sábado, 7 de maio de 2011

Na véspera da Marcha da Maconha, LEAP prega legalização de todas as drogas

Na véspera da Marcha da Maconha, a organização internacional Leap, formada por policiais e membros da Justiça, prega a legalização de todas as drogas

Marcha da Maconha de 2009, em Ipanema. Foto: Marcelo Piu
RIO – A Marcha da Maconha está programada para rolar neste sábado (7), às 14h, partindo do Jardim de Alah, em Ipanema. Como sempre, a manifestação provoca fortes reações – contrárias ou favoráveis à causa. Uma das vozes que defendem a passeata, a LEAP (aplicação da lei contra a proibição, na sigla em inglês), entidade americana criada, há nove anos, por cinco policiais aposentados, vai muito além e prega a liberação de todas as drogas.
Hoje, a LEAP tem braços em cerca de 80 países – sendo, um deles, o Brasil – e mais de 20 mil membros no mundo, todos eles integrantes das forças policiais ou da Justiça criminal, ou seja, pessoas que lidam diretamente com a guerra às drogas. Por aqui, já são 135, entre apoiadores e membros, desde janeiro, quando a LEAP Brasil se tornou mais ativa.
Os membros da entidade acreditam que, para reduzir o tráfico, os índices de dependência química e ainda preservar o dinheiro dos impostos, é preciso pôr fim à proibição às drogas. É um tema espinhoso, capaz de inflamar, principalmente, os ânimos de muitas pessoas que ainda não aceitam discutir a legalização nem da maconha. Mas, na visão da LEAP, um sistema de regulação seria mais eficaz do que a proibição.

Conversamos com a porta-voz da LEAP no Brasil, a juíza aposentada Maria Lucia Karam, sobre as principais propostas da organização. Segundo ela, a legalização não aumentaria o número de usuários e, num cenário sem proibição de drogas, os traficantes “se tornariam comerciantes, como outros quaisquer, e não sentiriam mais a necessidade de andar armados”.
A juíza aposentada Maria Lucia Karam. Foto: arquivo pessoal
O GLOBO: Por que não legalizar apenas a maconha, como muitos defendem?
MARIA LUCIA KARAM: Isso reproduziria uma divisão artificial entre as substâncias, assim como existe hoje, com o álcool sendo separado do restante. As outras drogas se manteriam no mercado, então os danos permaneceriam: o tráfico de drogas, de armas e a corrupção policial.
Por que combater a proibição e não as drogas?
MARIA LUCIA: A proibição causa mais danos do que as drogas em si, porque ela que gera violência. O mercado do álcool e do tabaco se desenvolve sem que a sua produção ou distribuição acabem em mortes.
Há o temor de que a legalização faça com que o número de usuários aumente?
MARIA LUCIA: Não, pois os fatos provam o contrário. O percentual de adolescentes que usam maconha na Holanda, onde a droga é tolerada em locais específicos, é menor do que nos Estados Unidos, que tem uma política forte antidrogas. Já na Suíça, não existe uma morte por overdose desde que foi implantado um programa de tratamento de dependentes de heroína no qual o governo fornece a droga gratuitamente em salas de consumo seguro.
Nesse novo modelo, o que aconteceria com os traficantes?
MARIA LUCIA: Se tornariam comerciantes, como outros quaisquer, e não sentiriam mais a necessidade de andar armados. Mas é claro que isso só aplica aos que não cometeram outros crimes associados, como assassinato ou porte ilegal de armas, que cumpririam suas penas normalmente. Já o dinheiro que é gasto nessa guerra (nos EUA, são US$ 70 bilhões por ano), somado aos impostos coletados pela atividade comercial, poderia ser empregado de forma melhor.
Para a LEAP, qual o maior engano da política atual?
MARIA LUCIA: Achar que proibir as drogas é controlá-las, quando, na verdade, o mercado ilegal é descontrolado. A legalização é única forma de regular o mercado e também a qualidade da droga.
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