melhor, um uso contínuo dos mesmos, como suportam os grandes xamãs ou as pessoas de fato mais preparadas para experimentar diversos tipos de realidades perceptivas. E tocar nesse assunto no final de semana me fez lembrar de que quando Castañeda pediu para Dom Juan para lhe apresentar o Peyote, o mesmo simplesmente lhe respondeu:


“Não. Porque você não conhece seu íntimo. O importante é você saber exatamente por que quer envolver-se.” – Erva do Diabo – Carlos Castañeda.



Não estou, com isso, pretendendo desencorajar o desenvolvimento espiritual das pessoas por meio dos enteógenos, mas mostrar que é necessário um preparo adequado e ter em mente a responsabilidade perante o poder divino das plantas. Pretendo não soar por demais negativa, aliás, vemos muito frequentemente que não apenas uma experiência espiritual pode ser sentida, como também em estado alterado de consciência podemos ter um foco sobre estados de espírito, como se ele tivesse simplesmente ampliado, então podemos nesses estados de percepção entrar simplesmente em estados de alegria intensa, ou medo, ou prazer, ou sofrimento, ou liberação, contemplação, enfim, tudo o que já conhecemos em termos emocionais e estados mentais em nosso cotidiano pode ser experimentado de uma forma mais intensa e ampla durante uma viagem. Porém, podemos ir além e é interessante nos lembrarmos de que as portas para outros mundos e outras realidades também são abertas e podemos perceber algo extraordinário, completamente fora do que estamos acostumados.


Carlos Castañeda escreveu bastante a respeito do mundo espiritual e as mudanças que são realizadas no homem a partir de uma abertura espiritual e mental com o auxílio dos enteógenos. Ele explicou uma divisão que existe entre o mundo da percepção comum e um novo mundo totalmente desconhecido que pode ser percebido e reconhecido, ainda que pouco ou nada compreendido, por meio das experiências psicodélicas, entre outras práticas e treinamentos de fundo espiritual. Eles podem ser percebidos devido a uma mudança de alinhamento do que chama “ponto de aglutinação” ou para um melhor entendimento foco de atenção/percepção ou foco de consciência. Castañeda afirma que recebeu seus ensinamentos de um índio yaqui que acabou o iniciando no caminho do xamanismo, ao qual em seus livros é conhecido como Dom Juan Matus. Dentro desse ensinamento podemos encontrar uma explicação a respeito das diferentes percepções, pois o autor afirma que, como aprendeu com seu mestre Dom Juan, o mundo não é apenas composto com as coisas e objetos que nos saltam a vista, mas que é um mundo constituído por campos de energia. A esses campos de energia o autor dá o nome de “Emanações da Águia”, que é de fato a única realidade transcendental. Ou seja, de uma forma bem mais simples, nas palavras de Shakespeare: “Existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”.


Voltando a Castañeda, essas emanações estão agrupadas em aglomerados ou bandas que constituem mundos diferentes entre si. Ideia que nós também podemos encontrar dentro da mecânica quântica em teorias a respeito do Multiverso. O cientista Michio Kaku defende a teoria das cordas, assim diz que tudo é vibração. Ele mesmo fala a respeito desses multiversos como universos paralelos e simultâneos. Porém, o que nos importa aqui é que o mesmo cientista também nos lembra que: “A ciência hoje descreve cenários já antecipados pela mística: outros planos, outras dimensões”.


Certo, vamos parar por aqui com a ciência e voltamos para o Xamanismo. Víctor Sánchez explica esses ensinamentos do Xamanismo Tolteca e as diferentes realidades muito bem em seu livro “Os Ensinamentos de Dom Juan”, onde podemos encontrar uma explicação simples e magnífica para o que eu estou pretendendo mostrar dentro desse artigo:


“Dom Juan fala da existência de 48 grandes bandas de emanações, das quais são acessíveis ao homem durante sua percepção ordinária. Uma é a banda onde se encontra agrupada a vida orgânica e a outra é uma banda que contem estruturas sem consciência, presumivelmente os vegetais, gases, líquidos, etc. Dentro da banda de emanações dos seres orgânicos, existe uma faixa em particular que se refere à banda do homem e que determina os limites estreitos da percepção do conhecido. Na medida em que cada pessoa não alinha todas as emanações da banda do homem, existem pequenas variações nas possibilidades de percepção de pessoa para pessoa, as que são geralmente interpretadas como casos de sensibilidade especial, percepção extra-sensorial, fenômenos psíquicos, genialidade, etc., ou como casos de: insuficiência, retardo mental, estupidez, insensibilidade, etc.”

1 comentários:

Anônimo disse...

excelente!

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